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Na COP30, a luta pelo clima chegará ao seu momento mais crítico

Logo da COP30
A COP30 será um evento decisivo para a agenda climática global, especialmente diante dos desafios diplomáticos e políticos impostos pela retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris

Artigo de Reinaldo Dias

Articulista do EcoDebate, é Doutor em Ciências Sociais -Unicamp

Pesquisador associado do CPDI do IBRACHINA/IBRAWORK

Parque Tecnológico da Unicamp – Campinas – Brasil

http://lattes.cnpq.br/5937396816014363

reinaldias@gmail.com

A COP30, que ocorrerá em novembro de 2025 na cidade de Belém, Brasil, representa um momento crucial na trajetória global de combate à crise climática. Realizada em meio a um cenário de crescente instabilidade política e desafios ambientais cada vez mais urgentes, essa conferência das Nações Unidas sobre mudança do clima pode definir os rumos da ação climática internacional na próxima década.

Mais do que um encontro diplomático, a COP30 se apresenta como uma oportunidade histórica para transformar discursos em compromissos concretos e reverter a trajetória alarmante de degradação ambiental que ameaça o planeta.

O fato de a conferência ocorrer na Amazônia não é apenas simbólico, é uma imensa responsabilidade não só para o Brasil, mas para toda a comunidade internacional. A maior floresta tropical do mundo é um dos principais reguladores do clima global, abrigando uma biodiversidade única e desempenhando um papel essencial no equilíbrio dos ciclos do carbono e da água.

No entanto, ao mesmo tempo em que sua preservação é fundamental para evitar um colapso climático irreversível, a Amazônia enfrenta uma pressão crescente do desmatamento, da exploração mineral e do agronegócio predatório. O local escolhido para sediar a COP30 expõe as contradições entre as promessas ambientais e as realidades políticas e econômicas que continuam impulsionando a destruição da floresta.

Além das questões ambientais, a COP30 também se insere em um contexto de desafios geopolíticos sem precedentes. A recente saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, fragiliza a governança climática global e compromete o financiamento necessário para que países em desenvolvimento possam lidar com os impactos das mudanças climáticas. A ausência da maior potência econômica mundial na cooperação climática internacional exige uma reconfiguração de lideranças, desafiando países como o Brasil a assumir um papel mais ativo e influente na definição das políticas ambientais do século XXI.

A sociedade civil, movimentos indígenas, juventudes e comunidades vulneráveis têm um papel essencial nessa conferência, pois são os grupos mais impactados pelos eventos climáticos extremos. O sucesso da COP30 dependerá não apenas das negociações entre governos e grandes corporações, mas da força da mobilização global em exigir compromissos reais e ações concretas. A urgência da crise climática já não permite adiamentos ou promessas vazias. A COP30 pode ser um marco na mudança de rumo que o planeta precisa – ou um novo capítulo de frustração diante da inércia política e econômica. O resultado dependerá da pressão coletiva e da disposição para enfrentar os interesses que perpetuam a destruição ambiental.

O simbolismo e a importância de Belém como sede da COP30

A escolha de Belém como sede da COP30 destaca a importância da Amazônia na agenda climática global. A região abriga uma das maiores florestas tropicais do mundo e desempenha um papel fundamental na regulação do clima global. Entretanto, enfrenta desafios significativos, como o desmatamento e a degradação ambiental. Por exemplo, o governo brasileiro tem investido esforços para conter o desmatamento e promover o desenvolvimento sustentável, tornando a COP30 uma oportunidade para consolidar o país como líder nas negociações climáticas (Paraguassu, 2025). No entanto, dados recentes mostram que há um grande caminho a percorrer. No ano de 2024 a degradação florestal da Amazônia cresceu 497%, batendo recorde segundo o Imazon e o Estado do Pará, que sediará a COP30 foi o responsável pelas maiores áreas de desmatamento e degradação no País (de Lima, 2025)

A região amazônica enfrenta pressões do agronegócio, da mineração e da exploração ilegal de madeira, que comprometem os esforços de mitigação climática. Durante a COP30, é esperado que o Brasil apresente estratégias mais robustas para reduzir o desmatamento, promover a bioeconomia e garantir a sustentabilidade da região. A restauração florestal, a valorização de conhecimentos tradicionais e o fortalecimento da fiscalização ambiental serão pontos centrais para o sucesso das negociações (Corban, 2024).

