O debate sobre os biocombustíveis é demagógico. Entrevista com Jaime Terceiro
Os especialistas advertem que a crise ameaça a luta contra a mudança climática. Temem que se desviem dos esforços para a recuperação de um crescimento econômico baseado na superexploração do Planeta.
“É preciso abordar a mudança climática o quanto antes, ou as consequências serão arriscadas e caras”, vaticina Jaime Terceiro. O professor de Economia apresentou o seu livro A economia da mudança climática [ainda sem tradução para o português], que pretende transmitir algumas ideias sobre como enfrentar os problemas econômicos derivados do aquecimento global.
Segue a entrevista que Jaime Terceiro concedeu a Cristina Castro e está publicada no jornal espanhol El País, 30-03-2009. A tradução é do Cepat.
* Quais devem ser os pilares desta mudança?
É preciso romper o vínculo entre crescimento econômico e emissão de gases de efeito estufa. Para isso, é preciso taxar as indústrias fósseis e os produtos derivados, criar um mercado de emissões de carbono e subvencionar as energias não poluentes.
* Pode a crise econômica ser um obstáculo para a realização destas mudanças?
A crise financeira é transitória e seria um equívoco que por conta disso se esquecesse a gravidade da mudança climática.
* Mas você defende que os Governos empreguem entre 1% e 6% do PIB num momento em que as economias estão muito apertadas.
As Administrações estão gastando enormes somas de dinheiro para sanear os bancos quando se demonstrou que os incentivos a curto prazo não são mais que uma das causas do desastroso resultado das atividades financeiras dos últimos anos.
Como pode um desempregado aceitar este tipo de gasto?
Ninguém questiona que é preciso resolver os problemas financeiros, mas um sistema energético sustentável é igualmente necessário. O preço dos combustíveis fósseis não é real, é preciso começar a incluir o custo social, ou seja, o preço dos efeitos negativos que sua produção traz, e incentivar as energias limpas, para baratear seu custo.
Como convencer agora países como a China ou a Índia, que não contribuíram tradicionalmente para a emissão de gases, a mudarem sua política energética?
Para isso existem os mercados de carbono e a concessão de cotas. Seria preciso dar a estes países uma prorrogação, até que desenvolvam a tecnologia necessária para emitir determinada quantidade de dióxido de carbono (CO2).
* Você não concorda com as críticas que relacionam os biocombustíveis com o aumento do preço dos alimentos.
É uma relação causal espúria, defendida por agentes com interesses econômicos no meio. As empresas energéticas, porque não querem competição e as alimentares, porque se aproveitaram do aumento dos preços. Espero que o debate em torno do futuro das indústrias não fósseis não seja tão demagógico como aquele que se deu com os biocombustíveis.
* Vale a pena gastar as elevadas somas necessárias para combater um problema que não se sabe ao certo se será solucionado?
A mudança climática, que não é uma ciência exata, está cercada de incertezas, mas os créditos para investir para combatê-la são medidos nos prejuízos que evitamos no longo prazo e nos benefícios a curto prazo. Graças à pesquisa, por exemplo, podem ser obtidos benefícios em outros campos. Da pesquisa feita durante a corrida espacial resultou o velcro e muita micro-tecnologia dos telefones celulares.
(Ecodebate, 02/04/2009) publicado pelo IHU On-line, 31/03/2009 [IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]
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Estamos vivenciando um momento extremamente critico, sabemos a gravidade da situação, sabemos a causa, temos a consciência e o entendimento de que ao colocarmos em pratica medidas de prevenção estaremos contribuindo para o bem estar das futuras gerações.Todavia nos deparamos com o gargalo das ganâncias econômicas de alguns setores. Concordo plenamente com o pensamento do Sr.Jaime terceiro.