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Manejo comunitário recupera população de pirarucu

 

Pirarucu (Arapaima gigas)
Pirarucu (Arapaima gigas). Foto: Robert Schlappal / Wikimedia Commons / Revista Pesquisa FAPESP

Do colapso à recuperação: como o manejo do pirarucu transformou comunidades na Amazônia

Por Nice Castro

Na década de 1990, a pesca predatória quase extinguiu o pirarucu (Arapaima gigas), um dos maiores peixes de água doce do mundo. Para proteger a espécie e garantir a subsistência de comunidades amazônicas, o manejo sustentável foi implementado, unindo tradição e ciência para recuperar estoques e conservar os ecossistemas.

“O manejo do pirarucu baseia-se em sua necessidade de respirar na superfície a cada 20 minutos. Esse comportamento permite que pescadores contem os peixes manualmente, uma prática que orienta cotas de captura anuais e assegura a conservação da espécie. Além disso, o manejo garante renda e segurança alimentar para as comunidades”, diz Raimundo Falcão, do Instituto Desenvolver. 

O LIRA – Legado Integrado da Região Amazônica, uma iniciativa do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), conecta e financia projetos de conservação e desenvolvimento sustentável na Amazônia, promovendo práticas inovadoras em Unidades de Conservação e Terras Indígenas.

Um exemplo bem-sucedido dessa prática é o Projeto Liga da Floresta, liderado pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) com apoio do LIRA/IPÊ. Na Reserva Extrativista (Resex) Médio Purus, o projeto capacitou 168 pescadores em 2023, ensinando boas práticas, regularizando documentação e conectando os participantes a políticas públicas.

Na Resex Médio Purus, o manejo do pirarucu transformou a realidade das comunidades. Entre 2021 e 2023, a população de pirarucus nos lagos manejados cresceu de 16.555 para 19.678, enquanto outras espécies aquáticas também se recuperaram, garantindo alimentos frescos para centenas de famílias.

“O Projeto Liga da Floresta foi o primeiro com foco direto no fortalecimento da cadeia produtiva do pirarucu em cinco Unidades de Conservação: Resex Canutama, Floresta Estadual de Canutama, Floresta Nacional de Balata-Tufari, Resex Médio Purus e Resex Ituxi. Antes, os comunitários trabalhavam sem direcionamento claro ou apoio robusto, muitas vezes contando apenas com esforços do ICMBio. O projeto estruturou a pesca, regularizou documentação e ofereceu recursos essenciais como cestas básicas, gasolina para monitoramento e malhadeiras. O LIRA/IPÊ ainda complementou esse trabalho, fortalecendo associações como a ATAMP (Médio Purus) e APADRIT (Ituxi), que hoje estão muito mais organizadas e preparadas para trabalhar em comunidade”, afirma Raimundo. 

Apesar dos avanços, desafios permanecem. “A seca severa de 2024 dificultou o acesso aos lagos, reduzindo capturas. Para garantir a resiliência das comunidades, é fundamental investir em políticas públicas e fortalecer parcerias que apoiem o manejo comunitário frente às mudanças climáticas”, diz Fabiana Prado, gerente do LIRA/IPÊ.

Além dos benefícios ambientais e econômicos, o projeto incentiva a inclusão de mulheres e jovens, promovendo equidade de gênero e fortalecendo organizações locais. “O manejo do pirarucu é um modelo que une tradição e inovação, protegendo a biodiversidade enquanto transforma a vida de comunidades. Por meio de projetos como o Liga da Floresta, o LIRA demonstra que é possível promover uma Amazônia sustentável e equitativa, onde conservação e desenvolvimento caminham juntos”, afirma Neluce, coordenadora do LIRA/IPÊ.

 

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394
 

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