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Formas de exposição aos agrotóxicos e principais efeitos na saúde

 

Formas de exposição aos agrotóxicos e principais efeitos na saúde

A exposição aos agrotóxicos pode causar uma série de doenças, dependendo do produto que foi utilizado, do tempo de exposição e quantidade de produto absorvido pelo organismo

Fonte: Instituto Nacional de Câncer – INCA

Agrotóxicos são produtos químicos sintéticos usados para matar insetos, larvas, fungos, carrapatos sob a justificativa de controlar as doenças provocadas por esses vetores e de regular o crescimento da vegetação, tanto no ambiente rural quanto urbano (BRASIL, 2002; INCA, 2021).

Estes produtos tem seu uso tanto em atividades agrícolas como não agrícolas. As agrícolas são relacionadas ao setor de produção, seja na limpeza do terreno e preparação do solo, na etapa de acompanhamento da lavoura, no deposito e no beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens e nas florestas plantadas. O uso não agrícola é feito em florestas nativas ou outros ecossistemas, como lagos e açudes, por exemplo.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) afirma que os agrotóxicos causam 70 mil intoxicações agudas e crônicas por ano e que evoluem para óbito, em países em desenvolvimento. Outros mais de sete milhões de casos de doenças agudas e crônicas não fatais também são registrados. O Brasil vem sendo o país com maior consumo destes produtos desde 2008 , decorrente do desenvolvimento do agronegócio no setor econômico, havendo sérios problemas quanto ao uso de agrotóxicos no país: permissão de agrotóxicos já banidos em outros países e venda ilegal de agrotóxico que já foram proibidos (CARNEIRO et al., 2015).

A exposição aos agrotóxicos pode causar uma série de doenças, dependendo do produto que foi utilizado, do tempo de exposição e quantidade de produto absorvido pelo organismo.

É importante considerar:

  • Toda a população está suscetível a exposições múltiplas a agrotóxicos, por meio de consumo de alimentos e água contaminados (CDC, 2009).
  • Gestantes, crianças e adolescentes também são considerados um grupo de risco devido às alterações metabólicas, imunológicas ou hormonais presentes nesse ciclo de vida (SARPA, 2010).

Formas de exposição

No trabalho:

  • Através da inalação, contato dérmico ou oral durante a manipulação, aplicação e preparo do aditivo químico (CDC, 2009).
  • Destacam-se os trabalhadores da agricultura e pecuária, de empresas desinsetizadoras, de transporte e comércio de agrotóxicos e de indústrias de formulação destes produtos (LONDRES, 2012).

No ambiente:

  • Através da pulverizações aéreas que ocasionam a dispersão dessas substâncias pelo meio ambiente contaminando as áreas e atingindo a população.
  • Consumo de alimentos e água contaminados.
  • Outra forma é o contato com roupas dos trabalhadores com o agrotóxico.

Principais efeitos à saúde

Efeitos Agudos

São aqueles de de aparecimento rápido. Podem surgir os seguintes sintomas (KLAASSEN, 2013):

  • Através da pele – Irritação na pele, ardência, desidratação, alergias
  • Através da respiração -Ardência do nariz e boca, tosse, coriza, dor no peito, dificuldade de respirar
  • Através da boca – Irritação da boca e garganta, dor de estômago, náuseas, vômitos, diarreia

Outros sintomas inespecíficos também podem ocorrer, tais como: dor de cabeça, transpiração anormal, fraqueza, câimbras, tremores, irritabilidade.

Efeitos crônicos

São aqueles aparecem após exposições repetidas a pequenas quantidades de agrotóxicos por um período prolongado). Podem-se relatar os seguintes sintomas (ANVISA, 2018):

  • Dificuldade para dormir, esquecimento, aborto, impotência, depressão, problemas respiratórios graves, alteração do funcionamento do fígado e dos rins, anormalidade da produção de hormônios da tireoide, dos ovários e da próstata, incapacidade de gerar filhos, malformação e problemas no desenvolvimento intelectual e físico das crianças. Estudos apontam grupos de agrotóxicos como prováveis e possíveis carcinogênicos (ANVISA, 2018).
  • A associação entre exposição a agrotóxicos e desenvolvimento de câncer ainda gera polêmicas, principalmente porque os indivíduos estão expostos a diversas substâncias, sem contar outros fatores genéticos. Porém, é importante salientar que estudos vêm mostrando o potencial de desenvolvimento de câncer relacionado a diversos agrotóxicos, justificando a recomendação de precaução para com o uso e contato.

