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A consideração do valor econômico da água virtual, um virtuosismo na contabilidade ambiental? artigo de Carol Salsa

todo produto agrícola possui muita água virtual incorporada.
Todos os produtos agrícolas possuem muita água virtual incorporada.

[EcoDebate] Nos anos 20, para organizar o balanço de materiais da economia soviética, Vassily Leontif cria a Teoria do Insumo e Produto ( Input-Output Theory ) que reúne um conjunto de informações de extrema utilidade para se fazer a avaliação dos impactos dos custos relativos ao uso da água ou de qualquer outra matéria prima sobre os agregados da economia. A expressão água virtual surge na década de 70, nos Estados Unidos, e significa a água utilizada na produção de um bem ou serviço, desde o início de sua cadeia produtiva. Do latim, virtual ou virtualis ou ainda virtus, significa virtude, potência e força.

A água está de novo em destaque em todas as agendas de muitos dos principais países, como que acordados e antenados para uma visão inovadora da sua importância. É uma percepção refeita à luz do novo conceito que gradualmente se faz sentir na economia, investigação científica, na segurança e defesa de cada país ou de blocos econômicos. A água é considerada como um bem econômico distribuído no espaço e no tempo, a qual se encontra associada a quatro Princípios Básicos. Esses princípios foram aprovados na Conferência Internacional sobre Água e Meio Ambiente realizado em Dublin, em 1992, e descritos a seguir.

PRINCÍPIO nº 1: “ A água doce é um recurso finito e vulnerável, essencial para manter a vida, o desenvolvimento sustentável e o meio ambiente “
PRINCÍPIO nº 2 : “ O aproveitamento e a gestão da água devem se basear na participação dos usuários, dos planejadores e dos responsáveis pelas decisões em todos os níveis”.
PRINCÍPIO nº 3: “ A mulher desempenha um papel fundamental no abastecimento, na gestão e na proteção da água”.
PRINCÍPIO nº 4 : “ A água tem um valor econômico em todos os diversos usos aos quais se destina e deveria ser reconhecida como um bem econômico”.

Com tantos ingredientes sugestivos, uma verdadeira revolução ocorreu em 1993, quando o cientista John Anthony Allan, de 72 anos, do King´s College de Londres, desenvolveu o conceito de água virtual e conseguiu chegar à formula de cálculo que estima o valor de água necessário para produzir um alimento ou produto. A importância da descoberta de Allan reside nas novas relações estabelecidas entre a produção agrícola, o uso da água, a economia e os processos políticos. O cientista foi vencedor do Water Prize 2002, pelo trabalho desenvolvido e apresentado em evento realizado anualmente pelo Instituto Internacional de Água de Estocolmo . O Instituto tem por objetivo premiar pesquisas que contribuam sobremaneira para soluções sustentáveis. A partir do trabalho de Allan, o comércio mundial mudou substancialmente as políticas que envolvem o comércio mundial. Diz o Instituto : “ as pessoas não consomem água só quando bebem ou tomam banho “. Em cada chávena de café estão contidos 140 litros de água utilizados na sua produção, embalagem e distribuição. Dados do Instituto revelaram que cada americano gasta por dia o equivalente a 6.800 litros de água, três vezes mais que gasta um chinês. Allan também concluiu que países como os Estados Unidos, Brasil e Argentina exportam milhões de litros água em seus produtos, enquanto que Egito, Itália e Japão são importadores de milhões de litros de água virtual.

O conceito desenvolvido em 1993, nos dá a dimensão do real valor econômico da água como um modelo alternativo de desenvolvimento sustentável e o resgate de valores responsáveis pela justiça e inclusão social. A idéia deveria ser aplicada a todos os usos da água, por isso mesmo a reconhecida como um bem econômico. Cientistas advertem sobre o uso da água em tempos de escassez , face a degradação ambiental, pela falta de sensibilização no uso deste recurso e pelo desperdício comprovado em muitos países. O mercado internacional de água virtual implica na movimentação de 15% de toda a água usada no mundo. Com previsões sombrias até 2050, a contabilidade ambiental tem mais um “ Para casa “, que é considerar as tabelas já prontas que estimam os valores incorporados de água nos alimentos, com a virtuosidade de quem sabe do papel e da importância que ela desempenha nos dias de hoje.

Carol Salsa, engenheira civil, pós-graduada em Mecânica dos Solos pela COPPE/UFRJ, Gestão Ambiental e Ecologia pela UFMG, Educação Ambiental pela FUBRA, Analista Ambiental concursada da FEAM ; Perita Ambiental da Promotoria da Comarca de Santa Luzia / Minas Gerais.

[EcoDebate, 10/03/2009]

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3 thoughts on “A consideração do valor econômico da água virtual, um virtuosismo na contabilidade ambiental? artigo de Carol Salsa

  • É possível vem em http://www.unicamp.br/fea/ortega/xml/batataPA400-m-data.xml que o valor da água obtida da chuva é aproximadamente o mesmo dos impostos e taxas. No caso da batata (lind) o valor de venda é de aproximadamente 32% do valor real, ou seja, existem mais energias virtuais sendo exportadas ou consumidas sem que se pague por elas.
    Serrano Neves

  • Álvaro R Santos

    Muito elucidativo e instigante o artigo da Engª Carol Salsa.
    Importante lembrar que o conceito de água virtual deve ser extendido também a produtos não naturais que, em sua produção, demandam o uso intensivo da água, como, por exemplo, o minério de ferro conduzido aos portos por minerodutos.
    Enfim, parabéns pelo artigo.
    Geól. Álvaro

  • Bem lembrado, Álvaro. Li hoje um artigo do Henrique Cortez que faz referência à água virtual . Diz ele: ” a água virtual está presente em tudo que usamos e consumimos, porque é parte de todos os processos de produção direta e indiretamente.”
    A sua menção é importante pois constitui mais um segmento em que os economistas e áreas afins poderão calcular o valor da água incorporada nos processos produtivos e estabelecer valores para disseminá-los nos meios de comunicação. Seria de grande valia. Podemos ler o artigo em : http://www4.fct.unesp.br/ceget/hidro.pdf

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