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Artigo

Vamos falar de petróleo?

bioeconomia x petróleo

 

Se queremos gerar riquezas, reduzir a pobreza e frear a destruição ambiental, é essencial garantir condições justas para a biodiversidade

Artigo de João Capiberibe*

Sim, acho bom! Afinal, é só do que se fala ultimamente no Amapá, e eu, como morador daqui, quero entrar nessa conversa. Tem gente espalhando que, se o Ibama aprovar a licença ambiental para a Petrobras perfurar o centésimo décimo segundo poço de pesquisa de petróleo na costa do Amapá, no dia seguinte vai “chover petróleo” e todo mundo vai ficar rico.

Será? O Ibama vai aprovar?

Sim! E não deve demorar. Sabe por que digo isso? Porque, desde 1970, o Ibama já autorizou a perfuração de 111 poços de pesquisa na costa do Amapá. Por qual razão negaria licença para mais um?

Êpa! Existe um motivo: o descumprimento, por parte da Petrobras, das exigências do Ibama. Mas esse não é o caso, pois a Petrobras já anunciou que a última grande exigência feita pelo órgão — a construção do Centro de Proteção à Fauna em Oiapoque (AP) — foi atendida. Portanto, com a última pendência resolvida, o Ibama deverá emitir a licença ambiental para que a Petrobras pesquise petróleo na costa do Amapá.

Pesquisa não é produção: o que significa perfurar um “poço de pesquisa”?

    Objetivo: A perfuração de poços de pesquisa (como os 111 já autorizados) serve para avaliar a viabilidade geológica da região, ou seja, descobrir se existe petróleo, em qual quantidade e qualidade.

    Custo e tempo: Mesmo que haja indícios de petróleo, são necessários anos de estudos adicionais, investimentos bilionários em infraestrutura e novas licenças para que a produção possa começar. Um poço de pesquisa não é sinônimo de exploração imediata.

  “Chover petróleo e riqueza”? A realidade econômica por trás do discurso:

       Ciclo longo: Do descobrimento à produção comercial, podem passar de 10 a 15 anos. Além disso, o petróleo offshore (extraído em alto-mar) é um dos mais caros do mundo para explorar, exigindo preços elevados no mercado global para ser economicamente viável.

        Tendências globais: Há uma verdadeira corrida global por energia limpa e renovável para substituir os combustíveis fósseis, que emitem gases de efeito estufa e contribuem para o aumento da temperatura do planeta, desencadeando tragédias ambientais com perdas humanas e materiais inimagináveis. As energias renováveis estão se tornando cada vez mais competitivas em termos de custo e, com sua adoção crescente nos veículos elétricos, podem provocar a queda do preço futuro do petróleo.

  Conclusão

A exploração de petróleo exige grandes investimentos em pesquisa e um longo período de espera até o início da produção comercial, gerando empregos e riquezas ao longo do processo. No entanto, em vez de depender de um recurso incerto e de alto custo de extração, não seria mais sensato e viável investir também no desenvolvimento das cadeias produtivas da biodiversidade amazônica

A floresta já oferece uma infinidade de espécies com alto valor econômico, como óleos vegetais, frutos, resinas e plantas medicinais. Basta colhê-los, industrializá-los e colocá-los no mercado. Apostar nesses recursos renováveis pode proporcionar um crescimento sustentável mais rápido para a região, sem os riscos e a volatilidade do mercado de petróleo.

Se queremos gerar riquezas, reduzir a pobreza e frear a destruição ambiental, é essencial garantir condições justas para a biodiversidade. Isso significa destinar a ela, pelo menos, uma parte dos bilhões investidos—como os gastos na perfuração de 111 poços sem resultados na costa do Amapá.

Finalizo informando que em três anos, o empreendimento Flor da Samaúma, Ecoturismo e Bioeconomia, criado por mim e minha companheira Janete, pesquisou, desenvolveu e colocou no mercado, produtos inovadores de padrão internacional a partir de espécies abundantes da biodiversidade amazônica. Venha nos conhecer: @flor.da.samauma.  

*João Capiberibe, ex-governador, ex-senador do estado Amapá, ativista pelo desenvolvimento humano e sustentável da Amazônia.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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