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Taxa de fecundidade estável, mas com queda no número de filhos no Brasil

 

O Brasil vive uma verdadeira revolução demográfica. A dinâmica demográfica vai deixar para trás a fase de crescimento e iniciar uma fase de decrescimento populacional

Durante a maior parte da história brasileira as taxas de mortalidade e de natalidade eram muito altas. Mas a transição demográfica mudou o cenário populacional do país no século XX e vai apresentar uma inversão da pirâmide etária na segunda metade do século XXI.

A população brasileira era de 52 milhões de habitantes em 1950, passou para 173 milhões no ano 2000, deve chegar a 217 milhões em 2050 e deve decrescer para 164 milhões de habitantes em 2100, segundo a Divisão de População da ONU. A população brasileira cresceu muito na segunda metade do século XX, desacelerou o crescimento na primeira metade do século XXI e vai ter a população reduzida na segunda metade do atual século.

Todas estas mudanças são explicadas pela transição da fecundidade. O número médio de filhos por mulher se manteve acima de 6 filhos durante os primeiros 460 anos da história brasileira. Mas a taxa de fecundidade total (TFT) começou a cair na segunda quinzena da década de 1960 e continuou caindo nas décadas seguintes.

O número de nascimentos no Brasil foi de 2,47 milhões de bebês em 1950 e atingiu o pico de 4 milhões de bebês no quinquênio 1981-1985. Até o início da década de 2020, o número de nascimentos caiu, mas ficou próximo de 3 milhões de bebês. Isto aconteceu porque o número de mulheres em idade reprodutiva (15-49 anos) passou de 12,9 milhões em 1950 para o pico de 55,9 milhões em 2021, mas deve cair para 28,5 milhões em 2100, conforme mostra o gráfico abaixo.

número de mulheres no período reprodutivo - número de filhos e taxa de fecundidade total no Brasil

No restante do século XXI, a taxa de fecundidade total (TFT) deve ficar aproximadamente estável entre 1,6 e 1,5 filho por mulher, taxa abaixo do nível de reposição. Já o número de nascimentos vai continuar caindo, pois, além de uma TFT baixa, o número de mulheres em idade reprodutiva vai continuar caindo até 2100.

Desta forma, o número de nascimentos que foi de 2,47 milhões em 1950, chegou a 4 milhões no início da década de 1980, caiu abaixo de 3 milhões nascimentos em 2008, deve ficar abaixo de 2 milhões de nascimentos em 2050 e deve ficar em torno de 1,3 milhão de bebês em 2100. Portanto, o número de nascimentos deve se reduzir pela metade em 150 anos e deve se reduzir 3 vezes entre o pico da década de 1980 e o montante de 2100.

Todos estes números indicam que o Brasil vive uma verdadeira revolução demográfica. A dinâmica demográfica vai deixar para trás a fase de crescimento e iniciar uma fase de decrescimento populacional. Ao mesmo tempo, o país deixará de ter uma estrutura jovem e terá uma estrutura etária cada vez mais envelhecida.

Esta revolução traz desafios, mas também oportunidades. O maior desafio se dá principalmente pelo aumento da razão de dependência demográfica, pois a proporção de idosos vai crescer muito e a proporção de pessoas em idade ativa (15-59 anos) vai diminuir, podendo contribuir para uma crise fiscal no sistema de proteção social.

Mas se o potencial da população idosa for aproveitado e houver combate ao etarismo, o Brasil poderá aproveitar as vantagens da economia prateada, que é o conjunto de atividades econômicas voltadas para atender as necessidades, a produção e o consumo das pessoas idosas e do conjunto da população. Inclui setores como saúde, habitação, tecnologia, lazer, serviços financeiros, educação continuada, entre outros.

A economia prateada reconhece as pessoas da 3ª idade como um grupo economicamente colaborativo e cada vez mais relevante, tanto no consumo quanto na produção de bens e serviços, considerando a longevidade e o aumento da participação ativa e criativa dessa faixa etária, com solidariedade intergeracional, sem discriminações e com inclusão social.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

ALVES, JED. A população brasileira Segundo o censo 2022 e as projeções do IBGE, Ecodebate, 02/09/2024

https://www.ecodebate.com.br/2024/09/02/a-populacao-brasileira-segundo-o-censo-2022-e-as-projecoes-do-ibge/

ALVES, JED. Brasil 2042: Enfrentando a Nova Revolução Demográfica, Ecodebate, 23/08/2024

https://www.ecodebate.com.br/2024/08/23/brasil-2042-enfrentando-a-nova-revolucao-demografica/

ALVES, JED. As novidades e as surpresas do censo demográfico 2022, Ecodebate, 03/07/2023

https://www.ecodebate.com.br/2023/07/03/as-novidades-e-as-surpresas-do-censo-demografico-2022/

ALVES, JED. O envelhecimento populacional e a economia prateada, Ecodebate, 04/12/2024

https://www.ecodebate.com.br/2024/12/04/economia-prateada-oportunidades-e-desafios-do-envelhecimento/

ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI (com a colaboração de GALIZA, F), ENS, maio de 2022

https://prdapi.ens.edu.br/media/downloads/Livro_Demografia_e_Economia_digital_2.pdf

IBGE. Projeções da População, 22/08/2024 https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9109-projecao-da-populacao.html?edicao=41053&t=resultados

Entrevista à Globonews sobre as novas projeções do IBGE, 24/08/2024

https://www.linkedin.com/feed/update/urn:li:activity:7233119347450290177/

Entrevista à Globonews sobre as novas projeções do IBGE, 31/08/2024

https://www.linkedin.com/feed/update/urn:li:activity:7235626642553925632/

 

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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