Ao surgimento de quaisquer sintomas após manipulação de agrotóxicos, recomenda-se a procura por ajuda médica

A classificação dos agrotóxicos utilizada para fins de registro e reavaliação pela ANVISA é baseada no grau de toxicidade destas substâncias Classificação:

CATEGORIA 1 CATEGORIA 2 CATEGORIA 3 CATEGORIA 4 CATEGORIA 5 NÃO CLASSIFICADO
EXTREMAMENTE TÓXICO ALTAMENTE TÓXICO MODERADAMENTE TÓXICO POUCO TÓXICO IMPROVÁVEL CAUSAR DANO AGUDO NÃO CLASSIFICADO
PICTOGRAMA

PALAVRA DE ADVERTÊNCIA

Desenho de um crânio com ossos cruzados
PERIGO
Desenho de um crânio com ossos cruzados
PERIGO
Desenho de um crânio com ossos cruzados
PERIGO
Ícone de Exclamação
CUIDADO
Sem símbolo

CUIDADO

Sem símbolo

Sem advertência

CLASSE DE PERIGO
ORAL Fatal se ingerido Fatal se ingerido Tóxico se ingerido Nocivo se ingerido Pode ser perigoso se ingerido
DÉRMICA Fatal em contato com a pele Fatal em contato com a pele Tóxico em contato com a pele Nocivo em contato com a pele Pode ser perigoso em contato com a pele
INALATÓRIA Fatal se inalado Fatal se inalado Tóxico se inalado Nocivo se inalado Pode ser perigoso se inalado
COR DA FAIXA VERMELHO VERMELHO AMARELO AZUL AZUL VERDE

Fonte: Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, 2019

Considerando o tipo de ação, os agrotóxicos podem ser classificados como inseticidas, fungicidas, herbicidas, raticidas, acaricidas, desfolhantes, entre outros.

Lista de ingredientes ativos de grande consumo no Brasil com autorização da Anvisa:

NOME

CAS Nº

GRUPO CLASSIFICAÇÃO TOXICOLÓGICA (ANVISA) CLASSIFICAÇÃO DA CARCINOGENICIDADE RELAÇÃO COM CÂNCER
IARC USEPA
2,4-D
94-75-7
Herbicida Classe I
Extremamente tóxico
Grupo 2B: Possivelmente carcinogênico para Humanos Pele, Cavidade nasal, sinonasal, nasofaringe, orofaringe, laringe
ACEFATO
30560-19-1
Inseticida Classe III
Medianamente Tóxico
ND Possível carcinogênico para humanos Leucemias, Linfomas não Hodgkin, pâncreas
ATRAZINA
1912-24-9
Herbicida Classe III
Medianamente tóxico
Grupo 3: Não é classificável para carcinogenicidade em humanos Linfomas não Hodgkin
CLORPIRIFÓS
2921-88-2
Inseticida Classe II
Altamente Tóxico
ND Ausência de carcinogenicidade para seres humanos. Leucemias, Linfomas não Hodgkin, pâncreas
DIAZINONA
333-41-5
Inseticida Classe II
Altamente Tóxico
Grupo 2A: Provavelmente carcinogênico para Humanos Leucemias, Linfomas não Hodgkin, câncer de pulmão
DIURON
330-54-1
Herbicida Classe III
Medianamente Tóxico
ND Provavelmente carcinogênico para Humanos Neoplasia (sem localização definida)
GLIFOSATO
1071-83-6
Herbicida Classe IV
Pouco tóxico
Grupo 2A: Provavelmente carcinogênico para Humanos Linfomas não Hodgkin
MALATIONA
121-75-5
Inseticida Classe III
Medianamente Tóxico
Grupo 2A: Provavelmente carcinogênico para Humanos Linfomas não Hodgkin, câncer de próstata.
MANCOZEBE
8018-01-7
Fungicida Classe III Grupo 3: Não é classificável para carcinogenicidade em humanos Linfomas não Hodgkin
METOMIL
16752-77-5
Inseticida Classe I
Extremamente Tóxico
ND Ausência de carcinogenicidade para seres humanos

Fontes: Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2019; International Agency for Research on Cancer, c2018; United States Environmental Protection Agency, 2019.

A Anvisa disponibiliza monografias (abre em outra janela) nas quais constam resultados de avaliações e reavaliações toxicológicas dos ingredientes ativos destinados ao uso agrícola, domissanitário, não agrícola, ambientes aquáticos e preservante de madeira no endereço

Lista de ingredientes ativos de agrotóxicos com autorização banida pela Anvisa:

