Dissociação coletiva é barreira invisível na crise climática
Um estudo recente publicado na Cambridge Prisms: Global Mental Health revelou que a dissociação coletiva está impedindo as pessoas de agirem de forma eficaz diante da esmagadora emergência climática.
A pesquisa aponta que a escala e a complexidade do problema frequentemente deixam os indivíduos sentindo-se impotentes, levando a um sentimento de futilidade em relação à sua capacidade de promover mudanças significativas.
A dissociação coletiva, uma forma de processamento de trauma, ameaça a cooperação necessária para enfrentar a crise climática. Em vez de unir esforços, esse mecanismo reforça o isolamento e impede uma avaliação objetiva da realidade destrutiva que o planeta enfrenta.
Consequentemente, desastres relacionados ao clima têm impactos profundos e duradouros na saúde mental, desencadeando respostas traumáticas e dissociativas como mecanismos subconscientes de coping.
A necessidade de um ativismo climático empático
O estudo destaca a importância de reconhecer como a emergência climática afeta as pessoas emocional e psicologicamente. Compreender esses impactos pode ajudar formuladores de políticas e indivíduos a desenvolver respostas mais eficazes. O ativismo climático empático, focado na proteção da saúde planetária e populacional, é essencial para combater a inação e a negação.
Além disso, comunidades vulneráveis são desproporcionalmente afetadas pela crise climática, especialmente em termos de segurança alimentar. Eventos climáticos extremos, agravados pelo aquecimento global, podem desencadear uma série de respostas psicopatológicas, incluindo distúrbios de humor, ansiedade e sintomas físicos. Pessoas deslocadas por fatores ambientais, por exemplo, estão em maior risco de desenvolver problemas de saúde mental, como depressão, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), aumento nas taxas de suicídio e abuso de substâncias.
Como combater a dissociação coletiva
Diante dessas descobertas, os pesquisadores propõem quatro recomendações principais para combater a dissociação coletiva:
- Transparência e responsabilidade: Formuladores de políticas devem buscar maior transparência e prestação de contas no financiamento político, alinhando ações ao apoio público por medidas climáticas eficazes.
- Práticas sustentáveis: Priorizar práticas sustentáveis, monitorar rigorosamente o progresso e permanecer adaptável a avanços tecnológicos e científicos.
- Educação e conscientização: Campanhas de educação e conscientização sobre as consequências da mudança climática para a saúde mental são essenciais. Ao promover uma compreensão mais profunda do trauma climático, essas iniciativas podem mobilizar apoio público e fortalecer a resiliência coletiva.
- Foco nas populações vulneráveis: Políticas devem priorizar as necessidades das comunidades mais afetadas, construindo sociedades inclusivas e resilientes.
Síntese
Além dos efeitos ambientais tangíveis, a pesquisa demonstra que a mudança climática representa um desafio significativo para a saúde mental, tanto no curto quanto no longo prazo. Combater a dissociação humana em relação à emergência climática – em escalas grandes e pequenas – é, portanto, crucial para evitar que a natureza humana permaneça enraizada em práticas ambientais prejudiciais, minando a saúde do planeta mesmo quando a ação climática é vital.
A mudança começa com a compreensão. Ao reconhecer e abordar os impactos psicológicos da crise climática, podemos construir um caminho mais resiliente e coletivo para um futuro sustentável.
Referência:
Shomuyiwa DO, Lucero-Prisno D-E. Climate change trauma and collective dissociation: Unraveling the impact on mental health and advocating for collective action. Cambridge Prisms: Global Mental Health. 2025;12:e5. doi:10.1017/gmh.2024.119
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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