As exportações da China superam o PIB brasileiro
As exportações da China superam o PIB brasileiro, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
As exportações são um bom indicador do grau de competitividade das nações. Existe uma visão simplista da economia que considera dois modelos antagônicos de desenvolvimento: desenvolvimento voltado para fora e desenvolvimento voltado para dentro.
De modo geral se diz que a América Latina seguiu o primeiro modelo, com o processo de substituição de importações. Enquanto o Japão, os Tigres Asiáticos e a China seguiram o segundo modelo, com promoção das exportações (export-led). É claro que a discussão é muito mais complexa do que isto, mas o sucesso do leste asiático é evidente, especialmente quando comparado com a América Latina.
O gráfico abaixo mostra o valor do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e as exportações da China e do Brasil, em dólares correntes, segundo dados do FMI e da OMC. O contraste é evidente, o Brasil exportava mais do que a China e, em 1984, o Brasil exportou US$ 27 bilhões (14% do PIB) e a China exportou US$ 26 bilhões (8,3%). Mas, a partir de meados da década de 1980, as exportações da China subiram de forma exponencial e ultrapassaram o valor do PIB brasileiro. Em 2020, o Brasil – com um PIB de US$ 1,44 trilhão – exportou US$ 210 bilhões (14,6% do PIB), enquanto a China exportou US$ 2,6 trilhões (18% do PIB). Ou seja, as exportações da China cresceram tanto que ultrapassaram o valor total do PIB brasileiro.
Com o aumento da conquista de mercados externos a economia chinesa cresceu, se diversificou, se complexificou e passou a produzir produtos com maior valor agregado. O gráfico abaixo, também com dados do FMI e da OMC mostra os valores anteriores e o chinês. Até meados da década de 1990 os dois PIBs tinham valores parecidos. Mas o PIB da China deu um salto impressionante e chegou a quase US$ 15 trilhões em 2020, quando as exportações ficaram em US$ 2,6 trilhões (18% do PIB). O modelo “export-led” da China foi também um modelo “wage-led”, pois conjuntamente ao aumento das exportações houve ainda um aumento da renda, da educação, da saúde e dos indicadores sociais (o IDH da China passou de 0,499 em 1990 para 0,761 em 2019), uma melhoria geral da infraestrutura e um grande avanço tecnológico (só não houve avanço na área de defesa do meio ambiente).
O gráfico abaixo relativo à renda per capita (dólares correntes) do Brasil e da China, segundo dados do relatório WEO, do FMI, mostra que o Brasil tinha uma renda per capita de US$ 1,3 mil em 1980, enquanto a China tinha uma renda de US$ 307. Em 1990 a renda per capita brasileira passou para US$ 3,2 mil e a da China para US$ 347 (a renda brasileira quase 10 vezes maior). Mas, em 2020, a China já tinha uma renda de US$ 10,5 mil contra somente US$ 6,8 mil do Brasil.
Portanto, não existe contradição entre exportar e avançar com o mercado interno. As duas coisas podem ser feitas ao mesmo tempo. A vantagem de conquistar mercados externos é que a economia com sucesso internacional, geralmente, também tem sucesso nacional. Mas o contrário não é verdadeiro. Depois das reformas econômicas de Deng Xiaoping, no final da década de 1970, a China optou por fazer uma inserção soberana no processo de globalização e soube tirar vantagens da divisão internacional do trabalho. E fez tudo isto com inflação baixa e um grande acúmulo de reservas internacionais.
Na época de Mao Tsé-tung, a China era uma potência do Terceiro Mundo e agora caminha para ser a potência hegemônica do mundo, já dominando na área comercial. E conseguiu êxito combinando a conquista do mercado externo com grandes avanços do mercado interno e, em especial, com o aproveitamento do bônus demográfico e um grande avanço na qualificação da sua força de trabalho.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. China potência emergente e Brasil potência submergente, Ecodebate, 21/04/2021
https://www.ecodebate.com.br/2021/04/21/china-potencia-emergente-e-brasil-potencia-submergente/
ALVES, JED. A ascensão da China, a disputa pela Eurásia e a Armadilha de Tucídides. Entrevista especial com José Eustáquio Diniz Alves, IHU, Patrícia Fachin, 21 Junho 2018
http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/580107-a-ascensao-da-china-a-disputa-pela-eurasia-e-a-armadilha-de-tucidides-entrevista-especial-com-jose-eustaquio-diniz-alves
ALVES, JED. China, nova potência mundial Contradições e lógicas que vêm transformando o país. Revista do Instituto Humanitas Unisinos (IHU), China, nova potência mundial: Contradições e lógicas que vêm transformando o país. São Leopoldo, Nº 528, Ano XVIII, 17/9/2018 pp 51-58
http://www.ihuonline.unisinos.br/media/pdf/IHUOnlineEdicao528.pdf
ALVES, JDE. Os 70 anos da Revolução Comunista na China, Ecodebate, 27/09/2019
https://www.ecodebate.com.br/2019/09/27/os-70-anos-da-revolucao-comunista-na-china-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. O bônus demográfico impulsionou a renda do Leste Asiático, Ecodebate, 22/01/2021
https://www.ecodebate.com.br/2021/01/22/o-bonus-demografico-impulsionou-a-renda-do-leste-asiatico/
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 30/04/2021
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