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Artigo

Quarenta anos de democracia e demografia no Brasil

 

 

A demografia foi fundamental para a democracia nos últimos 40 anos e vice-versa.

Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

O Brasil comemorou no último sábado (15/03/2025) os 40 anos da retomada da democracia no país. O avanço das liberdades políticas e o maior acesso às informações (inclusive o fim da censura) foram fundamentais para a melhoria das condições de vida.

Nestas 4 décadas houve vários avanços em termos políticos, econômicos e sociais. Diversos indicadores sociais melhoram.

Entre 1985 e 2025, a mortalidade infantil caiu de 64 óbitos por mil nascimentos para 12 por mil; a expectativa de vida ao nascer subiu de 64 anos para 76 anos; a taxa de fecundidade total era de 3,5 filhos por mulher e caiu para 1,6 filho por mulher e a idade mediana passou de 20 anos para 35 anos.

Mas a mais contribuição da demografia para a democracia brasileira foi o 1º bônus demográfico, como mostrado no gráfico abaixo. A razão de dependência das crianças (0-14 anos) caiu de 63% em 1985 para 28% em 2025 e no mesmo período, a razão de dependência dos idosos subiu de 6,3% para 16,6%.

A razão de dependência das crianças caiu muito e a dos idosos subiu lentamente no período. Em consequência, a razão de dependência total caiu de 69,3% em 1985 para 44,6% em 2025. O menor nível da história.

Isto significa que aumentou a proporção de pessoas em idade de trabalhar. Antes do bônus demográfico (que começou em 1970), havia quase uma pessoa dependente para cada pessoa em idade de trabalhar.

Atualmente, em 2025, há 2 pessoas em idade de trabalhar para cada pessoas dependente. Nunca no passado houve uma condição demográfica tão favorável para o desenvolvimento humano no Brasil. E jamais esta condição se repetirá no futuro, em decorrência da aceleração do processo de envelhecimento populacional.

razão de dependência total de jovens e idosos Brasil 1985 2025

 

Concomitante ao início do processo de envelhecimento da estrutura etária houve um aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho e um aumento geral da taxa de escolaridade. Desta forma, mais mulheres no mercado de trabalho e mulheres com maior escolaridade foram impulsos essenciais para o desenvolvimento econômico e social do Brasil.

Para sintetizar a situação do mercado de trabalho, o gráfico abaixo mostra a evolução da relação entre a população ocupada total (e por sexo) em relação ao conjunto da população brasileira de 1980 a 2023, com projeção até 2030, com base em três fontes de dados do IBGE.

O gráfico mostra que o conjunto dos ocupados (homens + mulheres) em relação à população total era de 35% em 1980 e deu um salto para 45,3% em 2010, sendo que o sexo responsável por este aumento foi o feminino.

Despois da crise econômico que começou em 2014, a proporção de pessoas ocupadas diminuiu e só se recuperou em 2023 e 2024. A projeção do gráfico estima que a proporção de ocupados pode ultrapassar 50% até 2030, desde que a diferença de gênero continue diminuindo no restante da atual década.

Esse período vantajoso para a economia e para o avanço social é conhecido como janela de oportunidade ou 1º bônus demográfico, pois é um momento de melhora na relação entre potenciais os “produtores líquidos” e os “consumidores líquidos”. Assim, o bônus demográfico ocorre com o aumento da relação entre trabalhadores efetivos (população ocupada) e consumidores efetivos (população não ocupada).

população ocupada sobre população total por sexo Brasil 1980 2030

 

A particularidade do Brasil é que a população ocupada masculina em relação à população total do país ficou praticamente constante. Já a população ocupada feminina em relação à população total cresceu, mostrando que a inserção da mulher no mercado de trabalho foi o principal componente da expansão da força de trabalho. Por isso se diz que o bônus demográfico no Brasil é um bônus feminino, pois a inserção de um contingente maior de mulheres significa maior produção total e, sendo mulheres com níveis educacionais mais elevados, significa maior produtividade.

De fato, o progresso na educação foi significativo nos últimos 40 anos, embora o Brasil ainda encontra-se atrás da posição alcançada por países com o mesmo nível de desenvolvimento. Cabe destacar que, se a escolaridade média cresceu para ambos os sexos, as mulheres conseguiram avançar em uma maior velocidade.

Os dados agregados mostram que a reversão do hiato de gênero aconteceu na década de 1980, pois em 1991 as mulheres atingiram 4,1 anos de estudo contra 4 anos dos homens. Já em 2022, esses números passaram a 9,3 e 9,8 anos, respectivamente. A diferença, que era de 0,2 ano em favor dos homens no censo de 1980, passou a 0,5 anos em favor das mulheres, em 2022. Portanto, a educação foi um fator fundamental para o aproveitamento do 1º bônus demográfico.

anos médios de estudo por sexo Brasil 1980 2022

 

Portanto, a demografia foi fundamental para a democracia nos últimos 40 anos e vice-versa. Pena que todo o potencial gerado pela dinâmica da população não tenha sido aproveitado adequadamente.

Para maiores informações, vejam o livro e o texto disponíveis nos links abaixo:

ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI (com a colaboração de GALIZA, F), ENS, maio de 2022
https://prdapi.ens.edu.br/media/downloads/Livro_Demografia_e_Economia_digital_2.pdf

ALVES, JED. Demografia, Democracia e Direitos Humanos, Textos para discussão n. 18, Escola Nacional de Ciências Estatísticas, IBGE, 2005 https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv29591.pdf

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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