Comissão Consultiva do Censo 2022 repudia ataques ao censo demográfico
Comissão Consultiva do Censo 2022 repudia ataques ao censo demográfico
Nota de Esclarecimento
A Comissão Consultiva do Censo 2022 vem a público repudiar os ataques infundados que o censo demográfico vem sofrendo nos últimos dias.
Além disso, diante de discussões que estão sendo realizadas sem as devidas informações, a Comissão oferece esclarecimentos adicionais sobre a avaliação que realizou das estimativas populacionais municipais elaboradas pelo IBGE para o TCU.
Ressaltamos, em primeiro lugar, que a transparência na divulgação dos dados censitários bem como a garantia do debate público sobre os resultados encontrados são premissas fundamentais em uma sociedade democrática. No entanto, propostas sem respaldo técnico, neste momento, como a auditoria dos dados e realização de novo censo, apenas colocam em xeque, de forma indevida, a reputação do corpo técnico do IBGE, instituição construída ao longo de décadas e reconhecida internacionalmente, sem contribuir para uma discussão mais qualificada sobre o tema. Como o censo ainda não foi concluído, a discussão nesses termos apenas tumultua e dificulta a conclusão de um processo ainda em andamento.
A Comissão Consultiva do Censo 2022 é formada por representantes da sociedade civil e tem como objetivo assessorar tecnicamente o IBGE em suas escolhas, quando consultada. Podemos atestar a competência, a idoneidade e a transparência do corpo técnico e da Direção do IBGE, durante o período em que acompanhamos a coleta dos dados. É fato que faltaram recursos orçamentários e que alguns problemas interferiram no andamento da pesquisa, incluindo a dificuldade de contratação de recenseadores, a falta de concursos públicos para a contratação de servidores, a polarização política, a disseminação de notícias falsas e a resistência de uma parte da população em receber os pesquisadores. No entanto, algumas dessas dificuldades não são exclusivas deste censo. Além disso, várias delas também têm acontecido em outros países do mundo. Frente aos novos e antigos desafios, os técnicos e pesquisadores do IBGE demonstraram capacidade de superação e muito espírito público. Para um maior esclarecimento sobre as dúvidas levantadas contra o censo demográfico, recomendamos documento divulgado pelo Conselho Diretor do IBGE (Comunicados | IBGE).
Cabe esclarecer, ainda, que a Comissão foi consultada pela Direção do IBGE sobre a melhor metodologia a ser empregada para a estimação da população dos municípios do Brasil em 2022, seguindo demanda anual do TCU. Sem dúvida, o ideal seria utilizar os dados completos do censo 2022. No entanto, uma vez que eles ainda não estavam prontos em dezembro de 2022, a Direção do IBGE colocou, para discussão, duas propostas principais. A primeira era a manutenção do uso das estimativas populacionais que tomam como base as projeções demográficas, elaboradas a partir dos dados do censo de 2010. A segunda era a estimação das populações municipais a partir dos dados incompletos do censo de 2022. Para isto, foram considerados dados coletados dos municípios com mais de 99% da lista de endereços dos domicílios trabalhada e com o percentual de domicílios ocupados sem entrevista no máximo de 15% (4.410 municípios), corrigidos para não resposta. Para os demais municípios com a coleta em andamento (1.160), foram considerados os dados observados e imputados, considerando a lista de endereços dos domicílios do censo. A escolha não foi simples. Como acontece com outras estimativas demográficas, ambas as alternativas envolviam erros de mensuração e diferentes fontes de incerteza. Após análise e discussão, sugerimos que fossem usadas as estimativas calculadas com base nos dados coletados e imputados do censo 2022, uma vez que os erros das projeções demográficas municipais, metodologia que tem sido adotada nos últimos anos, crescem à medida que o tempo avança e a última coleta censitária fica mais distante no passado. As projeções atuais se baseiam em dados coletados 12 anos atrás, sendo especialmente mais incertas para municípios menores.
É importante enfatizar que as estimativas das populações municipais que têm como base os dados coletados e imputados do censo não são os dados finais do censo 2022, são apenas o que o nome diz, estimativas, necessárias para atender a demanda do TCU em dezembro de 2022. O censo continua em campo e deve ser concluído nos próximos meses. Tecnicamente, portanto, é possível que ocorram diferenças entre os resultados finais da coleta completa, os estimados a partir de dados já coletados e imputados e os projetados anteriormente. De todo modo, espera-se que as estimativas elaboradas a partir dos dados completos e imputados do censo 2022 estejam mais próximas das verdadeiras populações municipais do que as estimativas feitas a partir de projeções demográficas, já que partem de uma grande proporção de dados atualizados.
A Comissão Consultiva do Censo 2022 apoia o corpo técnico e a atual Diretoria do IBGE. Confiamos na sua capacidade para concluir o recenseamento o quanto antes, realizar uma análise sólida e crítica dos dados e divulgá-los de forma transparente para toda a sociedade brasileira, com a qualidade e serenidade que sempre foram as marcas do IBGE.
Comissão Consultiva do Censo 2022
Alexandre Fernandes Barbosa – Engenheiro Eletricista, Cientista da Computação, com especialização em ciências de dados, especialista em tecnologia de informação e comunicação (TIC), produção de estatísticas sobre internet
Alicia Bercovich – Demógrafa e Matemática, especialista em produção e análise de dados censitários
Cássio Maldonado Turra – Demógrafo e Economista, com especialidade em métodos demográficos, modelos populacionais, população e saúde e demografia econômica
Claudio Antonio Gonçalves Egler – Geógrafo, especialista em geoeconomia, planejamento urbano e regional e gestão do território
Diana Reiko Tutiya Oya Sawyer – Demógrafa, com especialidade em métodos quantitativos de demografia e saúde, população e políticas públicas e avaliação de programas sociais
José Ribeiro Soares Guimarães – Economista, com especialidade em estudos populacionais e em pesquisas sociais com ênfase no tema trabalho decente
Marcel de Toledo Vieira – Economista, Doutor em Estatística, com especialidade em amostragem, estimação de variâncias e avaliação de políticas públicas
Maria Martha Malard Mayer – Economista, atuando nas áreas de índices de preços, contas nacionais e pesquisas domiciliares com ênfase no tema trabalho e rendimento
Marta Maria do Amaral Azevedo – Demógrafa e Antropóloga, atuando principalmente em temas relacionados à povos indígenas, saúde e educação indígena, etnologia indígena
Ricardo Paes de Barros – Estatístico e Economista, atuando em questões relacionadas à temas de desigualdade e pobreza, mercado de trabalho e educação
Sérgio Besserman Vianna – Economista, com experiência em estatísticas socioeconômicas do Brasil, economia do meio ambiente e desenvolvimento econômico sustentável
Suzana Marta Cavenaghi – Demógrafa, com formação em Estatística e Matemática, atuando em estudos e pesquisas, principalmente, na área de população e desenvolvimento, saúde sexual e reprodutiva; produção de dados e indicadores e projeções populacionais
Tania Bacelar de Araújo – Economista e Socióloga, com especialidade em desenvolvimento regional
Zélia Magalhães Bianchini – Matemática e Estatística, com experiência em metodologia de pesquisa, amostragem, processo de produção de informações e qualidade de estatísticas oficiais.
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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Muito esclarecedor o texto. Parabéns pela publicação.