A população de Porto Alegre de 1872 a 2024

Porto Alegre será uma das capitais brasileiras a reverter a tendência secular de crescimento contínuo da população

Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

A população brasileira era de 9,93 milhões de habitantes em 1872 (quando foi realizado o primeiro censo demográfico no Brasil, nos 50 anos da Independência) e passou para 212,6 milhões de habitantes em 2024, segundo as projeções populacionais do IBGE. Foi um crescimento de 19,2 vezes em 152 anos.

No sul do país, a população de Porto Alegre (POA) cresceu 32 vezes em 152 anos. Em 1872, a cidade de Porto Alegre era a 5ª maior capital do país, com 44 mil habitantes, sendo maior que a cidade de São Paulo que ficava em 9º lugar e tinha somente 31,4 mil habitantes. Em 1872, Porto Alegre estava atrás apenas do Rio de Janeiro (275 mil), Salvador (129 mil), Recife (116,7 mil) e Belém (62 mil).

No século XX, o crescimento populacional foi significativo e a população porto-alegrense ultrapassou 1 milhão de habitantes em 1980 e fechou o século com 1,36 milhão de pessoas. Chegou a 1.409.351 em 2010 e caiu para 1.389.332 habitantes em 2024, segundo as informações das projeções populacionais do IBGE (revisão 2024).

Em 2024, a cidade de Porto Alegre era a 11ª capital em tamanho populacional, ficando atrás de São Paulo (11,89 milhões), Rio de Janeiro (6,73 milhões), Brasília (2,98 milhões), Fortaleza (2,57 milhões), Salvador (2,57 milhões), Belo Horizonte (2,42 milhões), Manaus (2,28 milhões), Curitiba (1,83 milhão), Recife (1,59 milhão) e Goiânia (1,49 milhão).

O volume populacional da capital gaúcha em relação à população nacional cresceu até a década de 1970. A população de Porto Alegre representava 0,44% da população brasileira em 1872, subiu para 0,76% em 1950 e atingiu o máximo de cerca de 1% em 1970 e 1980. Em 1991, caiu para 0,86%, no ano 2000 caiu para 0,80%, em 2010 caiu para 0,74% e em 2024 ficou em 0,65%, nível comparado com o ano de 1940, conforme mostra o gráfico abaixo.

A população de Porto Alegre cresceu em ritmo acelerado de 1872 até 1980 (quando chegou a 1,16 milhão de habitantes), diminuiu o ritmo e chegou a 1,41 milhão de habitantes em 2010, caindo para 1,389 milhão em 2024 e deve continuar decrescendo no século XXI.

Para acompanhar a dinâmica demográfica recente de Porto Alegre é preciso analisar o número de nascimento e óbito e o saldo migratório. Como o IBGE ainda não divulgou os dados de migração do censo 2022, o que se pode fazer é acompanhar as estatísticas vitais dos últimos anos.

A tabela abaixo mostra o número de nascimentos e óbitos de Porto Alegre e a variação vegetativa (que não considera a migração) entre 2018 e 2024. Nota-se que o número de nascimentos estava acima de 20 mil antes de 2020 e caiu para menos de 20 mil depois da pandemia da covid-19. Já o número de óbitos estava abaixo de 20 mil antes da pandemia e subiu para mais de 20 mil a partir de 2020.

Existia uma variação vegetativa positiva antes da pandemia, que se tornou uma variação negativa a partir de 2020. Ou seja, o crescimento vegetativo se transformou em decrescimento vegetativo, sendo que o número de 2023 foi quase de equilíbrio, mas voltou a subir em 2024, com uma variação negativa, isto é, um decrescimento vegetativo de mais de 2 mil pessoas.

De fato, Porto Alegre que já estava sendo impactada pela pandemia da covid-19, passou a ser impactada também pelas grandes enchentes de 2024, pois o número de nascimentos caiu e o número de mortes aumentou.

Mesmo sem dados oficiais sobre a migração, várias reportagens de jornais (impressos ou digitais) mostram o esvaziamento de ruas e bairros, por conta de uma sensação que vai da insegurança ao medo de novas enchentes. Várias residências foram praticamente abandonadas após as enchentes e estima-se que o número de emigrantes superou o número de imigrantes na capital gaúcha.

Indubitavelmente, Porto Alegre será uma das capitais brasileiras a reverter a tendência secular de crescimento contínuo da população. Será uma experiência pioneira no século XXI.

Evidentemente, poderá ser uma solução ou uma danação, dependendo de como a nova realidade for administrada.

A redução da força de trabalho poderá ser um fator de estrangulamento da economia ou pode ser compensada com mais tecnologia, maior produtividade, menor pobreza e menor subutilização da força de trabalho. Em termos ambientais, a redução da população porto-alegrense poderá abrir espaço para uma maior sustentabilidade e uma menor especulação imobiliária.

Por exemplo, o déficit habitacional poderá ser eliminado e muitos prédios urbanos poderão ser transformados em hortas verticais. Poderá haver espaço para mais áreas verdes, mais parques, menos engarrafamentos, aguas limpas no Guaíba, mais tranquilidade gerando maior qualidade de vida para as pessoas e para toda a vida ecossistêmica.

A transição urbana fez as pessoas pensarem que cidade boa é cidade grande e quanto maior melhor. Mas é preciso reconhecer que o século XXI será marcado por um cenário de decrescimento da população e dos municípios. Novas oportunidades serão geradas. Como disse o economista E.E. Schumacher (1973): “Small Is Beautiful”.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI, Escola de Negócios e Seguro (ENS), maio de 2022. (Colaboração de Francisco Galiza).
https://ens.edu.br:81/arquivos/Livro%20Demografia%20e%20Economia_digital_2.pdf

ALVES, JED. As novidades e as surpresas do censo demográfico 2022, Ecodebate, 03/07/2023
https://www.ecodebate.com.br/2023/07/03/as-novidades-e-as-surpresas-do-censo-demografico-2022/

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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