A realização da COP30 no Brasil representa uma oportunidade para o país se reposicionar na liderança ambiental global, mas também impõe desafios internos e externos. Durante a COP29, foi acordado um financiamento climático de US$ 300 bilhões anuais até 2035, um valor muito abaixo dos US$ 1,3 trilhões necessários para que países em desenvolvimento enfrentem os impactos da crise climática (Marinho, 2024). Países em desenvolvimento continuarão pressionando por compromissos mais concretos dos países ricos no financiamento para mitigação e adaptação às mudanças climáticas (Uchoa, 2025).

O Brasil, como país anfitrião da COP30, enfrenta o desafio de liderar as discussões sobre financiamento climático, buscando equilibrar as necessidades de desenvolvimento econômico com a urgência de ações climáticas. A inclusão de inovações financeiras para atrair investimentos em escala global será fundamental para o sucesso da conferência (Corban, 2024).

A operacionalização do Artigo 6 do Acordo de Paris, que regulamenta os mercados de carbono, será outra questão central. O Chile, por exemplo, já implementou um mercado de carbono nacional alinhado a padrões internacionais, servindo como referência para outros países em desenvolvimento (Uchoa, 2025). No entanto, a heterogeneidade dos mercados de carbono ao redor do mundo ainda representa um obstáculo para sua regulamentação global.

A credibilidade dos mercados de carbono dependerá da transparência e da integridade ambiental das transações. A COP30 poderá definir diretrizes para evitar práticas de greenwashing e garantir que os créditos de carbono realmente contribuam para a redução de emissões globais.

Entretanto, o país enfrenta desafios internos, como o avanço do desmatamento e o incentivo à exploração de combustíveis fósseis que geram preocupações sobre a credibilidade do Brasil nas negociações climáticas (Rodrigues, 2025). Setores do agronegócio têm adotado posições que contrariam os objetivos climáticos, defendendo o desmatamento e atacando os direitos dos povos indígenas. Essa postura pode minar os esforços do país na liderança climática global (Astrini & Angelo, 2025). Assim, a capacidade de liderança dependerá da coerência entre os discursos e as ações implementadas.

Além disso, organizações como a Human Rights Watch criticam os investimentos contínuos do Brasil em combustíveis fósseis, ressaltando a necessidade de o país liderar pelo exemplo na transição para fontes de energia renovável (Rodrigues, 2025).

O contexto político e os impactos da retirada dos EUA do Acordo de Paris

A COP30 acontece em um momento de incerteza geopolítica, exacerbado pela retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris, uma decisão tomada por Donald Trump em seu segundo mandato. A saída do maior emissor histórico de gases de efeito estufa impacta diretamente a capacidade de implementação do tratado global, além de enfraquecer as negociações financeiras para mitigar os efeitos das mudanças climáticas (Harvey, 2025).

O negacionismo climático promovido pelo governo dos EUA tem um efeito desestabilizador nos esforços multilaterais, criando obstáculos para o avanço de políticas climáticas ambiciosas (Markey-Towler, 2025). Por outro lado, essa retirada também pode fortalecer alianças entre outros países comprometidos com metas climáticas mais rigorosas. Com os EUA ausentes das negociações formais, nações como Brasil, China e União Europeia podem ocupar um papel mais central nas decisões sobre financiamento climático e transição energética global (Timperley & Gerretsen, 2025).

A responsabilidade histórica dos países desenvolvidos e a dívida climática

A crise climática atual é marcada por profundas desigualdades nas responsabilidades e nos impactos entre as nações. Os países desenvolvidos, ao longo de sua industrialização, contribuíram significativamente para as emissões de gases de efeito estufa, acumulando uma dívida climática em relação aos países em desenvolvimento, que são os mais vulneráveis aos efeitos adversos das mudanças climáticas.

