Todos dependemos das florestas, direta ou indiretamente
As florestas sustentam a vida, garantem segurança alimentar e hídrica. Protegê-las é crucial para o futuro do planeta e a nossa sobrevivência
Por Shankar Adhikari e Professor Craig Nitschke, Universidade de Melbourne
Devido à sua importância para a vida na Terra, as florestas ganharam o apelido de “pulmões do planeta” por seu papel na produção de oxigênio e na absorção de dióxido de carbono.
Cobrindo 31% da superfície terrestre global, as florestas também abrigam a maior parte da biodiversidade terrestre do planeta — a variedade de formas de vida na superfície da Terra.
Essa biodiversidade fornece medicamentos, sustento e alimentos para mais da metade da humanidade, com os nutrientes essenciais das florestas sustentando milhões de pessoas, especialmente aquelas que vivem próximas ou dentro dessas áreas.
Mas esses ecossistemas florestais estão em perigo.
A cada ano, perdemos 10 milhões de hectares de florestas devido ao desmatamento, seja por desmatamento total ou exploração madeireira, e aproximadamente 70 milhões de hectares de florestas são degradados por incêndios.
Em uma trágica ironia, embora as florestas ofereçam diversos benefícios, incluindo alimentos e nutrientes, a expansão agrícola sobre áreas florestais continua sendo o principal fator de desmatamento, fragmentação das florestas e perda associada de biodiversidade.
Florestas e meios de subsistência
As florestas fornecem mais de 86 milhões de empregos e sustentam o modo de vida de muitas outras pessoas.
Elas são a principal fonte de renda rural em muitos países e regiões, contribuindo significativamente para o sustento das populações rurais.
Mais de 90% das pessoas que vivem em extrema pobreza dependem das florestas para, pelo menos, parte de sua subsistência.
Para as famílias mais pobres em áreas rurais, as florestas e as árvores podem fornecer até 20% da renda, permitindo o acesso a alimentos nutritivos e a diversificação da dieta.
Mas as florestas contribuem ainda mais para os meios de subsistência da população rural por meio do uso de produtos florestais para subsistência, como alimentos, forragem e plantas medicinais, além da renda gerada com a venda de produtos florestais não madeireiros.
As florestas também fornecem energia para cozinhar, tornando os alimentos comestíveis para muitas famílias rurais, com mais de dois bilhões de pessoas ainda utilizando lenha para cozinhar.
As florestas sustentam a agricultura
Reconhecendo o papel essencial das florestas na segurança alimentar, o tema do Dia Internacional das Florestas da ONU (IDF) de 2025 será “Floresta e Alimentos”, destacando as funções cruciais das florestas, tanto diretas quanto indiretas, na segurança alimentar, na nutrição e nos meios de subsistência.
Acima de tudo, as florestas são vitais para a agricultura e apoiam as práticas agrícolas rurais de diversas maneiras.
Por exemplo, as florestas ajudam a manter a saúde do solo e a reter água, regulando seu fluxo e reduzindo a intensidade do escoamento superficial.
Isso ajuda a prevenir enchentes repentinas e garante a disponibilidade de água para plantas e pessoas.
Florestas saudáveis abrigam polinizadores essenciais, como abelhas, algumas espécies de moscas, borboletas, mariposas, besouros, pássaros, morcegos e outros vertebrados que ajudam na polinização das culturas, aumentando a produtividade e a qualidade das colheitas.
Em um caso documentado, polinizadores provenientes de florestas aumentaram a produção de café em 20% em áreas situadas a até um quilômetro de uma floresta.
Eles também melhoraram a qualidade do café em áreas adjacentes a florestas na Costa Rica, onde a paisagem inclui plantações de café, fragmentos florestais e outras áreas agrícolas.
As florestas regulam a temperatura, atuam como barreiras naturais contra o vento para as plantações e aumentam a ocorrência de chuvas. Tudo isso contribui para sustentar a agricultura e, em última instância, garantir alimentos na nossa mesa.
Segurança alimentar e os supermercados da natureza
Mais de cinco bilhões de pessoas em todo o mundo utilizam produtos florestais madeireiros e não madeireiros para alimentação, medicina e sustento.
