Biocombustíveis de segunda geração destruirão ecossistemas e agravarão a crise alimentar
O mundo está passando por uma séria crise alimentar devido aos altos preços dos alimentos básicos e por conflitos dela derivados que ameaçam a estabilidade política em muitos países do Terceiro Mundo. No final de março, os preços do arroz e do trigo se duplicaram se comparados com o ano anterior, e o preço do milho foi acima de um terço mais alto. De acordo com a FAO, as notas fiscais pelas importações de cereais dos países mais pobres do mundo irão aumentar em 56% em 2007/08, depois de terem sido incrementadas em 37% em 2006/07.
A escalada dos preços dos alimentos é o resultado de vários fatores, entre eles, a redução de fornecimentos devida à mudança dos agricultores que deixaram a cultura de alimentos voltando-se às culturas para biocombustíveis. Os países ricos têm promovido a produção de biocombustíveis a despeito dos sólidos argumentos que alertavam o desastre ecológico e social que iria se desencadear sobre a segurança alimentar no mundo e sobre os ambientes e modos de vida das comunidades locais.
Contudo, contrariando o bom senso e abrindo-se escancaradamente a uma nova oportunidade do mercado, os biocombustíveis de segunda geração que vêm sendo proclamados estarão baseados em grande medida na biomassa da madeira. Conforme Glenn Barry (1), “É um mito que as florestas ociosas e os resíduos agrícolas, bem como um excedente de terra para cultivar variadas pastagens e madeira existam para servirem como base de uma fonte de energia industrial. Isso também vale para a produção de etanol a partir de árvores. O etanol celulósico será o combustível do desmatamento final, equivalente a desmantelar e incendiar o lar para se manter aquecido.”
O Dr. Barry explica que, “Como com os agrocombustíveis, a indústria do etanol celulósico destruirá indiretamente as florestas e levará a preços mais altos dos alimentos ao incrementar as pressões de terra sobre florestas naturais e terras agrícolas. Devemos esperar monoculturas de Frankentrees geneticamente modificadas sem vida, mais extensas, mais tóxicas e mais dependentes de água sobre terras roubadas e desmatadas com a decorrente perda de carbono. E os biocombustíveis serão vendidos para nós como um produto verde, talvez certificado como ‘bem- manejado’ pelo WWF, FSC, e outros vendedores de florestas”.
A promoção de etanol celulósico resultará assim em mais desmatamento de ecossistemas terrestres: “Como se as florestas do mundo, as parcelas de terra, os ecossistemas e os habitats já não tivessem suficientes exigências sobre eles, tentaremos usá-los para movimentar sete bilhões de consumidores em seu impulso de possuir tudo. Pensamos nisso como uma apreciação dura e desnecessária? Nomeie uma vez em que o sistema econômico mundial tenha demonstrado auto- controle para compatibilizar o crescimento com os recursos subjacentes.” Barry alerta que, “O sistema da Terra está perigosamente prestes a quebrar e não pode suportar mais soluções ambientais baseadas em maior uso de recursos do que atualmente, muito menos o incremento do consumo e da população humana. Há uma quantidade finita de energia que pode ser apanhada, e de resíduos que podem ser produzidos até a biosfera global se tornar inabitável. E nós estamos atingindo ou já ultrapassamos esse ponto.”
“É imperativo adotarmos uma agenda ambiental com base no que realmente for necessário para manter e restaurar os sistemas ecológicos dos quais depende todo tipo de vida. É tarde demais para colocar nossos esforços em outra coisa a não ser em um pacote de mudanças pessoais e sociais necessárias para manter a biosfera. Não há outras soluções que valham a pena nesse momento a não ser aquelas que forem suficientes ecologicamente. Menos do que isso é mais da mesma doença é, certamente, ser destruidor”, conclui Glenn Barry.
(1) “Burning Forests to Feed Cars. The Ecological Madness of Biofuels, Take Two”, Glenn Barry, 15 de março de 2008, Ecological Internet, Earth Meanders, GlenBarry@EcologicalInternet.org, http://earthmeanders.blogspot.com/; enviado por: “Rachel Smolker”, rsmolker@uvm.edu
Fonte: WRM – World Rainforest Movement
gentewrm@wrm.org.uy
Enviado por Norbert Suchanek, jornalista e correspondente, colaborador do EcoDebate