O conceito de responsabilidade histórica está intrinsecamente ligado ao princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas, reconhecido na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). Este princípio reconhece que, embora todos os países compartilhem a responsabilidade de combater as mudanças climáticas, os países desenvolvidos têm uma obrigação maior devido às suas contribuições históricas para o problema (Cruz, 2019).

A justiça climática enfatiza que os países industrializados esgotaram grande parte da capacidade da atmosfera de absorver carbono, justificando a necessidade de compensação aos países em desenvolvimento. Essa compensação é vista como uma forma de reparar a dívida de emissões acumulada pelos países desenvolvidos ( Pentinat & Pérez,2016).

A dívida climática refere-se à obrigação moral e financeira dos países desenvolvidos de apoiar os países em desenvolvimento na mitigação e adaptação às mudanças climáticas. No entanto, os compromissos financeiros assumidos pelos países desenvolvidos têm sido insuficientes. Por exemplo, a meta de financiamento climático de US$ 100 bilhões anuais, estabelecida em 2009, não foi plenamente alcançada, gerando desconfiança e dificultando as transições necessárias nos países em desenvolvimento (López Carbajal, 2024).

Além disso, a pressão dos países desenvolvidos para expandir a base de contribuintes no Novo Objetivo Quantificado Coletivo de Financiamento Climático (NCQG) é vista como uma tentativa de diluir sua responsabilidade histórica, desviando o foco das obrigações contínuas desses países (Observatório do Clima, 2024).

Os países em desenvolvimento enfrentam desafios significativos devido às mudanças climáticas, agravados por limitações financeiras e estruturais. O pagamento de suas dívidas externas afeta sua capacidade de enfrentar crises climáticas e outras emergências, comprometendo recursos necessários para a resiliência e adaptação (Parlamento Europeu, 2021).

A falta de financiamento adequado para adaptação e mitigação nos países em desenvolvimento perpetua um ciclo de vulnerabilidade e dependência, exacerbando as desigualdades globais e comprometendo os esforços para uma transição justa e equitativa (López Carbajal, 2024).

Reconhecer a responsabilidade histórica dos países desenvolvidos é fundamental para promover a justiça climática. É imperativo que esses países cumpram seus compromissos financeiros e apoiem os países em desenvolvimento na implementação de ações climáticas eficazes, garantindo uma transição sustentável e equitativa para todos.

O Lobby dos Combustíveis Fósseis e os Desafios para o Brasil na COP30

Um problema a ser enfrentado pela COP30 é o aumento da influência do lobby dos combustíveis fósseis nas reuniões das COPs, exercendo grande influência nas decisões adotadas, o que ocorreu de modo bastante significativo nas duas últimas edições (COPs 28 e 29).

A COP29 evidenciou o forte poder de influência do lobby dos combustíveis fósseis, que, mais uma vez, ofuscou a representação de países e organizações comprometidas com a transição energética. Em Baku, 1.773 lobistas desse setor tiveram acesso à cúpula, superando, em número, os delegados das 10 nações mais vulneráveis ao clima, que somaram apenas 1.033 representantes. Empresas como Chevron, ExxonMobil, BP, Shell, Enel e Eni enviaram grande número de lobistas, e, se fossem um país, seriam a quarta maior delegação do evento, ficando atrás apenas do Azerbaijão, da Turquia e do Brasil, país-sede da próxima conferência climática (Frost, 2024).

De acordo com a Global Witness, a COP29 teve um número recorde de delegados ligados a essa indústria, o que permitiu uma atuação agressiva para enfraquecer propostas de redução de emissões, adiar prazos para a descarbonização e promover falsas soluções, como a captura e armazenamento de carbono, que prolongam a dependência de combustíveis fósseis (Global Witness, 2024). A forte presença do setor de combustíveis fósseis nas COPs revela uma contradição central das negociações climáticas: ao mesmo tempo em que a ciência aponta para a necessidade urgente de reduzir o uso desses combustíveis para evitar cenários catastróficos, interesses econômicos e políticos continuam a bloquear avanços concretos na transição energética.

