Livro questiona noção de que a industrialização leva ao desenvolvimento e de que este seria sinônimo de progresso
Capa do livro “Desenvolvimento, ambiente e saúde – implicações da (des)localização industrial”
Livro questiona benefícios do desenvolvimento sustentável no Ceará – Existe um paradigma dominante segundo o qual a industrialização e a urbanização levam ao desenvolvimento e que este seria sinônimo de progresso. No entanto, considerando o aumento das disparidades, da desigualdade social, da miséria, da alienação e da exclusão, nos últimos 200 anos desde o advento da Revolução Industrial, pode se questionar: progresso pra que e pra quem? É isso que a médica Raquel Rigotto se propõe a examinar no livro “Desenvolvimento, ambiente e saúde – implicações da (des)localização industrial“. Na obra, recém-lançada pela Editora Fiocruz, a autora volta o olhar para as consequências do modelo de desenvolvimento em implantação no Ceará, baseado na atração de indústrias, do agronegócio e do turismo em grande escala.
Com argumentos sólidos, encadeamento lógico e embasamento metodológico adequado, a autora estuda as relações entre industrialização e desenvolvimento, mas com a pretensão de ir além das abordagens tradicionais, frequentemente economicistas, ao verificar as implicações desse suposto progresso no trabalho, ambiente e saúde da população do Ceará. “As pessoas me olhavam surpresas quando perguntava se a industrialização traria benefícios para os trabalhadores, como se isso fosse óbvio”, comenta Raquel. “Não é tão simples assim adjetivar o desenvolvimento de ‘sustentável’”.
O livro é dividido em três partes. A primeira visa sistematizar o referencial teórico, norteando o leitor sobre as categorias centrais no estudo, como desenvolvimento humano e sustentável, cultura, trabalho, ambiente, saúde. A segunda busca apresentar e discutir os resultados da pesquisa de campo realizada no município de Maranguape (CE), assim como contar um pouco sobre sua história. Já a terceira é dedicada à análise do discurso das partes entrevistadas durante a pesquisa empírica, como trabalhadores, empresários, gestores públicos e lideranças da sociedade, esboçando um diálogo entre esses segmentos.
“O ‘progresso’ é vendido como redenção, ao mesmo tempo que permanecem ocultos seus impactos negativos – sociais, sobre a saúde e sobre o ambiente”, comenta Marcelo Porto, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), na contra-capa da obra. “Este belo livro nos estimula a pensar numa questão central da modernidade: até quando permitiremos um progresso econômico e material socialmente injusto e ambientalmente insustentável?”.
Matéria de Renata Moehlecke, da Agência Fiocruz de Notícias.
[EcoDebate, 23/03/2009]
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