Com essa ampla diversidade de alimentos e serviços, podemos considerar as florestas como verdadeiros “supermercados da natureza”.
As florestas contribuem para a segurança alimentar das comunidades ao fornecerem uma fonte rica de alimentos silvestres, como nozes, frutas, sementes, raízes, tubérculos, folhas, cogumelos, mel, carne de caça e insetos.
A carne silvestre das florestas é uma fonte vital de proteínas e micronutrientes, especialmente para povos indígenas e comunidades locais em regiões tropicais.
Mais de 3.200 espécies de animais selvagens já foram utilizadas como alimento.
Os alimentos provenientes das árvores atuam como uma rede de segurança, especialmente durante períodos sazonais de escassez de alimentos nas zonas rurais, permitindo que os habitantes respondam a crises e preencham lacunas na oferta alimentar.
Apesar de sua importância essencial para a subsistência, esses alimentos silvestres colhidos são frequentemente negligenciados dentro dos sistemas alimentares que garantem a segurança alimentar de pelo menos um bilhão de pessoas.
Florestas e segurança hídrica
Além dos benefícios tangíveis, as florestas sustentam indiretamente nossa segurança alimentar e nutrição por meio do papel vital que desempenham no ciclo da água na Terra.
As bacias hidrográficas florestadas fornecem mais de 75% da nossa água doce — contribuindo tanto para a segurança alimentar quanto para a segurança hídrica de mais da metade da população mundial.
Atuando como reservatórios naturais de água, as florestas regulam a disponibilidade, a qualidade e a distribuição da água, garantindo um fornecimento estável para a agricultura.
Isso assegura a estabilidade da produção agrícola e da criação de animais, ao mesmo tempo em que mantém funções protetoras, como a prevenção da erosão do solo e a preservação de terras férteis necessárias para o cultivo.
Transformação do sistema alimentar
Embora o desmatamento tenha diminuído de 16 milhões de hectares por ano na década de 1990 para 10 milhões de hectares anuais entre 2015 e 2020, essa perda ainda é alarmante.
As práticas de produção de alimentos que causam desmatamento incluem a pecuária extensiva, o cultivo de óleo de palma e a produção de soja.
Essas atividades impulsionam a conversão de florestas em áreas agrícolas, resultando na perda de ecossistemas florestais e dos serviços ambientais associados.
A conversão de florestas para a agricultura é impulsionada tanto pela demanda interna quanto pela internacional por alimentos e produtos florestais, principalmente pelo consumo em países economicamente desenvolvidos.
Isso ameaça a capacidade das florestas de fornecer bens e serviços essenciais, incluindo a segurança alimentar.
Inovações como a agroecologia ajudam a restaurar a produtividade de terras agrícolas degradadas e a reduzir a pressão sobre as florestas.
A agroecologia integra princípios ecológicos à agricultura para melhorar seu desempenho e minimizar os impactos ambientais negativos.
Práticas agroecológicas comuns incluem cultivo de cobertura, agrofloresta, consórcio de culturas, cobertura morta, conservação do solo e da água, e uso eficiente de fertilizantes.
O sucesso depende também da participação de consumidores e empresas, que podem contribuir comprando produtos de cadeias produtivas sustentáveis e livres de desmatamento, provenientes de países comprometidos com o desmatamento zero.
O Regulamento da União Europeia sobre o Desmatamento (EUDR), que entrará em vigor em 30 de dezembro de 2025, é um passo importante nessa direção.
O EUDR foi criado para reduzir o impacto do mercado consumidor europeu sobre as florestas globais, impedindo que produtos provenientes da expansão agrícola entrem na UE.
Isso deve estimular uma maior responsabilidade ambiental e social das empresas europeias que importam produtos agrícolas e florestais.
Direta ou indiretamente, todos dependemos das florestas. Proteger e restaurar nossas florestas não beneficiará apenas os próprios ecossistemas florestais, mas também todas as pessoas cujos meios de vida são sustentados pelos diversos serviços ambientais que as florestas fornecem.
Fonte: University of Melbourne
Henrique Cortez *, tradução e edição.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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