A população de Taiwan entre 1950 e 2100

 

A população de Taiwan entre 1950 e 2100, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

A decolagem da economia de Taiwan ocorreu na fase de expansão do bônus demográfico e na formação de famílias menores que favoreceram o aumento das taxas de poupança

Taiwan é um país insular que fica no leste da China continental, entre as latitudes correspondentes das cidades de Hong Kong e Xangai, pouco acima das Filipinas e abaixo da península coreana e do território japonês. Taiwan possui uma história de mais de 5 mil anos, embora no passado a população fosse muito rarefeita na ilha.

A China continental começou a colonização de Taiwan no século XIV. Por volta de 1600, os portugueses criaram um entreposto comercial que foi chamado de Formosa. Mas os chineses reconquistaram a ilha em 1661. Em 1895, após a derrota na guerra Sino-Japonesa, a China cedeu Taiwan ao Japão. Depois das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki e da derrota japonesa na Segunda Guerra Mundial, a ilha voltou à soberania chinesa. Naquela época, o país era governado pelo partido Nacionalista (Kuomintang) de Chiang Kai-shek. Em 1949, após a vitória da Revolução Comunista, liderada por Mao Tsé-tung, cerca de 2 milhões de pessoas das forças nacionalistas e capitalistas de Chiang Kai-shek se refugiaram em Taiwan.

Após os acordos Nixon-Mao, em 1971, os Estados Unidos da América alteraram a sua posição de apoio diplomático à Taiwan e passaram a reconhecer a República Popular da China como o único governo legítimo. A China tem defendido o conceito “Um país, dois sistemas”, mas a maioria da população de Taiwan reivindica a autonomia e a não integração à China continental. A ida da presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taiwan no início de agosto de 2022, abriu uma grande crise no leste asiático entre a China e os EUA, refletindo a disputa pela hegemonia internacional entre as duas potências econômicas. O imbróglio está longe de ser resolvido.

Taiwan tem uma área de 36 mil km2, uma população de 24 milhões de habitantes em 2022, com uma densidade demográfica de 675 habitantes por km2. Para efeito de comparação a China tem uma área de 9.596.960 km2, uma população de 1,43 bilhão de habitantes e uma densidade demográfica de 149 habitantes por km2, em 2022.

Taiwan tinha 7,6 milhões de habitantes em 1950, chegou a 23,9 milhões em 2022, deve chegar a 24,1 milhões em 2030, devendo começar a apresentar decrescimento populacional a partir de 2031 e deve alcançar 15,2 milhões de habitantes em 2100, segundo as projeções médias divulgadas pela Divisão de População da ONU (revisão 2022). Portanto, o país deverá perder 9 milhões de habitantes em 70 anos (conforme o gráfico abaixo, painel do lado esquerdo). O outro gráfico (à direita) mostra a população em idade de 15-59 anos que chegou a quase 16 milhões de pessoas na última década, já começou a cair e deve atingir 7 milhões em 2100 (na projeção média).

 

Evidentemente, uma redução da força de trabalho pela metade, em relação ao valor máximo, representará um grande desafio para os objetivos de manutenção das atividades econômicas. Porém, a redução da população em idade ativa (PIA) não é um entrave escatológico, pois Taiwan possui altas taxas de poupança e investimento que permitem renovar o parque produtivo do país, avançando com a ciência e a tecnologia e permitindo que o conjunto da força de trabalho fique mais produtiva, inclusive a população idosa.

Os gráficos abaixo mostram a evolução das taxas de fecundidade e a expectativa de vida. As taxas de fecundidade (gráfico da esquerda) estavam em torno de 6 filhos por mulher em meados do século passado, caiu rapidamente nas décadas seguintes, ficou abaixo do nível de reposição na virada do milênio e chegou a apenas 1 filho por mulher na última década. Espera-se uma pequena recuperação ao longo do atual século. A expectativa de vida ao nascer que estava em torno de 56 anos em 1950 teve uma grande elevação nas décadas seguintes até 80 anos em 2020, não teve queda durante a pandemia e deve ultrapassar 90 anos até 2100.

 

A consequência da queda da fecundidade e do aumento da expectativa de vida é a mudança na estrutura etária, com a diminuição dos grupos jovens e o aumento da proporção dos grupos mais idosos. O gráfico abaixo (da esquerda) mostra a população de 0 a 14 anos de Taiwan entre 1950 e 2100. A população jovem era de 3 milhões em 1950, chegou a 6 milhões na década de 1970 e deve cair para 2 milhões em 2100. Já o número de idosos (gráfico da direita) cresceu, passando de menos de 1 milhão em meados do século passado para cerca de 10 milhões em 2060 e deve ficar em torno de 7 milhões em 2100.