NOME PRINCIPAL USO
CAS Nº
SITUAÇÃO JUSTIFICATIVA
ALDRIM Inseticida
309-00-2
BANIDO Alta persistência ambiental e/ou periculosidade
BHC (HCH) Fungicida
Inseticida
118-74-1
BANIDO Alta persistência ambiental e/ou periculosidade
CARBOFURANO Inseticida
1563-66-2
BANIDO Alta toxicidade aguda; alta persistência ambiental e/ou periculosidade, teratogenicidade e neutotoxicidade
DDT Inseticida
50-29-3
BANIDO Alta persistência ambiental e/ou periculosidade, carcinogenicidade, distúrbios hormonais
ENDOSULFAN Fungicida
Inseticida
115-29-7
BANIDO Alta persistência ambiental e/ou periculosidade; distúrbios hormonais; câncer
LINDANO Inseticida
58-89-9
BANIDO Alta persistência ambiental e/ou periculosidade; neurotoxicidade
METAMIDOFOS Inseticida
10265-92-6
BANIDO Alta toxicidade aguda e neurotoxicidade
PARATION Inseticida
56-38-2
BANIDO Neurotoxicidade, câncer, Causa danos ao sistema reprodutor
PARATIONA METILICA Inseticida
298-00-0
BANIDO Mutagênico; Causa danos ao sistema reprodutor; distúrbios hormonais
PENTACLOROFENOL Fungicida
Inseticida
Moluscicida
87-86-5
BANIDO Hepatotoxicidade, nefrotoxicidade, distúrbios hormonais

Você pode consultar a lista da Anvisa de monografias onde consta a relação de ingredientes ativos de agrotóxicos que não possuem autorização (abre em outra janela) de uso no Brasil.

Existem alternativas?

Agroecologia

A agroecologia deve ser compreendida como Ciência e prática interdisciplinar que considera não só o conhecimento científico advindo das Ciências Agrárias, da Saúde, Humanas e Sociais, mas principalmente as técnicas e saberes populares (dos povos tradicionais) que incorporam princípios ecológicos e tradições culturais às práticas agrícolas gerando uma agricultura sustentável e promovendo a saúde e a vida digna. Tem como princípios fundamentais a solidariedade, sustentabilidade, preservação da biodiversidade, equidade, justiça social e ambiental, soberania e segurança alimentar e nutricional.

Em 2022, a Área Técnica Ambiente, Trabalho e Câncer fez o lançamento do livro Caminhos da agroecologia: cultivando a vida nos territórios do Rio de Janeiro (abre em outra aba). A publicação aborda assuntos voltados para convergências entre os campos da Agroecologia, Saúde do Trabalhador e da Promoção da Saúde, bem como o uso da imagem como uma estratégia de comunicação alternativa para problematizar agroecologia e sua relação com a saúde nos territórios. Apresenta ainda seis experiências agroecológicas do estado do Rio de Janeiro que participaram do Projeto de Exposição Fotográfica “Caminhos da Agroecologia: cultivando a vida”.

Para outras informações, visite a nossa página sobre alimentação de origem vegetal (abre em outra aba).

Referências Bibliográficas

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (Brasil). Monografias autorizadas. Brasília, DF: ANVISA, 2018.

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (Brasil). Regulamenta­ção. Anvisa aprova novo marco regulatório para agrotóxicos. Brasília, DF: ANVISA, 2019.

BRASIL. Decreto nº 4.074, de 4 de janeiro de 2002. Regulamenta a Lei no 7.802, de 11 de julho de 1989, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, […] e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, ano 139, n. 5, p. 1-12, 8 jan. 2002.

CARNEIRO, F. F. et al. Segurança Alimentar e nutricional e saúde. Parte 1. In CARNEIRO, Fernando Ferreira et al. (org.) Dossiê ABRASCO: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Rio de Janeiro: EPSJV; São Paulo: Expressão Popular, 2015. Disponível em: Acesso: 15 ago. 2017.

CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Fourth national report on human exposure to environmental chemicals. Atlanta, GA: Centers for Disease Control and Prevention, 2009.

INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA. Exposição no trabalho e no ambiente. Agrotóxico. Rio de Janeiro: INCA, 2019.

INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA. Ambiente, trabalho e câncer: aspectos epidemiológicos, toxicológicos e regulatórios / Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. – Rio de Janeiro: INCA, 2021.

INTERNATIONAL AGENCY FOR RESEARCH ON CANCER. List of classifications, volumes 1-123. Lyon, France: IARC, c2018.

KLAASSEN, C. D. (ed.). Casarett and Doull’s toxicology: the basic science of poisons. 8th ed. New york: McGraw-Hill Education, 2013.

LONDRES, F. Agrotóxicos no Brasil: um guia para ação em defesa da vida. 2. ed. Rio de Janeiro: Rede Brasileira de Justiça Ambiental; Articulação Nacional de Agroecologia, 2012.

SARPA, M. et al. Postnatal development and fertility of offspring from mice exposed to Triphenyltin (Fentin) Hydroxide during pregnancy and lactation. Journal of Toxicology and Environmental Health: part A, v. 73, n. 13/14, p. 965-971, Jun. 2010.

UNITED STATES. Environmental Protection Agengy. Integrated Risk In­formation System: IRIS. Washington, DC: Environmental Protection Agen­gy, c2019.

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394

 

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