A contaminação química cotidiana
[Por Henrique Cortez, do EcoDebate] Estamos, permanentemente, expostos a um ‘oceano’ de contaminantes químicos, sobre os quais nada sabemos. Incontáveis produtos químicos estão presentes em tudo que usamos, das embalagens de alimentos aos produtos de limpeza. Sem falar dos conservantes presentes nos próprios alimentos.
Nos últimos anos, diversas pesquisas apontam a toxidade de diversos destes produtos, como amplamente demonstrado os ftalatos e o bisfenol-A (BPA) , contra os quais crescem as campanhas para sua total abolição.
De acordo com o Blog GREENSPACE, do Los Angeles Times, no post “Environmentalists to sue for disclosure of chemicals in cleaning products” , ambientalistas norte-americanos iniciam processos judiciais contra as maiores industrias de produtos de limpeza, tais como Procter & Gamble e Colgate-Palmolive, para que informem detalhadamente a composição química de seus produtos e as pesquisas de segurança e toxidade.
As indústrias, permanentemente, se recusam a informar a exata composição de seus produtos e a Consumer Product Safety Commission, agência federal norte-americana responsável por regular os produtos de limpeza, não exige que a composição seja detalhada.
A indústria, dentre outros motivos, alega sigilo industrial, visando evitar a espionagem industrial por parte dos concorrentes. Na realidade, este é um ‘segredo de polichinelo’, porque os laboratórios industriais podem, com extrema facilidade, analisar e decompor qualquer produto no mercado. Bem, se a composição não é mantida em segredo por causa da concorrência, ela é segredo por causa de quem?
Vejamos um caso prático. Se a procurarmos a composição química na embalagem do ‘limpador de uso geral’ Veja Multi-Uso, da Reckitt Benckises (Brasil), leremos exatamente COMPOSIÇÃO: AQUIL BENZENO SULFONATO DE SÓDIO, ÁLCOOL ETOXILADO, COADJUVANTES, SEQUESTRANTE, FRAGÂNCIA E ÁGUA.
Sem declarar a concentração e proporção, pouco ou nada realmente informa, para fins de avaliação técnica da toxidade potencial.
Ao que tudo indica, será uma longa batalha judicial mas, pelo menos, a agência de proteção ambiental (Environmental Protection Agency, EPA) não se posicionará como aliada incondicional da industria, o que já é um grande avanço.
No Brasil enfrentamos os mesmos problemas, mas ainda temos alguns potencialmente muito piores.
Nos últimos anos vemos, com frequência, vendedores de desinfetantes e produtos de limpeza ‘artesanais’ circulando pelas nossas grandes cidades. São consumidos por serem muito mais baratos do que os produtos industriais, mas a única vantagem é apenas esta.
São produtos fabricados não se sabe por quem, onde ou como. Não existe qualquer informação, controle ou fiscalização de seu processo de fabricação ou de sua composição química.
Fabricados ilegalmente, em qualquer lugar, não são produzidos sob regras mínimas de segurança operacional e, certamente, não usam qualquer forma de tratamento de seus efluentes.
Os efluentes sem tratamento são descartados no esgoto sanitário ou, ainda pior, nas galerias pluviais, contaminando córregos e rios.
O Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas – SINITOX, vem alertando o aumento de casos de envenenamento doméstico de crianças, em razão destes desinfetantes e produtos de limpeza piratas que, frequentemente, usam embalagens PET de refrigerantes como vasilhames, induzindo as crianças ao erro.
Na questão da contaminação química, o Brasil, mais uma vez, está na situação peculiar de ter problemas do primeiro mundo simultaneamente a problemas do terceiro
[EcoDebate, 25/02/2009]
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