A influência do lobby ficou particularmente evidente nas negociações sobre a eliminação gradual dos subsídios ao setor, uma medida essencial para alinhar as políticas energéticas globais às metas climáticas. Apesar do apoio de países em desenvolvimento e da União Europeia, essas propostas foram bloqueadas por nações com economias fortemente dependentes do petróleo e do gás, fortalecidas por grupos de pressão que argumentam, de maneira enganosa, que a transição energética compromete a segurança energética e o crescimento econômico.

Diante desse cenário, a COP30, deve enfrentar desafios ainda maiores para evitar que os interesses da indústria de combustíveis fósseis dominem as negociações. O WWF alerta que as empresas responsáveis por dois terços das emissões globais não deveriam ter acesso às COPs devido ao evidente conflito de interesses. Esse é um ponto crucial para o Brasil, onde a exploração de petróleo já gera intensos debates e disputas políticas (WWF, 2024). O país precisará adotar uma posição firme para garantir que a cúpula climática avance em compromissos concretos para a transição energética e para a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis.

Inovação e tecnologia na COP30: soluções para uma Transição Verde

A COP30, representa uma importante oportunidade para impulsionar inovações tecnológicas que viabilizem uma transição energética global justa e sustentável. A substituição de combustíveis fósseis por fontes de energia renováveis é essencial para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e alcançar as metas do Acordo de Paris. Tecnologias emergentes, como hidrogênio verde e avanços em energia solar e eólica, têm o potencial de acelerar essa transição.

Nas últimas décadas, a geração de energia renovável avançou significativamente, tornando-se mais acessível e eficiente. A energia solar fotovoltaica, por exemplo, teve uma queda expressiva nos custos de produção, acompanhada de um aumento na eficiência dos painéis solares, tornando essa fonte uma das mais competitivas do mundo (IRENA, 2023). O setor eólico também se expandiu, especialmente com o desenvolvimento de parques eólicos offshore, que aproveitam ventos mais fortes e constantes no mar, permitindo uma produção mais estável de eletricidade (GWEC, 2023).

Além dessas fontes tradicionais, tecnologias emergentes como a geotermia avançada e o aproveitamento de ondas e marés têm ganhado destaque como alternativas complementares para diversificar a matriz energética global. O Quênia, por exemplo, tem mais capacidade de energia geotérmica em construção do que qualquer outro país e planeja quase dobrar a produção até 2030 como parte de metas ambiciosas de energia verde, gerando mais da metade da eletricidade do país. A energia geotérmica não produz emissões durante a produção de eletricidade, semelhante a outras formas de energia renovável. E tem o benefício adicional de estar disponível 24 horas por dia em quantidades confiáveis, o que supera a natureza intermitente da energia solar e eólica. Além disso, o setor geotérmico gera mais empregos diretos e indiretos do que outras fontes de energia renováveis, com uma estimativa de 34 empregos por megawatt instalado, em comparação com 19 pelo setor eólico e 12 para instalações solares fotovoltaicas (Maguire, 2023).

O hidrogênio verde tem sido apontado como um elemento-chave para a descarbonização de setores de difícil eletrificação, como a indústria siderúrgica e o transporte de longa distância (IEA, 2024). Produzido por meio da eletrólise da água utilizando eletricidade proveniente de fontes renováveis, o hidrogênio verde reduz drasticamente as emissões de gases de efeito estufa e pode ser utilizado tanto como combustível quanto para armazenamento de energia. Além disso, avanços tecnológicos na área de materiais, como o uso de estruturas metal-orgânicas (MOFs), têm contribuído para o desenvolvimento de soluções mais seguras e eficientes para o armazenamento e transporte do hidrogênio (Granado, 2024). Contudo, a viabilidade econômica dessa tecnologia ainda depende de investimentos massivos e da ampliação da infraestrutura global para sua produção e distribuição em larga escala (IEA, 2024).

