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Trump anuncia corte na NOAA e afeta previsões climáticas

 

Logotipo da NOAA
Logotipo da NOAA. Umagem: Wilimedia

 

O ataque de Donald Trump contra a ciência alcançou um novo patamar, tendo como alvo uma das principais agências de monitoramento climático e meteorológico do mundo, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica, (NOAA, na sigla em inglês).

A agência, que monitora o clima e o tempo — incluindo sistemas de alerta precoce para secas, inundações, tufões, furacões e outros desastres globais — enfrenta severos cortes orçamentários, redução de pessoal e restrições políticas, com consequências graves tanto para os Estados Unidos quanto para os demais países.

Por Pamela Gouveia, Instituto ClimaInfo

A administração Trump cortou pelo menos 800 cargos na NOAA, incluindo funções críticas no Centro Nacional de Furacões (NHC) e no Centro de Previsão de Tempestades (SPC), além de cortes no Centro de Previsão Climática (CPC), que fornece dados climáticos essenciais para a África e monitoramento de El Niño-La Niña, e no Centro de Previsão do Tempo (WPC), com foco na América do Sul. A perda da força de trabalho aumenta as preocupações de que as previsões climáticas da NOAA — fundamentais para o rastreamento de furacões, secas e outros desastres — possam ser prejudicadas, especialmente com a temporada de furacões se aproximando.

Impactos no Brasil e no mundo

Os dados da NOAA e do Serviço Nacional de Meteorologia são compartilhados globalmente e usados por meteorologistas, centros de emergência e governos ao redor do mundo, inclusive no Brasil.

Por aqui, satélites da agência são usados para monitorar o desmatamento e os impactos das mudanças climáticas na Amazônia, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e outras instituições. O monitoramento fornece informações cruciais, em tempo real, sobre a detecção de focos de incêndio para a maior parte da América do Sul, utilizando um conjunto de dados de satélites. As ações de Trump poderiam limitar o acesso do Brasil a essas imagens e modelos climáticos, tornando mais difícil rastrear o desmatamento ilegal.

Também no Brasil, a NOAA tem apoiado esforços de mapeamento em tempo real das áreas queimadas, junto com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), fornecendo observações de satélites que são utilizadas pelo Sistema Alarmes. O sistema gera atualizações diárias sobre o mapeamento das áreas queimadas nos biomas que estão em risco no Brasil.

“À medida que os desastres causados pelas mudanças climáticas aumentam, precisamos mais do que nunca de colaboração científica e compartilhamento de dados”, disse Tom Di Liberto, ex-especialista em relações públicas e cientista climático da NOAA. “A agência tem a missão de proteger o público americano — uma missão que agora está em risco — mas os perigos se estendem muito além das fronteiras dos EUA. A longa história de colaboração internacional da NOAA, compartilhando sistemas climáticos, de alerta precoce, gestão de pesqueiros e pesquisa científica, será prejudicada”.

  • Na União Europeia: A perda potencial dos dados da NOAA levaria a uma capacidade reduzida de rastrear ‘sistemas climáticos’ ao redor do mundo, o que pode resultar em uma diminuição na precisão das previsões na Europa.
  • No Caribe: As nações caribenhas frequentemente dependem dos dados e modelos meteorológicos da NOAA para rastrear tempestades e monitorar tendências climáticas, além de ajudar a coordenar a resposta a desastres.
  • No Pacífico: Muitas nações insulares do Pacífico, incluindo Palau, Ilhas Marshall e Samoa Americana, dependem das previsões de tufões da NOAA, assim como do monitoramento e detecção de pesqueiros.
  • Na África: Cientistas da NOAA realizavam reuniões semanais para combinar imagens de satélite da FEWS Net com relatórios de campo de vários países africanos – fornecendo sistemas de alerta precoce para secas e inundações, além de dados essenciais necessários pelos primeiros socorristas.
  • O monitoramento do aumento do nível do mar usa dados de medidores de maré e satélites da NOAA.

Restrições de cientistas

Há algumas semanas, o governo de Donald Trump vetou a participação de cientistas americanos na 62ª Sessão do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão científico da ONU, realizada em Hangzhou, na China. O IPCC é responsável por elaborar as principais avaliações globais sobre as mudanças climáticas e seus impactos na humanidade, cujos relatórios são fundamentais para orientar as políticas climáticas adotadas por governos ao redor do mundo.

Com as recentes mudanças, a NOAA passou a precisar de aprovação caso a caso para qualquer colaboração internacional, o que prejudica a cooperação científica global.

Os cientistas alertam que a falta de colaboração pode enfraquecer os alertas de furacões no Caribe e no Pacífico, limitar o desenvolvimento de modelos climáticos mais precisos e dificultar a gestão de recursos naturais, como pesqueiros.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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