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Cana ameaça sítios arqueológicos no AC

A expansão de lavouras de cana-de-açúcar no interior do Acre para a produção de álcool combustível ameaça sítios arqueológicos de até 2.500 anos descobertos com o desmatamento da floresta amazônica. Alguns dos chamados geoglifos estão sendo destruídos antes mesmo de serem estudados. Compostos de desenhos geométricos gigantes, esses sítios têm a forma de quadrados, círculos, quadrados dentro de círculos e círculos dentro de quadrados. Já foram descobertos um octógono e dois círculos que formam uma espécie de boneco, com cabeça e tronco. Matéria de Sérgio Torres. Enviado especial a Rio Branco da Folha de S.Paulo, 31/12/2007 – 11h38

Embora os primeiros geoglifos tenham sido descobertos há 30 anos, eles jamais foram estudados sistematicamente nem protegidos pelo poder público. Assim, à medida que a floresta ia sendo derrubada a partir do entorno da capital, Rio Branco, os sítios ficaram vulneráveis à ação humana.

Abertura de estradas, pastos, terraplenagens, assentamentos, torres de energia elétrica e atividades agrícolas são algumas ações que provocam a destruição total ou parcial dos geoglifos, que, por causa do tamanho, só podem ser vistos do alto. No chão, suas linhas são valas comuns, a maioria coberta por vegetação rasteira.

A mais nova ameaça é o plantio de cana-de-açúcar em terras desmatadas do município de Capixaba, a 60 km de Rio Branco. Já há 1.800 hectares plantados. O plano de expansão do empreendimento Usina Álcool Verde (95% de capital privado e 5% do governo do Acre) prevê 39,5 mil hectares até 2015, sempre em terrenos onde não há mais floresta. Só nessa área há nove geoglifos mapeados.

Em outubro, o Ministério Público do Estado do Acre suspendeu a licença ambiental da usina, na tentativa de preservar os sítios arqueológicos. A Álcool Verde está com seu processo de expansão suspenso até que seja feito por especialistas um estudo do impacto ambiental da lavoura canavieira nas áreas onde estão os geoglifos.

Zona de amortecimento

O Departamento de Patrimônio Histórico do Acre acaba de concluir um plano emergencial de preservação dos geoglifos na rota da cana. A chefe do órgão, Suely Melo, diz que a proposta é cercar os nove geoglifos já descobertos com “uma zona de amortecimento” de 1 km de diâmetro, na qual não se plantaria cana-de-açúcar.

A direção da usina anunciou que vai acatar o planejamento do Patrimônio Histórico acreano, embora anteveja prejuízos com a supressão de áreas que estavam destinadas ao plantio de cana-de-açúcar. Para o gerente administrativo e financeiro da Álcool Verde, Elânio Pereira da Silva, a delimitação de 1 km de proteção em volta dos geoglifos é exagerada.

Pereira da Silva disse que a empresa está realizando um mapeamento próprio a fim de averiguar se há mais geoglifos e sítios arqueológicos em sua área de expansão. De acordo com ele, por determinação do Ministério Público, não está havendo novos plantios, mas o beneficiamento da produção plantada prossegue.

Pesquisadora de geoglifos, a geógrafa Míriam Bueno, do Laboratório de Geoprocessamento da Ufac (Universidade Federal do Acre), diz que não é possível saber quantos desenhos já foram destruídos desde as primeiras descobertas, em 1977.

“Um proprietário rural se depara com aquela vala, não faz idéia do que é, passa o trator por cima, usa a vala, de uns dois metros de profundidade, para acumular água, bota o gado para pastar ali em cima. Isso não dá para medir”, disse.

Comentário do EcoDebate

O presidente Lula, reiteradas vezes, negou a existência de plantações de cana na Amazônia. Chegou a dizer, em tour pela Europa, que “Portugal chegou aqui em 1500 e há 470 anos introduziu a cana no Brasil e a cana não chegou à Amazónia por uma razão simples: os portugueses descobriram há muito tempo que a Amazónia Amazónia por uma razão simples: os portugueses descobriram há muito tempo que a Amazónia não é lugar de plantar cana porque a temperatura não é propícia para isso”.

Certamente estamos desatualizados com a nova geografia nacional, mas tínhamos a convicção que o Acre e o Pará integravam a Amazônia brasileira.

Henrique Cortez
coordenador do EcoDebate