Degelo dos Andes ameaça abastecimento de 90 milhões de pessoas
O aquecimento global está acelerando o desaparecimento das geleiras andinas, colocando em risco a segurança hídrica e alimentar de milhões na América do Sul.
Cientistas apresentam um alerta contundente: o derretimento acelerado das geleiras dos Andes ameaça o abastecimento de água para cerca de 90 milhões de pessoas na América do Sul. O fenômeno, impulsionado pelas mudanças climáticas, já reduziu a espessura das geleiras em 0,7 metro por ano, uma taxa 35% mais rápida que a média global.
As geleiras andinas, que se estendem por Argentina, Chile, Bolívia, Peru, Equador e Colômbia, são fundamentais para o abastecimento de água potável, geração de energia hidrelétrica, irrigação de cultivos e sustentação da pecuária. No entanto, o aquecimento global está colocando em risco essa fonte vital de recursos.
O relatório “The future of the Andean water towers“, elaborado por pesquisadores das universidades de Sheffield e Newcastle, destaca que o derretimento acelerado das geleiras pode levar a uma crise hídrica e alimentar sem precedentes na região.
Cenário alarmante
De acordo com o relatório, as geleiras dos Andes tropicais podem desaparecer quase completamente em um futuro próximo, enquanto outras áreas da cordilheira podem perder mais da metade de sua cobertura glacial. Esse cenário catastrófico é resultado do aumento das temperaturas globais, que intensificam eventos climáticos extremos, reduzem as nevadas e aumentam a frequência de secas na região.
Os cientistas destacam que o ritmo de derretimento das geleiras acelerou significativamente nas últimas décadas, com perdas de gelo sem precedentes após o ano 2000. Esse período coincide com o aumento das emissões globais de gases de efeito estufa, que alimentam as mudanças climáticas.
Apesar dos compromissos assumidos no Acordo de Paris de 2015, que visava limitar o aquecimento global a 1,5°C, as metas já foram ultrapassadas em vários meses de 2024. Projeções recentes indicam que, em um cenário de aquecimento superior a 2°C, vastas áreas dos Andes podem ficar completamente sem gelo até 2100.
Impactos socioeconômicos do derretimento de geleiras nos Andes
O desaparecimento das geleiras terá consequências devastadoras para as populações que dependem delas.
Com a diminuição do suprimento de água, muitos países serão forçados a investir em infraestrutura de armazenamento, como represas, para mitigar a escassez. No entanto, os custos desses projetos são proibitivos para muitas nações mais pobres e vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas.
Além disso, o relatório enfatiza a necessidade de uma gestão mais eficiente dos recursos hídricos, considerando as mudanças nos sistemas naturais e humanos, bem como as alterações na oferta e demanda de água na região. Os cientistas argumentam que, além de reduzir as emissões de carbono, é essencial adotar políticas adaptativas para garantir a segurança hídrica e alimentar das populações afetadas.
O alerta dos pesquisadores é claro: sem ações urgentes para combater as mudanças climáticas e proteger as geleiras dos Andes, milhões de pessoas enfrentarão escassez de água, insegurança alimentar e instabilidade socioeconômica.
O relatório serve como um apelo global para que líderes políticos, organizações internacionais e a sociedade civil unam esforços para preservar esses ecossistemas críticos e garantir um futuro sustentável para as gerações futuras.
Enquanto o mundo observa o derretimento acelerado das geleiras andinas, a mensagem é clara: o tempo para agir é agora.
Referência:
Davies et al., 2025. Policy brief: the future of the Andean water towers. Newcastle University, Newcastle, UK. 20 pp.
https://www.antarcticglaciers.org/wp-content/uploads/2025/03/Policybrief_V3_continuous_booklet.pdf
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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