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O desafio logístico da distribuição de vacinas

 

vacina covid-19
Foto: REUTERS/Dado Ruvic/Direitos Reservados/Abr

O desafio logístico da distribuição de vacinas

Artigo de Roberto Pansonato

[EcoDebate] Realmente, e não é novidade para ninguém, estamos atravessando um ano totalmente atípico. Querendo ou não, boa parte dos noticiários nacionais e internacionais têm veiculado, diariamente, notícias sobre a covid-19. É claro que a maioria dos temas está relacionado à saúde das pessoas, o que é totalmente esperado e compreensível. No entanto, um setor prioritário para a população nos dias de hoje aparece também com frequência nos veículos de comunicação: a logística.

A partir do momento em que foram decretadas normas para o distanciamento social e as pessoas começaram a trabalhar em casa, houve um aumento significativo na demanda por serviços logísticos, tanto na entrega de alimentos e refeições quanto por meio de entregas de pedidos do comércio eletrônico (e-commerce), que têm alavancado a chamada entrega de última milha (last mile). Grandes empresas logísticas tiveram que se reinventar e ainda estão se reinventando para atender as novas demandas.

Com o passar dos meses, a possibilidade de que em breve a população terá vacinas que efetivamente combaterão a covid-19, ocasiona uma preocupação: como distribuir essas vacinas, em se tratando de um produto complexo, para uma enorme quantidade de pessoas e num curto prazo?

Novamente a logística no centro das atenções. Grandes empresas logísticas, como a alemã DHL, que opera em vários países ao redor do mundo, realiza inúmeros estudos para essa mega distribuição. Segundo a empresa, a nível mundial, serão necessários em torno de 10 bilhões de doses de vacina, levando-se em consideração uma população de 7,8 bilhões de pessoas e uma estimativa de imunização de 60%. Ou seja, algo realmente grandioso.

Em termos logísticos, citando apenas alguns exemplos, devem ser considerados os trâmites de importação, a quantidade necessária de aeronaves e veículos (levando em conta apenas os modais aeroviário e rodoviário), os armazéns especiais a serem utilizados, bem como a quantidade de pallets, embalagens especiais, etc. Provavelmente, o mesmo fornecedor da vacina não é o mesmo fornecedor das seringas e das agulhas, o que, pela enorme quantidade envolvida, se torna uma variável a mais no processo.

Se não bastasse todas as questões acima mencionadas, ainda temos a condição de refrigeração do produto, que pode variar em função do fabricante e da tecnologia utilizada. De uma forma geral, a temperatura de armazenamento seria em torno de 2°C a 8°C, o que traz uma preocupação a mais para a logística de um país tropical como o Brasil.

Há casos, que possivelmente não se aplicarão ao Brasil, de vacinas que necessitam ser armazenadas em temperaturas abaixo de 70°C. Segundo Jackson Campos, Head Global de Pharma & Healthcare na Asia Shipping, “será necessário muito, mas muito gelo seco, que é o material refrigerante mais utilizado em baixas temperaturas”.

O Ministério da Saúde, por meio do Manual de Rede de Frio, apresenta procedimentos específicos que regem as formas de como receber, armazenar, distribuir e transportar imunobiológicos, em especial as vacinas.

Entretanto, a logística deve ficar atenta para que não haja variações fora dos limites especificados que possam levar à perda dos produtos manuseados nessa complexa cadeia de distribuição.

Enfim, o Brasil tem um histórico positivo no que diz respeito à imunização da população e à distribuição de vacinas, no entanto, a demanda que se avista no horizonte é de proporção gigantesca e exige um planejamento logístico robusto.

Roberto Pansonato é professor tutor do Curso Superior de Tecnologia em Logística do Centro Universitário Internacional Uninter.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 11/12/2020

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