Embora as inovações tecnológicas ofereçam soluções promissoras para a crise climática, sua implementação em larga escala enfrenta desafios significativos. O alto custo inicial de muitas dessas tecnologias, a necessidade de infraestrutura especializada e a resistência de setores econômicos dependentes de combustíveis fósseis são barreiras a serem superadas.

A COP30 representa uma boa oportunidade para que governos, setor privado e sociedade civil estabeleçam diretrizes e mecanismos financeiros que incentivem a adoção dessas tecnologias. O desenvolvimento de políticas públicas que favoreçam a inovação, aliadas a incentivos econômicos para empresas e consumidores, será fundamental para impulsionar uma transição energética equitativa e sustentável (IRENA, 2023).

Dessa forma, a incorporação de tecnologias inovadoras não apenas viabiliza a descarbonização da economia global, mas também contribui para a criação de empregos sustentáveis e para o fortalecimento da segurança energética. A COP30 tem o potencial de catalisar esses esforços, promovendo soluções que atendam às necessidades energéticas globais sem comprometer o equilíbrio ambiental e social.

Justiça Climática e participação da Sociedade Civil

Eventos climáticos internacionais, como as reuniões da COP, são fundamentais para garantir uma ação climática inclusiva e equitativa, especialmente para comunidades marginalizadas historicamente excluídas das decisões multilaterais. Essas comunidades estão entre as mais afetadas pela crise climática e sua inclusão é essencial para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, como igualdade de gênero (ODS 5), redução de desigualdades (ODS 10) e fortalecimento da ação climática em países menos desenvolvidos e pequenos estados insulares (ODS 13.b). Também sob esse aspecto, a COP30 será uma importante oportunidade para integrar grupos vulneráveis na tomada de decisões. No entanto, essa inclusão deve ir além do simbolismo, priorizando suas necessidades, garantindo representatividade efetiva, capacitação e suporte financeiro. A interseccionalidade das desigualdades deve ser considerada, permitindo que esses grupos liderem na construção de adaptações climáticas, promovendo um futuro sustentável e mais justo para todos (Koch, 2025).

A COP30 representa um espaço fundamental para a participação ativa da sociedade civil e a promoção da justiça climática. A crise climática afeta desproporcionalmente as populações mais vulneráveis, incluindo comunidades indígenas, quilombolas, pequenos agricultores e habitantes de áreas urbanas precárias, tornando essencial que essas vozes sejam incorporadas nas negociações (EFE, 2025).

Os povos indígenas da Amazônia são atores fundamentais na preservação da floresta tropical e no combate ao desmatamento ilegal. Estudos indicam que áreas protegidas sob gestão indígena apresentam taxas significativamente menores de desmatamento em comparação com áreas sem essa proteção. É necessário fortalecer os direitos dessas comunidades e garantir que suas reivindicações sejam incorporadas aos compromissos climáticos internacionais (Timperley & Gerretsen, 2025).

Além disso, a justiça climática requer um reconhecimento dos impactos desiguais das mudanças climáticas e a implementação de políticas que assegurem uma transição energética justa. Experiências bem-sucedidas de adaptação lideradas pela sociedade civil, como a revitalização de Xochimilco no México, demonstram como ações comunitárias podem contribuir significativamente para a resiliência climática e a sustentabilidade (Uchoa, 2025).

A participação da juventude e de movimentos sociais também será determinante na COP30. Nos últimos anos, grupos como Fridays for future têm pressionado governos a assumirem compromissos mais ambiciosos para reduzir emissões de carbono. Essa mobilização é essencial para garantir que as discussões climáticas não fiquem restritas aos interesses de grandes empresas e governos, mas incorporem as demandas da sociedade civil global (EFE, 2025).

