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Educação e Ecologia Integral: uma real utopia?

 

artigo de opinião

Educação e Ecologia Integral: uma real utopia?

É indiscutível a importância da Ecologia Integral no processo de inauguração de um novo milênio, verdadeiramente comprometido com as causas humanas e ambientais

Por Vagner Luciano Coelho de Lima Andrade12

 

A Ecologia Integral é uma nova visão de mundo baseada numa análise integrada e holística do ser humano, associado à sociedade e a natureza, como urgente resposta a fragmentação e globalização presentes no mundo moderno. A Ecologia Integral chama a atenção da sociedade para a existência das três ecologias, das três casas, que fazem parte da vida individual, coletiva e planetária de cada indivíduo:

  • A ecologia pessoal: 1a casa, morada das emoções, espiritualidade, corpo e mente;
  • A ecologia social: 2a casa, morada compartilhada com o outro, e com a sociedade;
  • A ecologia ambiental: 3a casa, morada planetária, fruto e presença de um dom supremo: a Vida.

A Ecologia Pessoal baseia-se no incentivo contínuo à vivência de uma sábia individualidade como resposta contrária ao individualismo, marcante na sociedade atual. Seu principal objetivo é orientar cada ser humano no aprofundamento de si mesmo, suas qualidades, anseios, dúvidas e vontades, levando-o ao verdadeiro auto-conhecimento e a descoberta de respostas primordiais para sua inserção enquanto ser atuante no mundo. Um verdadeiro e sadio sentimento de amor próprio, onde cada indivíduo possa se amar e se valorizar como manifestação única da vida. Uma vida com qualidade só tem inicio a partir do comprometimento de cada um consigo mesmo e somente uma verdadeira valorização de ser humano em sua essência é que poderá ampliar as outras percepções ecológicas.

Como alguém que não gosta de si mesmo poderá gostar dos outros ou se maravilhar diante das inúmeras manifestações da vida.

Cada pessoa deve ser convocada à celebração diária do dom precioso da vida, convidando-a a contemplação através do movimento. Por isso, numa sociedade perdida, da luta e às vezes, da fuga, a frase “diga não ao sedentarismo” deve ser constantemente incentivada, bem como paralelamente a isso, deve-se também destacar a importância da respiração em meio a um mundo do estresse, valorizando o ar, indispensável à manutenção da vida.

Repensar a importância dos elementos naturais para a vida humana, à água e alimentação diária pode trazer consideráveis reflexões sobre o desperdício tão comum na sociedade de ricos e pobres, marcada pela triste realidade do “enquanto uns jogam foram, outros catam”. Os alimentos orgânicos, cultivados sem o uso de agrotóxicos, chamam a atenção para o envenenamento do organismo através da alimentação convencional, com suas inúmeras substâncias químicas que matam silenciosamente inúmeras pessoas.

Atenções devem ser direcionadas ao repouso e descanso, incentivando cada pessoa nos momentos livres a fazer o que gosta, o que dá prazer à alma, o que alimenta à essência interior. E se o prazer está associado ao lazer, este último precisa ser urgentemente repensado, pois infelizmente o lazer brasileiro, está ligado aos meios de comunicação de massa, comprometidos demasiadamente com a propagação das ideologias dominantes, do consumismo exagerado, da alienação, dominação, exclusão, insegurança e impotência.

A televisão, lamentavelmente tem contribuído para a negatividade, a descrença, a desvalorização, contrapondo-se a um modelo social verdadeiramente humano, por se tratar de um modelo de comunicação que não forma opiniões comprometidas com mudanças, com educação e com mentalidade transformadoras.

E por falar em mentalidade, tudo começa na mente, por isso num mundo de grandes questões que angustiam o ser humano, e medo do desconhecido, deve-se mentalizar coisas boas, dando-se a devida atenção às emoções, que são à base dos relacionamentos. Somente desta forma poderá ser exterminado do âmago da sociedade, sentimentos destrutivos como a raiva, que gera destruição, o medo e tristeza que geram apatia e comodismo. E por último aconselha-se a todos que tenham um grande sonho, algo que os motivem a cada dia a darem o melhor de si mesmos, pois afinal “é melhor ter sonhos, do que pesadelos”.

