A crise climática é uma crise de direitos das crianças
A crise climática é uma crise de direitos das crianças
Crianças são mais vulneráveis a choques climáticos e ambientais do que adultos
A crise climática é o que define o desafio dos direitos humanos dessa geração, e já está tendo um impacto devastador no bem-estar das crianças ao redor do globo.
Entender onde e como crianças são vulneráveis de uma maneira única a essa crise é crucial para endereçá-la. O Index de risco climático para as crianças apresenta a primeira visão abrangente acerca da exposição das crianças e sua vulnerabilidade aos impactos da mudança climática com o objetivo de ajudar a priorização da ação para aqueles que mais estão em risco, e, finalmente, assegurar que as crianças de hoje herdem um planeta habitável.
Estamos enfrentando e cruzando os principais limites planetários
Estamos cruzando os principais limites do sistema natural da Terra, incluindo a mudança climática, perda de biodiversidade, e aumentando os níveis de poluição no ar, solo, água e oceanos. Os perigos do clima e do meio ambiente, choques e estresses já estão causando impactos devastadores no bem-estar das crianças ao redor do mundo.
Na medida em que esses limites são violados, o delicado equilíbrio natural, o qual a civilização humana dependeu para crescer e prosperar, também o é. As crianças do mundo não podem mais contar com essas condições e devem fazer seu caminho em um mundo que se tornará demasiado perigoso e incerto nos próximos anos.
Utilizando dados geográficos de alta resolução, esse relatório apresenta nova evidência global de quantas crianças estão atualmente expostas à uma variedade de perigos climáticos e ambientais, choques e estresses:
Eventos de início repentino e moderadamente repentino:
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820 milhões de crianças (mais de um terço do total de crianças no mundo) estão atualmente expostas às ondas de calor. É provável que a situação se agrave, na medida em que a temperatura média da Terra aumenta e padrões climáticos se tornam mais erráticos. O ano de 2020 ficou empatado como o ano mais quente já registrado.
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400 milhões de crianças (aproximadamente 1 a cada 6 crianças no mundo) estão atualmente expostas a ciclones. É provável que a situação se agrave, na medida em que ciclones de alta intensidade (isto é, Categorias 4 e 5) aumentaram em frequência, aumentando a intensidade de precipitações, e que faz com que os padrões de ciclone mudem.
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330 milhões de crianças (1 a cada 7 crianças no mundo) estão atualmente altamente expostas à inundações fluviais. É provável que a situação se agrave, na medida em que as geleiras derretem e as precipitações aumentam, devido ao alto teor de água na atmosfera, que é resultado de maiores temperaturas médias.
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240 milhões de crianças (1 a cada 10 crianças no mundo) estão atualmente altamente expostas à inundações costeiras. É provável que a situação se agrave, ao passo que os níveis do mar continuam aumentando, com os efeitos consideravelmente ampliados quando combinados com tempestades.
Mudanças de início lento:
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920 milhões de crianças (mais de um terço das crianças no mundo) estão atualmente altamente expostas à escassez de água. É provável que a situação se agrave, na medida em que a mudança climática aumenta a frequência e severidade de secas, estresse hídrico, variedade sazonal e interanual – e a demanda por água aumenta, resultando na depleção de corpos aquíferos subterrâneos.
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600 milhões de crianças (mais de 1 a cada 4 crianças no mundo) estão atualmente altamente expostas à doenças transmitidas por vetores, como malária e dengue, entre outras. É provável que a situação se agrave, com a adequação da temperatura e condições climáticas para que mosquitos e patógenos que transmitem doenças se espalhem.
Degradação ambiental e estresses:
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2 bilhões de crianças (quase 90% das crianças no mundo) estão atualmente altamente expostas à poluição do ar que excede 10µg/m3. É provável que a situação se agrave a menos que haja uma redução da queima de combustíveis fósseis, que causam poluição no ar.
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815 milhões de crianças (mais de um terço da população mundial de crianças) estão atualmente altamente expostas à poluição de chumbo devido a exposição ao ar, água, solo e comida contaminados. É provável que essa situação se agrave sem produção e consumo responsáveis e reciclagem de produtos relacionados com o chumbo.
