Embrapa classifica a liberação do arroz transgênico como ‘ameaça à segurança alimentar do Brasil’
Embrapa manifesta-se contra o plantio de arroz transgênico – Pela primeira vez desde o início das discussões sobre a liberação comercial de organismos geneticamente modificados (OGMs) no país, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) manifestou-se contra o plantio de uma variedade transgênica.
Em audiência pública sobre o arroz transgênico “Liberty Link”, produzido pela multinacional alemã Bayer, a Embrapa classificou a liberação da semente como “ameaça à segurança alimentar do Brasil” e recomendou à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) que “analise cuidadosamente a introdução do gene” resistente a herbicidas a base de glufosinato de amônio no país. Em nome da diretoria-executiva da estatal, o pesquisador Flávio Breseghello afirmou que o gene do arroz da Bayer causaria “problemas agronômicos ainda maiores ao país” em caso de liberação neste momento. Matéria do Valor Econômico, 19/03/2009.
A Embrapa sustenta que o gene tornaria o temido arroz vermelho uma superplanta daninha resistente a herbicidas. “O arroz vermelho transgênico se tornará dominante com esse herbicida [glufosinato] e pode atingir espécies de arroz silvestre do Brasil”, disse Breseghello. “Será impossível retirar esse gene do mercado após o plantio. Não há possibilidade de “recall” dessa tecnologia”.
O pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão, sediada em Goiás, defendeu que a combinação do glufosinato com a tecnologia “clearfield”, hoje usada para exterminar o arroz vermelho, teria efeitos contrários e produziria a resistência da planta daninha a ambos herbicidas. A posição “técnica, e não ideológica”, como reiterou Breseghello por três vezes, causou surpresa no minúsculo auditório da Câmara dos Deputados, onde cerca de 130 pessoas se espremeram ao longo de quatro horas para ouvir especialistas.
Mais surpreendente ainda foi a manifestação contrária dos produtores de arroz, teoricamente os mais interessados nos eventuais benefícios da liberação comercial. “Não somos favoráveis à liberação neste momento. Não existe mercado para arroz transgênico e as exportações são vitais”, disse o presidente da federação dos arrozeiros (Federarroz), Renato Rocha. Ao anunciar uma “posição conjunta” com a federação estadual de Agricultura (Farsul) e o instituto de pesquisa Irga, o dirigente afirmou que a liberação “colocaria em risco o mercado interno e externo e comprometeria a rentabilidade da cadeia produtiva” porque impediria a exportação, já que nenhum país do mundo teria autorizado o plantio de arroz transgênico. O país exportou 790 mil toneladas do produto em 2008.
O gerente de tecnologia da Bayer, André Abreu, defendeu os benefícios econômicos e ambientais da variedade transgênica. Segundo ele, o “Liberty Link” reduz os resíduos no solo e não contamina a água usada para irrigar o arroz. “Seria um grande avanço para usar em áreas irrigadas pela degradabilidade do produto”, disse. “Mas só vamos disponibilizar quando os produtores acharem importante”. O executivo defendeu, ainda, os estudos de avaliação de risco feitos no Rio Grande do Sul e rebateu afirmações de que parte dos dados de pesquisa entregues à CTNBio teriam sido suprimidos. Especialistas independentes apontaram, na audiência, falhas e inconsistências nos estudos protocolados na Comissão Europeia. “Não há base técnica porque faltam dados de experiência em campo”, disse Gabriel Fernandes, da ONG ambientalista ASPTA.
O presidente da CTNBio, o médico bioquímico Walter Colli, afirmou que o arroz transgênico seria similar à tecnologia “clearfield” já usada em lavouras de arroz gaúchas. “Existe o “clearfield” que faz o mesmo trabalho que um OGM, mas ninguém diz nada. Minha conclusão é essa”, afirmou.
[EcoDebate, 20/03/2009]
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