Outro ponto central será o financiamento de soluções baseadas na natureza e de políticas inclusivas que levem em conta a equidade social. A justiça climática vai além da mitigação das mudanças climáticas e inclui medidas para lidar com as perdas e danos enfrentados por comunidades vulneráveis devido a eventos climáticos extremos. Assim, garantir que o financiamento climático chegue a essas populações será um dos principais desafios da COP30 (Timperley & Gerretsen, 2025), pois possibilitaria alcançar um modelo de governança ambiental mais equitativo e sustentável.

Conclusão

A COP30 será um evento decisivo para a agenda climática global, especialmente diante dos desafios diplomáticos e políticos impostos pela retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris. Contudo, a conferência também representa uma oportunidade para fortalecer a participação da sociedade civil e garantir que a justiça climática seja um eixo central das negociações.

O evento em Belém reforçará a necessidade de um financiamento climático mais equitativo e acessível para os países em desenvolvimento, permitindo que comunidades vulneráveis tenham recursos adequados para adaptação e mitigação. Além disso, a inclusão de movimentos sociais, juventude e povos indígenas no debate climático global será fundamental para promover soluções mais justas e eficazes.

Não se trata apenas de compromissos técnicos ou econômicos, mas da construção de um modelo de governança climática mais inclusivo e sustentável. O sucesso da COP30 dependerá da capacidade dos países de transformar discursos em ações concretas, assegurando que as metas de redução de emissões sejam cumpridas e que os grupos mais impactados pelas mudanças climáticas sejam devidamente ouvidos e contemplados nas decisões globais.

Referências

Astrini, M., & Angelo, C. (2025, 4 de janeiro). Como o agronegócio joga contra a COP30. O Globo. Disponível em: https://oglobo.globo.com/opiniao/artigos/coluna/2025/01/como-o-agronegocio-joga-contra-a-cop30.ghtml

Corban, K. (2024, 12 de dezembro). COP29 e COP30: lições, desafios e expectativas. Correio Braziliense. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/direito-e-justica/2024/12/7004045-cop29-e-cop30-licoes-desafios-e-expectativas.html

Cruz, G.R. (2019). Justiça climática no Antropoceno. PUC-Rio. Disponível em: https://www.puc-rio.br/pibic/relatorio_resumo2019/download/relatorios/CCS/DIR/DIR-Gabriel%20Rezende%20Cruz.pdf

de Lima, J.D. (2025, janeiro 25) Degradação Florestal na Amazônia cresce 497% em 1 ano e bate recorde, diz Imazon. O Estado de São Paulo. p. A20.

EFE (2025, janeiro 29) From Trump’s denial to COP30 in Brazil: Is 2025 a turning point for climate action? Disponível em: https://efe.com/en/other-news/2025-01-29/trumps-cop30-denial/

Frost, R. (2024, nov 15) More than 1,700 oil and gas lobbyists at COP29: Which European delegations invited them? Euronews. https://www.euronews.com/green/2024/11/15/more-than-1700-oil-and-gas-lobbyists-at-cop29-which-european-delegations-invited-them

Global Witness (2024, nov 15) Fossil fuel lobbyists eclipse delegations from most climate-vulnerable nations at COP29 climate talks. https://www.globalwitness.org/en/press-releases/fossil-fuel-lobbyists-eclipse-delegations-most-climate-vulnerable-nations-cop29-climate-talks/

Harvey, F. (2025, janeiro 24) How the world has responded to Trump’s Paris climate agreement withdrawal. Disponível em: https://www.theguardian.com/environment/2025/jan/24/paris-climate-agreement-withdrawal-trump-world-response-us

Koch, M. (2025, jan 14) COP30 – How to include the voices of those most affected by climate change. Disponível em: London School Economics. https://blogs.lse.ac.uk/inequalities/2025/01/14/cop30-how-to-include-those-most-affected-by-climate-change/

López Carbajal, A. (2024, nov 05). Financiamiento climático: la deuda que los países desarrollados deben saldar en Bakú. El País. Disponível em: https://elpais.com/america-futura/2024-11-05/financiamiento-climatico-la-deuda-que-los-paises-desarrollados-deben-saldar-en-baku.html

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
 

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