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Estudo revela impactos de longo prazo das enchentes na saúde

 

Pesquisa conduzida pela Universidade Monash, na Austrália, revela evidências alarmantes sobre os efeitos de longo prazo das inundações na saúde física e mental das populações afetadas.

Considerada a maior pesquisa já realizada sobre o tema, o estudo lança luz sobre consequências que podem persistir por anos após os desastres.

Impactos duradouros além da tragédia imediata

A pesquisa acompanhou milhares de pessoas afetadas por inundações em diferentes regiões do mundo. Os resultados demonstram que, muito além dos danos materiais e das mortes imediatas, as inundações deixam marcas profundas na saúde das comunidades atingidas.

“As consequências das inundações não terminam quando as águas baixam. Nossos dados mostram que os sobreviventes enfrentam desafios de saúde significativos por anos após o evento”, explica o coordenador do estudo.

Saúde mental: um problema silencioso e persistente

Entre os achados mais preocupantes está o aumento significativo de transtornos mentais, como depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Os pesquisadores identificaram que pessoas que perderam suas casas ou entes queridos durante inundações têm até três vezes mais probabilidade de desenvolver problemas de saúde mental graves.

O estudo também aponta que os sintomas de TEPT podem se manifestar até dois anos após o desastre, quando muitas vezes o apoio psicológico inicial já foi retirado das comunidades.

Doenças respiratórias e infecciosas aumentam após inundações

No campo da saúde física, o estudo documentou um aumento expressivo de problemas respiratórios nas populações afetadas. O mofo e a umidade que permanecem nas estruturas das casas após as inundações são fatores determinantes para o desenvolvimento de asma e outras condições respiratórias, especialmente em crianças e idosos.

Doenças infecciosas também apresentaram picos em áreas inundadas, com surtos de leptospirose, hepatite A e infecções gastrointestinais registrados meses após as águas recuarem, devido à contaminação de fontes de água potável e sistemas de esgoto danificados.

Populações vulneráveis são as mais afetadas

A pesquisa indica que as consequências das inundações não são sentidas de forma igual por toda a população. Comunidades de baixa renda, idosos, pessoas com deficiência e aqueles com condições de saúde preexistentes enfrentam riscos muito maiores e têm menos recursos para lidar com as consequências.

“Existe uma clara disparidade na capacidade de recuperação. Famílias de baixa renda muitas vezes não têm seguro adequado, poupança ou redes de apoio para se recuperarem completamente”, destaca o estudo.

Implicações para políticas públicas

Os pesquisadores enfatizam que os resultados devem direcionar novas políticas públicas em resposta a desastres naturais. Eles recomendam:

  • Programas de apoio psicológico que continuem por pelo menos 24 meses após desastres
  • Monitoramento da qualidade do ar e da água em áreas afetadas por até cinco anos
  • Atenção especial à saúde de populações vulneráveis durante a fase de reconstrução
  • Integração de estratégias de saúde mental aos planos de resposta a desastres

Relevância para o Brasil

Para o Brasil, país que enfrenta inundações recorrentes em diversas regiões, o estudo traz alertas importantes. Eventos como as enchentes recentes no Rio Grande do Sul e as tragédias históricas na região serrana do Rio de Janeiro demonstram a vulnerabilidade do país a esses desastres.

Especialistas brasileiros enfatizam que os resultados da pesquisa australiana reforçam a necessidade de uma abordagem mais abrangente e de longo prazo para gerenciar as consequências das inundações no país.

Os pesquisadores destacam a necessidade de políticas públicas que incluam:

  • Monitoramento de saúde prolongado para vítimas de inundações.
  • Investimento em infraestrutura para reduzir riscos em áreas suscetíveis.
  • Apoio psicossocial contínuo, além de auxílio emergencial.

“Precisamos ir além da resposta emergencial e reconstrução de infraestrutura. Este estudo nos mostra que é essencial incluir cuidados de saúde continuados e monitoramento epidemiológico nas áreas afetadas por vários anos”, afirma a Dra. Helena Santos, epidemiologista da Fiocruz não envolvida no estudo.

Mudanças climáticas amplificam o problema

Os pesquisadores alertam que, com as mudanças climáticas aumentando a frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, a compreensão dos impactos de longo prazo das inundações torna-se ainda mais crucial.

As inundações não são apenas desastres pontuais, mas eventos com efeitos duradouros que exigem ações integradas de saúde pública. Como afirmam os autores, “proteger as populações após as águas baixarem é tão crucial quanto o resgate imediato”

“Este não é apenas um problema do passado ou do presente, mas uma crise de saúde pública que provavelmente se intensificará no futuro próximo”, conclui o estudo.

 

Dias anuais de inundação das comunidades incluídas durante o período de estudo

Dias anuais de inundação das comunidades incluídas durante o período de estudo

Referência:

Yang, Z., Huang, W., McKenzie, J.E. et al. Hospitalization risks associated with floods in a multi-country study. Nat Water (2025). https://doi.org/10.1038/s44221-025-00425-8

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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One thought on “Estudo revela impactos de longo prazo das enchentes na saúde

  • Laura Lourenço

    Sou autora e amando o conteúdo do site. Parabéns!

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