Crianças são mais vulneráveis a choques climáticos e ambientais do que adultos por várias razões:
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Elas são fisicamente mais vulneráveis, e menos capazes de suportar e sobreviver choques como inundações, secas, clima severo e ondas de calor.
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Elas são fisiologicamente mais vulneráveis; substâncias, como chumbo e outras formas de poluição afetam crianças mais do que adultos, mesmo que haja menores doses de exposição.
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Elas estão em maior risco de morte quando comparadas com adultos por doenças que são provavelmente exacerbadas pela mudança climática, como malária e dengue.
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Elas têm suas vidas inteiras pela frente – qualquer privação como resultado da degradação climática e ambiental que são expostas quando jovens pode resultar em uma vida inteira de oportunidades perdidas.
Esse relatório também examina pela primeira vez como muitas crianças vivem em áreas onde experienciam múltiplos perigos climáticos e ambientais sobrepostos.
Um aspecto particularmente preocupante sobre esses perigos é que eles se sobrepõem. Esses perigos climáticos e ambientais, choques e estresses não ocorrem isolados. Secas, inundações e clima severo, somados a outros estresses ambientais, compõem um ao outro. Esses perigos podem não somente se exacerbarem mutuamente, mas também marginalizar bolsões da sociedade e aumentar a desigualdade. Eles também interagem com outros riscos sociais, políticos e de saúde, incluindo o COVID-19. Perigos sobrepostos podem em última instância tornar certas partes do mundo em lugares ainda mais precários e arriscados para crianças – diminuindo drasticamente seu potencial futuro.
Informações chave para perigos sobrepostos:
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Quase todas as crianças do mundo (>99 por cento) estão expostas a pelo menos um desses perigos climáticos e ambientais, choques e estresses
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2.2 bilhões de crianças estão expostas a pelo menos dois dos principais perigos climáticos e ambientais, choques e estresses
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1.7 bilhões de crianças estão expostas a pelo menos três dos principais perigos climáticos e ambientais, choques e estresses que se sobrepõem
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850 milhões de crianças estão expostas a pelo menos quatro desses perigos climáticos e ambientais, choques e estresses
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330 milhões de crianças estão expostas a pelo menos cinco desses principais perigos climáticos e ambientais, choques e estresses que se sobrepõem
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80 milhões de crianças estão expostas a pelo menos seis desses perigos climáticos e ambientais, choques e estresses
Globalmente, aproximadamente 1 bilhão de crianças (cerca de metade da população infantil mundial) vivem em países de risco extremamente alto, de acordo com o CCRI.
Além disso:
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Os lugares de maiores riscos na Terra são os que menos contribuem para as causas da mudança climática – os 33 países de risco extremamente alto emitem menos de 10 por cento do total dos gases de efeito estufa do mundo. Os 10 países de risco extremamente alto emitem apenas 0.5 por cento das emissões globais.
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Quase todos (29 de 33) países de risco extremamente alto são também considerados de contextos frágeis
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Um quarto (8 de 33) dos países de risco extremamente alto tem níveis altos de desalojamento – com mais de 5 por cento da população desalojada
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Nenhum dos países de risco extremamente alto tem pontuação alta (>80 por cento) na adoção e implementação da Estratégia Nacional de Redução de Risco de Desastres (DRR), alinhada com a Estrutura Sendai
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Apenas 40 por cento dos países de risco extremamente alto mencionaram crianças e/ou jovens em suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs)
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Os países de risco extremamente alto receberam apenas $9 bilhões em termos de fluxo financeiro global, majoritariamente na forma de Assistência Oficial de Desenvolvimento (ODA), em pesquisa de energia limpa, desenvolvimento e produção
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A maioria (28 de 33) dos países de risco extremamente alto tem cobertura muito baixa de estações de monitoramento da qualidade do ar ao nível do solo – menos de 10 por cento da população infantil mora a 50km de uma estação de monitoramento
A única solução a longo prazo para a mudança climática é a redução da emissão de gases de efeito estufa.
* Para acessar o relatório “Children’s Climate Risk Index (CCRI)” clique no link https://www.unicef.org/media/105376/file/UNICEF-climate-crisis-child-rights-crisis.pdf
** Informe da UNICEF, com edição de Henrique Cortez
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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