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Como ideologia afeta o apoio a políticas climáticas?

 

Apoio público às políticas climáticas: diferenças ideológicas entre o Norte e o Sul Global

O debate sobre as mudanças climáticas têm ganhado cada vez mais destaque no cenário global, mas o apoio público às políticas climáticas varia significativamente entre países do Norte Global (desenvolvidos) e do Sul Global (em desenvolvimento).

Um estudo recente publicado na revista Environmental and Resource Economics, intitulado “Public support for climate policies and its ideological predictors across countries of the Global North and Global South”, de autoria de Christian Bretter e Felix Schulz, analisa como fatores ideológicos influenciam o apoio a essas políticas em diferentes contextos socioeconômicos.

O artigo oferece insights valiosos para entender as barreiras e oportunidades na implementação de medidas climáticas eficazes.

Metodologia e escopo do estudo

Os autores conduziram uma pesquisa abrangente amostras representativas de cada um dos três países do Norte Global (Alemanha, Reino Unido, EUA) e países do Sul Global (Brasil, China e África do Sul) – entre os quais os maiores emissores nos seus respectivos continentes, contribuindo para 49,3% das emissões globais de carbono.

A pesquisa buscou entender como fatores como eficácia percebida das políticas, impactos distributivos e ganhos ou perdas pessoais influenciam o apoio às políticas climáticas.

Além disso, foram considerados fatores como desenvolvimento econômico, desigualdade social e exposição a impactos climáticos.

Principais conclusões

  1. Divergências ideológicas no Norte Global: Nos países desenvolvidos, a ideologia política mostrou-se um forte preditor do apoio às políticas climáticas. Indivíduos com tendências à esquerda tendem a apoiar mais fortemente medidas como taxação de carbono e investimentos em energias renováveis. Já os de direita, muitas vezes associados a valores de livre mercado e ceticismo em relação à intervenção estatal, são mais resistentes a essas políticas.

  2. Contexto socioeconômico no Sul Global: Nos países em desenvolvimento, a ideologia política tem um papel menos determinante. O apoio às políticas climáticas está mais ligado a preocupações práticas, como a vulnerabilidade aos impactos das mudanças climáticas e a necessidade de desenvolvimento econômico. Muitos cidadãos veem as políticas climáticas como uma oportunidade para melhorar a qualidade de vida e reduzir desigualdades, desde que não comprometam o crescimento econômico.

  3. Desigualdade e justiça climática: O estudo destaca que, no Sul Global, a percepção de justiça climática é crucial. Políticas que são vistas como impostas por países ricos, sem considerar as necessidades locais, tendem a enfrentar resistência. Por outro lado, iniciativas que promovem equidade e benefícios tangíveis para a população local têm maior aceitação.

  4. Impacto da educação e conscientização: Em ambos os contextos, a educação e a conscientização sobre as mudanças climáticas desempenham um papel importante no aumento do apoio às políticas climáticas. No entanto, no Sul Global, a falta de acesso a informações e recursos educacionais pode limitar esse efeito.

Implicações para políticas públicas

As conclusões do estudo têm implicações significativas para formuladores de políticas e ativistas climáticos. No Norte Global, é essencial superar a polarização ideológica, promovendo diálogos que conectem as políticas climáticas a valores compartilhados, como segurança econômica e proteção ambiental.

Já no Sul Global, as políticas devem ser adaptadas às realidades locais, enfatizando cobenefícios como criação de empregos, redução da pobreza e resiliência climática.

Além disso, o estudo reforça a necessidade de cooperação internacional justa e equitativa. Países desenvolvidos devem assumir a liderança na redução de emissões e no financiamento de ações climáticas no Sul Global, reconhecendo suas responsabilidades históricas e capacidades econômicas.

Para aumentar o apoio público às políticas climáticas, os formuladores de políticas devem:​

  • Comunicação eficaz: Explicar claramente como as políticas funcionam e quem se beneficia delas pode aumentar o apoio público.

  • Considerar impactos sociais: Garantir que as políticas não prejudiquem desproporcionalmente as populações vulneráveis é essencial para manter o apoio público.​

  • Engajamento público: Incorporar as preocupações e sugestões do público no processo de formulação de políticas pode levar a soluções mais aceitáveis e eficazes.​

Síntese

O artigo de Bretter e Schulz oferece uma análise abrangente das complexidades do apoio público às políticas climáticas, destacando as diferenças entre o Norte e o Sul Global.

Enquanto a ideologia política é um fator central nos países desenvolvidos, no Sul Global, as preocupações práticas e a justiça climática são mais relevantes.

Para avançar na agenda climática global, é crucial adotar abordagens contextualizadas que considerem essas diferenças e promovam a colaboração internacional.

O estudo serve como um alerta: sem um entendimento profundo das dinâmicas locais e globais, a transição para uma economia de baixo carbono pode enfrentar resistência insuperável.

A hora de agir é agora, mas a ação deve ser inclusiva, justa e adaptada às realidades de cada região.

Environmental and Resource Economics

Referência: Bretter, C., & Schulz, F. (2025). Public support for climate policies and its ideological predictors across countries of the Global North and Global South. Environmental and Resource Economics. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0921800925000862

 
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
 

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