 

Esta mudança da estrutura etária, provocada pelo avanço da transição demográfica (queda nas taxas de mortalidade e natalidade) se expressa na transformação da pirâmide populacional, estreitando a base e alargando o topo entre 1950 e 2100, conforme mostrado nos gráficos abaixo. A pirâmide etária de 1950 tinha uma base larga e um topo estreito, devido às altas taxas de natalidade e mortalidade. Existia uma alta razão de dependência de jovens e uma baixa proporção de pessoas em idade ativa. Mas a partir da década de 1960, as taxas de fecundidade caíram, reduzindo a proporção de jovens e aumentando a proporção de pessoas em idade de participar da força de trabalho, como mostrado na pirâmide de 2022. Isto gerou o 1º bônus demográfico que ajudou o país a reduzir a pobreza e a incrementar o desenvolvimento econômico. Mas no restante do século o predomínio será do envelhecimento populacional.

 

Taiwan terá uma população menor e uma estrutura etária mais envelhecida, mas investiu para ter uma população mais saudável, com maiores níveis educacionais, mais qualificada e mais adaptada à tecnologia e à sociedade da informação e do conhecimento. Portanto, ao invés de pensar em manter o incremento populacional, está se preparando para crescer economicamente com uma força de trabalho mais produtiva e o aproveitamento do 2º e 3º bônus demográfico. Com menor volume populacional, Taiwan se prepara não apenas para garantir maior qualidade de vida de seus habitantes, mas também se prepara para lidar com as questões ecológicas.

Indubitavelmente, a nova dinâmica demográfica ajudou a acelerar o bom desempenho econômico. A mudança da estrutura etária reduziu a razão de dependência após 1960, que atingiu o menor valor ao redor de 2010, gerando um bônus demográfico (com uma pessoa dependente para cada duas pessoas em idade de trabalhar). Mas a razão de dependência já começou a aumentar e deve ficar acima de 120 na segunda metade do atual século, ou seja, vai haver mais pessoas dependentes do que pessoas em idade ativa, conforme mostra o gráfico.

 

A decolagem da economia de Taiwan ocorreu na fase de expansão do bônus demográfico e na formação de famílias menores que favoreceram o aumento das taxas de poupança. O Produto Interno Bruto (PIB) representava apenas 0,45% do PIB global em 1980 e passou para 1% do PIB global nos anos 2000, conforme mostra o gráfico abaixo (lado esquerdo).

A renda per capita de Taiwan (em preços correntes em poder de paridade de compra) era de cerca de US$ 5 mil em 1980, equivalente à renda per capita mundial. Mas o alto crescimento ao longo de 40 anos fez a renda per capita taiwanesa (US$ 60 mil) se aproximar da renda per capita dos EUA em 2022. Para 2026, o FMI estima uma renda per capita de US$ 80 mil para Taiwan e de US$ 24,3 mil no mundo, conforme mostra o gráfico abaixo (lado direito).

 

Taiwan, em cerca de 40 anos, deixou de ser um país de renda baixa e se tornou uma nação de renda muito alta. Um grande desafio futuro virá do envelhecimento populacional, pois Taiwan que tem uma idade mediana de 42 anos em 2022, passará para uma idade mediana de 53 anos em meados do século XXI, constituindo uma sociedade plenamente envelhecida.

O outro grande desafio advém da área ecológica, pois o sucesso econômico de Taiwan aconteceu em meio ao retrocesso ambiental. Taiwan tinha uma Pegada Ecológica per capita de 8 hectares globais (gha) em 2000 e uma Biocapacidade per capita de 6 gha. Portanto havia déficit ambiental. Porém, com os avanços tecnológicos e com a transformação da estrutura produtiva a pegada ecológica foi reduzida, diminuindo também o déficit ecológico, conforme mostra a figura abaixo.

 

Taiwan é o maior produtor e exportador de semicondutores e tem uma economia muito avançada tecnologicamente. O decrescimento populacional e a descarbonização da economia poderão diminuir a pressão sobre os serviços ecossistêmicos. Se houver menor Pegada Ecológica e maior eficiência produtiva e energética, o padrão de vida humano e ambiental melhorará. A grande ameaça advém de um possível conflito militar com a China continental.

Talvez, as complicações da invasão da Ucrânia pela Rússia possa mostrar que não se deve buscar resolver as disputas territoriais por meio da guerra. A paz é fundamental para garantir o bem-estar humano e ambiental.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

ALVES, JED. A população de Taiwan, Ecodebate, 20/10/2021
http://www.ecodebate.com.br/2012/11/30/a-populacao-de-taiwan-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

ALVES, JED. Singapura e Taiwan deixam Brasil e Cuba para trás, Ecodebate, 15/09/2021
https://www.ecodebate.com.br/2022/07/13/singapura-e-taiwan-deixam-brasil-e-cuba-para-tras/

Lee, YJ., Chai, L. & Wu, PS. Taiwan’s ecological footprint and overshoot day. Sci Rep 11, 15068 (2021).
https://doi.org/10.1038/s41598-021-94540-7

 

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394

 

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