EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Notícia

Empresas ignoram ou abandonam metas climáticas sem consequências

 

 

Quase 40% das empresas não cumpriram ou abandonaram metas climáticas sem responsabilização, aponta estudo

Quando uma empresa não atinge suas metas financeiras, as consequências costumam ser imediatas: queda no valor das ações, manchetes negativas e, em alguns casos, até a substituição de CEOs. No entanto, quando o assunto é o descumprimento de metas climáticas autoimpostas, o silêncio parece ser a resposta mais comum.

É o que revela um estudo recente coautorado por Shawn Kim, professor da Haas School of Business, e destacado na capa da edição de março da revista Nature Climate Change.

A pesquisa mostra que quase 40% das empresas que estabeleceram metas de redução de emissões para 2020 não as cumpriram ou simplesmente pararam de reportar seus progressos antes do prazo final.

O estudo identificou uma lacuna de responsabilização: essas empresas não enfrentaram penalidades significativas de mercado ou consequências por parte de stakeholders.

A pesquisa, realizada em parceria com Xiaoyan Jiang, da Stern School of Business da Universidade de Nova York, e Shirley Lu, da Harvard Business School, analisou mais de 1.000 empresas que estabeleceram metas de redução de emissões de gases de efeito estufa com prazo até 2020. Juntas, essas empresas representam cerca de 5% das emissões globais anuais. Os resultados mostram que:

  • 61% das empresas atingiram suas metas;
  • 9% falharam;
  • 31% “desapareceram”, ou seja, pararam de reportar seus progressos de forma discreta.

As maiores taxas de sucesso foram observadas em empresas sediadas em economias desenvolvidas com maior liberdade de imprensa, segundo os pesquisadores.

Entre as 88 empresas que não cumpriram suas metas:

  • Apenas um terço reconheceu o fracasso em relatórios de sustentabilidade;
  • Apenas três receberam cobertura da mídia;
  • Não houve movimentação significativa no valor das ações, queda nas pontuações ambientais, declínio no sentimento da mídia ou aumento no engajamento dos acionistas.

Os pesquisadores dividiram as 320 empresas que pararam de reportar suas metas em dois grupos: líderes e retardatários. Os retardatários removeram suas metas silenciosamente, presumivelmente após perceberem que não as atingiriam, enquanto os líderes atualizaram suas metas para 2020 com objetivos mais ambiciosos para 2030 e além.

Entre as empresas que “desapareceram” e tinham metas absolutas, os pesquisadores calcularam que cerca de 63% não teriam alcançado seus objetivos caso continuassem a reportar. Os setores de materiais e energia tiveram as menores taxas de sucesso, enquanto saúde e finanças — indústrias menos intensivas em carbono — se saíram melhor.

Lacuna de responsabilização

Kim destaca que os resultados apontam para a necessidade de maior apoio institucional para a divulgação, auditoria e monitoramento de metas de emissões, assim como ocorre com as metas financeiras. Afinal, as metas climáticas levaram a reduções significativas — um progresso crucial no combate ao aquecimento global que precisa continuar. “O problema é que o framework de divulgação de carbono ainda está em desenvolvimento”, explica Kim. “Não há uma verificação ou auditoria forte dessas informações.”

Sem responsabilização, “as empresas têm a oportunidade de praticar greenwashing, pois sabem que podem se beneficiar ao anunciar metas sem arcar com custos ao não cumpri-las”. A falta de fiscalização levanta preocupações sobre a credibilidade das metas para 2030 e 2050.

Embora a recente reação contra os padrões ESG (Environmental, Social, and Governance) possa afetar a disposição de algumas empresas em estabelecer metas de emissões, Kim expressou otimismo de que a pressão global para limitar o aquecimento a menos de 2°C continuará. “Precisamos de responsabilização se quisermos que essas metas voluntárias de redução de emissões sejam uma ferramenta eficaz no combate ao aquecimento global”, conclui.

Síntese

O estudo evidencia um desafio crítico na luta contra as mudanças climáticas: a falta de consequências para empresas que não cumprem suas promessas ambientais. Enquanto a transparência e a responsabilização não forem priorizadas, o risco de greenwashing e a desconfiança em relação às metas corporativas continuarão a crescer. Para que o setor privado contribua de forma efetiva para a mitigação do aquecimento global, é essencial estabelecer mecanismos robustos de monitoramento e prestação de contas.

a, Resultados das metas de redução de emissões que expiraram em 2020. b, A redução percentual das emissões ao longo de anos para as empresas alcançadas, fracassadas e desaparecidas. c. A porcentagem de empresas com metas de emissões que estão ficando para trás em comparação com uma progressão linear ao longo de anos para empresas alcançadas, fracassadas e abandonadas.
a, Resultados das metas de redução de emissões que expiraram em 2020. b, A redução percentual das emissões ao longo de anos para as empresas alcançadas, fracassadas e desaparecidas. c. A porcentagem de empresas com metas de emissões que estão ficando para trás em comparação com uma progressão linear ao longo de anos para empresas alcançadas, fracassadas e abandonadas.

 

Referência:

Jiang, X., Kim, S. & Lu, S. Limited accountability and awareness of corporate emissions target outcomes. Nat. Clim. Chang. 15, 279–286 (2025). https://doi.org/10.1038/s41558-024-02236-3

 
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
 

[ Se você gostou desse artigo, deixe um comentário. Além disso, compartilhe esse post em suas redes sociais, assim você ajuda a socializar a informação socioambiental ]

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *