A maioria não reconhece a ligação da pecuária com doenças infecciosas
A maioria não reconhece a ligação da pecuária com doenças infecciosas
As pessoas culpam o comércio de animais selvagens ou a falta de preparação do governo para surtos epidêmicos, em oposição à pecuária e ao consumo global de carne
Por Olivia Miller*, University of Kent
Uma nova pesquisa liderada pela Escola de Psicologia da Universidade descobriu que as pessoas não reconhecem o papel da agricultura industrial em causar doenças infecciosas.
O estudo publicado pela Appetite demonstra que as pessoas culpam o comércio de animais selvagens ou a falta de preparação do governo para surtos epidêmicos, em oposição à pecuária e ao consumo global de carne.
Os cientistas avisaram sobre a iminência de pandemias globais como a Covid-19, mas a humanidade não conseguiu contornar sua chegada. Eles vinham alertando há décadas sobre os riscos das práticas agrícolas intensivas para a saúde pública. A escala de produção e as condições de superlotação nas fazendas industriais facilitam a migração e a disseminação de vírus. Além disso, a prática comum de alimentar animais de criação com antibióticos promove resistência antimicrobiana e ameaça a saúde pública.
Com o foco agora na necessidade de prevenir futuras pandemias e doenças zoonóticas, é fundamental que haja mais compreensão sobre as causas e riscos apresentados pela pecuária.
Este estudo liderado pelo Dr. Kristof Dhont (Kent), ao lado do Dr. Jared Piazza (Lancaster University) e do Professor Gordon Hodson (Brock University), explorou a compreensão e a opinião pública para determinar onde as pessoas colocam a culpa pelos surtos de doenças zoonóticas.
As descobertas mostram que, além de não reconhecer o papel prejudicial da pecuária industrial, aqueles que estão altamente comprometidos em comer carne lutam para reconhecer o consumo global de carne como um elo para o problema. Mesmo depois de ler sobre os riscos das fazendas industriais na propagação de doenças, os comedores de carne comprometidos estavam ainda menos convencidos das políticas para mudar ou banir a pecuária industrial do que das políticas que visam a melhor preparação para pandemias. No entanto, ao ler as mesmas informações sobre os mercados de animais selvagens, eles endossaram políticas para reduzir, regulamentar ou proibir os mercados de animais selvagens.
O Dr. Dhont disse: ‘À medida que as populações mundiais aumentam, nossa dependência da carne tende a crescer, tornando cada vez mais urgente enfrentar o papel prejudicial da agricultura intensiva e tomar medidas para virar a maré. Sem dúvida, a humanidade precisa estar mais bem preparada para lidar com surtos de doenças infecciosas – das quais estamos cada vez mais próximos. No entanto, é vital identificar e erradicar as causas das doenças infecciosas.
“O apetite por carne pode ser um obstáculo para se considerar o papel da pecuária na disseminação de doenças zoonóticas. A carne é um produto muito agradável para muitos, um fator que nos impede de tomar medidas em direção a um futuro mais seguro.
‘As soluções para este problema exigirão mudanças de política e sacrifícios pessoais, semelhantes a lidar com a emergência climática que se aproxima.’
Referência:
‘The role of meat appetite in willfully disregarding factory farming as a pandemic catalyst risk‘
Appetite, Volume 164, 1 September 2021, 105279 doi: 10.1016/j.appet.2021.105279
https://doi.org/10.1016/j.appet.2021.105279
Henrique Cortez*, tradutor e editor
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 17/05/2021
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