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Eletrificação do transporte coletivo deve ser prioridade nacional

 

Prefeitura de São Paulo entrega 100 ônibus elétricos - Frota de veículos elétricos da cidade chega a 428 ônibus, além de 201 trólebus já em operação; Capital deixará de emitir mais de 8 mil toneladas de CO2 anualmente
23 de Janeiro de 2025 – Prefeitura de São Paulo entrega 100 ônibus elétricos – Frota de veículos elétricos da cidade chega a 428 ônibus, além de 201 trólebus já em operação; Capital deixará de emitir mais de 8 mil toneladas de CO2 anualmente. Foto: Prefeitura da cidade de São Paulo

 

Brasil precisa priorizar eletrificação do transporte coletivo e de carga para reduzir emissões, melhorar qualidade do ar e democratizar mobilidade urbana sustentável.

Por Henrique Cortez

Em um cenário global de crescente preocupação climática, o Brasil encontra-se diante de uma encruzilhada estratégica em seu setor de transportes. É urgente e necessário que políticas públicas de eletrificação priorizem o transporte coletivo e de carga, não apenas os automóveis particulares, estabelecendo um caminho mais eficiente e sustentável para a descarbonização do país.

O setor de transporte representa um dos principais emissores de gases de efeito estufa no Brasil. Sua efetiva descarbonização exige uma transformação profunda, centrada no transporte público elétrico de massa – trens metropolitanos, metrôs, VLTs, BRTs e ônibus – além de veículos elétricos de carga e expansão do sistema ferroviário para reduzir emissões no transporte logístico.

Embora a eletrificação dos automóveis individuais tenha seu papel, as emissões globais de CO₂ seguem em trajetória ascendente, evidenciando a insuficiência desta abordagem isolada. Especialistas são unânimes ao defender que políticas de mobilidade sustentável precisam ir muito além da simples substituição da frota particular por veículos elétricos.

Porque o Brasil deve priorizar o transporte coletivo elétrico

O Brasil possui características únicas que tornam a eletrificação do transporte coletivo particularmente relevante. Com uma matriz energética predominantemente renovável, o país tem potencial para maximizar os benefícios ambientais da eletrificação, reduzindo drasticamente as emissões do setor quando comparado a nações dependentes de combustíveis fósseis para geração elétrica.

Nos grandes centros urbanos brasileiros, onde milhões de pessoas dependem diariamente do transporte público, a substituição de ônibus a diesel por modelos elétricos representaria não apenas ganhos ambientais, mas também benefícios à saúde pública pela redução da poluição atmosférica e sonora. Estima-se que a poluição do ar nas metrópoles brasileiras seja responsável por milhares de mortes prematuras anualmente.

No setor de cargas, a eletrificação e expansão do transporte ferroviário poderia transformar a logística nacional, reduzindo custos e emissões em um país de dimensões continentais. O Brasil, com sua infraestrutura ferroviária historicamente deficitária, tem muito a ganhar com investimentos nessa modalidade – tanto em termos de eficiência econômica quanto ambiental.

Os limites da eletrificação individual

Políticas focadas exclusivamente na transição de carros convencionais para elétricos revelam-se inadequadas diante da emergência climática. Mesmo eliminando emissões diretas durante seu uso, os veículos elétricos particulares apresentam limitações importantes: a energia para recarga, embora mais limpa no Brasil que em outros países, ainda possui pegada de carbono, e os processos industriais para fabricação de baterias mantêm considerável impacto ambiental.

Ademais, o simples crescimento da frota de automóveis – elétricos ou não – intensifica congestionamentos, eleva o consumo energético total e perpetua um modelo de desenvolvimento urbano insustentável, centrado no transporte individual. O resultado é a manutenção de elevados níveis de emissões globais e de desigualdades no acesso à mobilidade.

Uma abordagem sistêmica para a transição energética

A verdadeira descarbonização do transporte requer uma abordagem sistêmica por parte dos governos, integrando incentivos ao transporte público eletrificado, planejamento urbano orientado à mobilidade sustentável, infraestrutura adequada para modos ativos (bicicletas e pedestres) e políticas que reduzam estruturalmente a dependência do automóvel individual.

No contexto brasileiro, onde milhões de pessoas não têm acesso a transporte particular, priorizar o transporte coletivo elétrico representa também uma questão de justiça social.

Para grande parte da população, o transporte público é a única opção de mobilidade – melhorá-lo e torná-lo mais sustentável significa democratizar o acesso à cidade e seus serviços.

A transformação do setor de transportes brasileiro através da eletrificação coletiva não apenas contribuiria significativamente para as metas climáticas do país, mas também geraria oportunidades econômicas.

O desenvolvimento de uma cadeia produtiva nacional voltada à mobilidade elétrica poderia criar empregos qualificados e impulsionar inovação tecnológica em setores estratégicos.

O momento para esta mudança de paradigma é agora. Enquanto o mundo avança em direção a um futuro de baixo carbono, o Brasil tem a chance de liderar este processo em seu território, priorizando soluções coletivas que maximizem os benefícios ambientais, sociais e econômicos da eletrificação dos transportes.

Henrique Cortez, jornalista e ambientalista. Editor do EcoDebate.

 
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
 

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