A década 2011-20 é a mais quente do Holoceno
A década 2011-20 é a mais quente do Holoceno, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
“As mudanças climáticas são uma ameaça existencial de médio prazo à civilização humana”
Nafeez Ahmed (03/06/2019)
O aquecimento global é uma realidade inexorável. A década de 2011-20 foi a mais quente desde o início do Holoceno (últimos 12 mil anos) e também aquela que apresentou a maior tendência de aumento da temperatura.
O gráfico abaixo mostra que a temperatura média das décadas entre 1880 e 1940 estava abaixo da média do século XX. As décadas de 1950 e 1960 ficaram próximas da média do século. Mas, a partir de 1970, as temperaturas subiram rapidamente. A primeira década do século XXI ficou 0,64º C acima da média do século XX e a década de 2011-20 ficou 0,82º C acima da média do século passado, conforme mostra o gráfico abaixo.
Os últimos 7 anos – que ocorreram entre 2014 e 2020 – foram os mais quentes da série histórica, conforme mostra o gráfico abaixo. O ano de 2014 apresentou temperatura 0,74º C acima da média do século XX, mas os anos de 2016 e 2020 apresentaram temperaturas praticamente 1º C acima da média do século XX, o que representa cerca de 1,25º C acima do período pré-industrial.
O gráfico abaixo mostra que o mundo ruma para a temperatura mais alta dos últimos 5 milhões de anos. A última vez que a temperatura ultrapassou os 2º C, no Planeta, foi no período Eemiano (há cerca de 120 mil anos) e provocou o aumento do nível dos oceanos em algo como 5 a 9 metros. Tudo indica que a temperatura no século XXI vai ultrapassar os 2º C em relação ao período pré-industrial. Isto pode ocorrer até 2040 e os prejuízos poderão ser incalculáveis.
Se o aquecimento global continuar no ritmo atual, a civilização estará no rumo de uma catástrofe. E o mais grave é que a autodestruição humana pode levar junto milhões de espécies que nada tem a ver com os erros egoísticos dos seres que se julgam superiores e os mais inteligentes do Planeta. A humanidade pode estar rumando para o suicídio, podendo também gerar um ecocídio e um holocausto biológico de proporções épicas.
O aquecimento global derrete o gelo dos polos, da Groenlândia e dos glaciares elevando o nível do mar e deixando bilhões de pessoas afetadas pela invasão da água salgada e escassez da água potável. A acidificação e a morte dos oceanos vai ter um impacto devastador para a humanidade. O aquecimento e a acidificação também vai afetar a agricultura e o preço dos alimentos deve subir, aumentando a insegurança alimentar e acendendo uma centelha capaz de incendiar grandes mobilizações de massa.
Para mitigar o aquecimento global, libertar-se dos combustíveis fósseis é essencial. Porém, está cada vez mais evidente que não basta mudar a matriz energética, descarbonizar a economia e promover uma maquiagem verde no processo de produção e consumo. É preciso, urgentemente, colocar na ordem do dia o debate sobre os meios de se promover o decrescimento das atividades antrópicas. A meta de redução da pobreza deve ser alcançada pelo decrescimento das desigualdades sociais e não pelo crescimento demoeconômico desenfreado.
Até a elite econômica de Davos, na Suíça, reconhece a gravidade da situação ecológica. O relatório do Fórum Econômico Mundial, de janeiro de 2020, afirma que a crise climática é o maior risco global, pois se nos anos anteriores os problemas econômicos eram considerados as maiores ameaças, agora os temores de colapso climático ficaram no centro do palco. As percepções de risco se desviaram para condições climáticas extremas, desastres ambientais, perda de biodiversidade, catástrofes naturais e falha na mitigação das mudanças do clima. Uma das estrelas do evento foi Greta Thunberg que reforçou a demanda pelo fim do uso dos combustíveis fósseis.
Assim, é preciso evitar a procrastinação e a inação. A 6ª extinção em massa das espécies e o agravamento do aquecimento global são apenas o prelúdio de um colapso ecossocial que se vislumbra no horizonte. O aquecimento global é a maior ameaça existencial à humanidade. Assim como existe uma emergência de saúde pública (por conta do coronavírus), existe também uma emergência climática por conta do aumento da temperatura global.
O mundo precisa aprender com o trauma da covid-19 e acordar para a urgência de se resolver os problemas ambientais do século XXI. Senão, como mostrou o jornalista David Wallace-Wells, teremos uma “Terra inabitável”.
José Eustáquio Diniz Alves
Colunista do EcoDebate.
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. A dinâmica demográfica global em uma “Terra inabitável”, Revista Latinoamericana de Población, Vol. 14 Núm. 26, dezembro de 2019
https://revistarelap.org/index.php/relap/article/view/239
ALVES, JED. Recorde de temperatura no sexênio (2014-2019): prelúdio do colapso ecossocial, Ecodebate, 20/01/2020
https://www.ecodebate.com.br/2020/01/20/recorde-de-temperatura-no-sexenio-2014-2019-preludio-do-colapso-ecossocial-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
AHMED, Nafeez. New Report Suggests ‘High Likelihood of Human Civilization Coming to an End’ Starting in 2050, Motherboard. Jun 3 2019
https://www.vice.com/en_us/article/597kpd/new-report-suggests-high-likelihood-of-human-civilization-coming-to-an-end-in-2050
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/01/2021
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