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Artigo

O ano de 2025 começa com recordes de temperatura em janeiro

 

A janela de oportunidade para evitar os piores cenários está se fechando, mas ainda há tempo para agir

Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

A temperatura de janeiro de 2025, inesperadamente, bateu um novo recorde, mesmo com o planeta sob o efeito do fenômeno La Niña. A maior parte dos climatologistas estavam prevendo um 2025 menos quente do que os dois anos anteriores. Mas os dados de janeiro surpreenderam e 2025 pode entrar na lista dos recordes anuais da série histórica.

O mês de janeiro de 2023 registrou uma anomalia de 1,2ºC em reação ao período pré-industrial e deu um salto para 1,66ºC em 2024. Mas em vez de arrefecer, os dados preliminares de 2025 indicam uma diferença de 1,74ºC em relação à média da linha de referência do IPCC (1850-1900), muito acima do limite mínimo do Acordo de Paris.

Desta forma, janeiro de 2025 terminou como o janeiro mais quente já registrado desde 1940 e, provavelmente, o janeiro mais quente dos últimos 125.000 anos, conforme mostra o gráfico abaixo do professor Eliot Jacobson, com base nos dados preliminares do Instituto Copernicus.

250203a janeiro de 2025 terminou como o janeiro mais quente

Inquestionavelmente, os anos de 2023 e 2024 foram os mais quentes do Holoceno (últimos 12 mil anos), sendo que, em 2024, a anomalia da temperatura ultrapassou a marca do limite mínimo no Acordo de Paris, de 1,5ºC acima do período pré-industrial (1850-1900). O recorde do biênio ficou bem acima das tendências anteriores.

O instituto Berkeley Earth, confirmou que 2024 foi o ano mais quente na Terra desde 1850, superando o recorde anterior estabelecido em 2023 por uma margem clara e definitiva. O pico de aquecimento observado em 2023 e 2024 foi extremo e representa um desvio maior do que o esperado da tendência de aquecimento anterior.

O pico tem várias causas, incluindo variabilidade natural e aquecimento global causado pelo ser humano devido ao aumento das emissões antropogênicas de gases de efeito estufa (GEE), no entanto, há fatores adicionais que são necessários para explicar a magnitude total deste evento.

Reduções na cobertura de nuvens baixas e poluição por aerossóis de enxofre causada pelas atividades antrópicas provavelmente desempenharam um papel adicional significativo no aquecimento recente.

Nos últimos 50 anos, o aquecimento global ocorreu de forma quase linear, consistente com um aumento quase linear no forçamento total de gases de efeito estufa.

O pico de aquecimento em 2023/2024 sugere que a taxa de aquecimento passada não é mais um preditor confiável do futuro, e fatores adicionais criaram condições para um aquecimento mais rápido.

O repique de aquecimento em 2023/2024 parece ter se desviado significativamente da tendência anterior. Se assumíssemos que o aquecimento global estava continuando na mesma taxa que durante o período de 50 anos de 1970-2019, então os números de 2023/2024 seria de longe o maior desvio dessa tendência, conforme mostra o gráfico abaixo.

250203b aquecimento global 2023 2024

Na avaliação do instituto Berkeley Earth, espera-se que 2025 seja moderadamente mais frio do que 2024, devido aos padrões naturais de resfriamento que começaram recentemente nos oceanos (efeito La Niña). O resultado mais provável, na estimativa do instituto Berkeley Earth, é que 2025 seja classificado como aproximadamente o terceiro ano mais quente desde 1850, embora resultados mais quentes ou mais frios também sejam possíveis.

Sendo um dos 3 anos mais quentes, o quadro climático em 2025 é preocupante. Artigo do jornal The Guardian mostra que a economia global pode enfrentar uma perda de 50% no PIB entre 2070 e 2090, devido aos choques climáticos. O aviso dos especialistas em gestão de risco do Institute and Faculty of Actuaries (IFoA) indica que aumenta enormemente a estimativa de risco para o bem-estar econômico global devido aos impactos das mudanças climáticas, como incêndios, inundações, secas, aumentos de temperatura e colapso da natureza.

Em geral, a comunidade científica e organismos internacionais, como o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), alertam que os impactos de um aumento descontrolado da temperatura global podem ser catastróficos, existindo a possibilidade de colapso da civilização.

Os principais riscos são:

Impactos na segurança alimentar: A desertificação, o aumento da frequência de secas e eventos extremos podem reduzir drasticamente a produção agrícola. A escassez de alimentos pode levar a conflitos por recursos e fome em larga escala.

Crises hídricas: A redução das reservas de água potável, devido ao derretimento de geleiras, secas prolongadas e poluição, pode gerar disputas por água entre países e regiões.

Eventos climáticos extremos: Furacões mais intensos, inundações devastadoras e ondas de calor mortais podem desestabilizar comunidades e economias, resultando em deslocamentos em massa de populações.

Aumento do nível do mar: Com o derretimento das calotas polares e o aquecimento dos oceanos, cidades costeiras e regiões de baixa altitude podem se tornar inabitáveis, deslocando milhões de pessoas e destruindo infraestrutura.

Instabilidade econômica: Os custos para lidar com desastres climáticos, reconstruir cidades e realocar populações poderiam desestabilizar economias globais, gerando crises financeiras e perda de governança.

Perda de biodiversidade: O colapso de ecossistemas cruciais, como florestas tropicais e recifes de corais, pode levar à extinção de espécies essenciais para a estabilidade ambiental e segurança alimentar.

Migrações em massa e conflitos sociais: Milhões de refugiados climáticos podem aumentar as tensões em regiões já fragilizadas, criando uma crise humanitária global.

O risco de colapso civilizacional: A combinação de todos esses fatores pode sobrecarregar a capacidade das instituições humanas de responder e adaptar-se. Isso já foi observado em menor escala na história, como o colapso de civilizações antigas (ex.: Maias e Sumérios) devido a mudanças ambientais e crises de recursos.

A janela de oportunidade para evitar os piores cenários está se fechando, mas ainda há tempo para agir.

A despeito da falta de ações efetivas da governança global, a COP30 a ser realizada em novembro em Belém (PA), por exemplo, será um momento-chave para fortalecer os compromissos globais.

O ano passado (2024) foi o ano mais quente já registrado. Tivemos recordes de incêndios florestais, recordes de ondas de calor, recordes de derretimento do gelo, recordes de seca. Este ano, podemos quebrar todos os números novamente. Como diria Bob Dylan: quantos recordes mais precisamos quebrar antes de agir?

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

ALVES, JED. 2024 teve a temperatura mais alta do Holoceno e recorde de degelo no Ártico, Ecodebate, 06/01/2025

https://www.ecodebate.com.br/2025/01/06/2024-teve-a-temperatura-mais-alta-do-holoceno-e-recorde-de-degelo-no-artico/

ALVES, JED. O gelo da Antártida encolhe para mínimos históricos pelo 3º ano consecutivo, 18/03/2024

https://www.ecodebate.com.br/2024/03/18/o-gelo-da-antartida-encolhe-para-minimos-historicos-pelo-3-ano-consecutivo/

ALVES, JED. Crescimento demoeconômico no Antropoceno e negacionismo demográfico, Liinc em Revista, RJ, v. 18, n. 1, e5942, maio 2022 https://revista.ibict.br/liinc/article/view/5942/5595

Sandra Laville. Global economy could face 50% loss in GDP between 2070 and 2090 from climate shocks, say actuaries, The Guardian, 16/01/ https://www.theguardian.com/environment/2025/jan/16/economic-growth-could-fall-50-over-20-years-from-climate-shocks-say-actuaries

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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