Caça às bruxas não resolve desmatamento
Especialistas afirmam que o primeiro passo é mudar o modelo de ocupação da região
O desmatamento na Amazônia não será resolvido com uma política de ‘caça às bruxas’, mas com propostas de médio prazo que devem ser seguidas por todos os setores envolvidos: órgãos públicos, cientistas, madeireiros, pecuaristas, sem-terra e agricultores. O primeiro passo é mudar o modelo de ocupação da região e, a partir daí, encontrar respostas concretas para o problema, disseram ontem especialistas reunidos no Museu Emílio Goeldi, em Belém (PA). Por Carlos Mendes e Cristina Amorim, do O Estado de S.Paulo, 07/05/2008.
Para estudiosos, dirigentes de órgãos de fiscalização e líderes de organizações não-governamentais, não há um receituário pronto para combater a devastação. O remédio deve ser encontrado em várias fontes e na dosagem certa.
Para o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilberto Câmara, a questão amazônica envolve muitos atores e cada um tem a sua própria fatia do diagnóstico. ‘Temos de juntar as partes. A melhor maneira de fazê-lo é por meio do diálogo’, diz Câmara. Segundo ele, é preciso acreditar nisso para não comprometer o futuro da região.
Em relação ao Pará, que sempre apresenta índices altos de desmatamento e outros crimes ambientais, o cientista observa um avanço. Ele reconhece que o Estado, hoje, está tentando criar mecanismos de proteção à floresta, mesmo enfrentando o problema do desemprego, principalmente o que atinge o setor madeireiro. ‘O que precisa ser entendido por todos é que o desmatamento não torna a Amazônia mais rica. Pelo contrário, ela fica mais pobre’, ponderou.
Para o diretor do Inpe, ‘se alguns ficam ricos em curto prazo, no longo prazo o que eles fazem é jogar fora a riqueza da região’.
Sobre os números mais recentes da devastação, que apontam 65 km2 somente no Pará no primeiro trimestre deste ano, o cientista recomenda que a leitura correta a ser feita é a de médio prazo, comparando seis meses de um ano com o mesmo período do ano anterior. Se essa regra for seguida, há um nítido aumento do desmatamento.
O pesquisador Alfredo Homma, da Embrapa Amazônia Oriental, defendeu uma política agrícola para conter a devastação. Para ele, isso seria mais útil para deter o desmatamento do que políticas simplesmente ambientais, com aproveitamento de terrenos já sem árvores e recuperação de áreas degradadas.
CÓDIGO FLORESTAL
Em Brasília, a Comissão de Meio Ambiente da Câmara marcou para hoje a votação do projeto de lei que reduz a reserva legal na Amazônia de 80% para 50% da propriedade. Curiosamente, uma audiência pública para discutir o mesmo projeto está marcada para amanhã.