A Ecologia Social acontece quando cada ser humano se encontrar plenamente realizado, e interiormente preenchido, celebrando sua saudável individualidade, ele será capaz de perceber o outro como extensão de si mesmo, e extensão da preciosa vida e, portanto se sentirá chamado a buscá-lo para celebrar a comunhão e a partilha, resgatando o altruísmo e a filantropia. Ao celebrar sua existência, comungando e partilhando com seu próximo, algo de grandioso será impresso em sua alma: a necessidade e vontade de unirem esforços na construção de um mundo melhor, mais justo e harmônico, como resposta imediata ao modelo socioeconômico vigente.

A comunhão com o próximo exigirá o contínuo aprimoramento da atenção, da presença e da escuta, dando ênfase à solidariedade, à cooperação e à solução pacifica de conflitos. Neste contexto de vivência verdadeiramente coletiva, a simplicidade voluntária deve ser incentivada levando as pessoas a refletirem sobre o papel da mídia nos ditames capitalistas do consumo exagerado, evidenciando possíveis abismos existentes entre o desejo e a necessidade, levando-as a optarem pelo conforto essencial.

A ética, o respeito à diversidade cultural e a valorização da inclusividade, devem nortear a inauguração de um novo modelo social, pautado no resgate do direito à qualidade de vida e do compromisso com o próximo. Por outro lado, diante de tantas mazelas sociais, faz-se necessário a compaixão e o comprometimento diante do sofrimento alheio.

Mas para que haja verdadeira transformação, são necessárias atitudes e vivências individuais pautadas numa ação responsável, ou seja, “antes de falar é necessário fazer”, para que o processo tenha verdade e coerência.

A Ecologia Ambiental promove a reflexão e intencionado a formulação de um conceito pessoal acerca de como a percepção ambiental está diretamente relacionada com a qualidade de vida, tão almejada pelos humanos. A valorização da natureza, somente é possível se alicerçada numa base sólida constituída de elementos individuais e coletivos, elaborados numa concreta percepção da vida.

É necessário trazer ao imaginário, reflexões sobre verdadeiros índices de qualidade de vida associados a valores humanos que estão sendo exterminados a cada ano, em nome de um progresso dilacerador, dominador e excludente. Através dos mesmos nota-se que a sociedade tem perdido, em seu processo de avanço e expansão, a verdadeira essência humana em suas várias manifestações, sejam elas individuais, sociais ou planetárias.

É indiscutível a importância da Ecologia Integral no processo de inauguração de um novo milênio, verdadeiramente comprometido com as causas humanas e ambientais. E convidam cada um a refletir, pessoalmente, socialmente e ambientalmente, convidando-o a atuar como protagonista na construção deste tão sonhado e tão necessário mundo novo.

1 Educador e Mobilizador da Rede Ação Ambiental. Bacharel-licenciado em Geografia e Análise Ambiental (UNI-BH), Licenciado em História (UNICESUMAR) e especialista na área de Educação, Patrimônio e Paisagem Cultural (Filosofia da Arte e Educação, Metodologia de Ensino de História, Museografia e Patrimônio Cultural, Políticas Públicas Municipais). Licenciado em Ciências Biológicas (FIAR), Tecnólogo em Gestão Ambiental (UNICESUMAR) e especialista na área de Educação, Patrimônio e Paisagem Natural (Administração escolar, Orientação e Supervisão, Ecologia e Monitoramento Ambiental, Gestão e Educação Ambiental, Metodologia de Ensino de Ciências Biológicas). CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/3803389467894439
2 Guia de Turismo, Educador com atuação nas áreas de Patrimônio Cultural (Geógrafo/Historiador) e Patrimônio Natural (Biólogo/Gestor Ambiental). Mestre em Direção e Consultoria Turística. Membro da Rede Ação Ambiental. E-mail: reacao@yahoo.com
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394

 

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