Concentração de CO₂ supera limite de 1,5°C no aquecimento
Aumento de CO₂ na atmosfera supera limite do IPCC para 1,5°C. Fenômenos como El Niño e emissões recordes agravam a crise climática global.
Por Grahame Madge
Met Office
O aumento da concentração de dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera já não se alinha com os cenários delineados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) para restringir o aquecimento global a 1,5°C, revela um estudo do Met Office.
Em 2024, foi observada a aceleração mais rápida da concentração anual de CO₂ atmosférico na série histórica de medições realizadas em Mauna Loa, no Havaí, que teve início em 1958. O crescimento de 3,58 partes por milhão (ppm) superou a projeção do Met Office de 2,84 ± 0,54 ppm.
Medições via satélite também captaram um aumento significativo em todo o planeta, resultado de emissões recordes decorrentes da combustão de combustíveis fósseis, agravadas por sumidouros naturais de carbono mais ineficientes — como florestas tropicais — e incêndios florestais excepcionais. Esses elementos foram intensificados por condições climáticas de calor e seca extremos, parcialmente ligadas ao fenômeno El Niño e a outros fatores relacionados às mudanças climáticas.
De acordo com os cálculos do IPCC, para restringir o aquecimento global a 1,5°C, o acúmulo de CO₂ na atmosfera deve estar desacelerando para uma taxa de 1,8 ppm ao ano. No entanto, a previsão para o aumento entre 2024 e 2025 é de 2,26 ± 0,56 ppm, um ritmo menos acelerado que o do ano anterior, devido a uma recuperação parcial dos sumidouros de carbono em função da transição do fenômeno El Niño para La Niña.
Ainda assim, esse aumento mais moderado ainda é rápido demais para convergir com os cenários do IPCC que evitam ou minimizam o superaquecimento além de 1,5°C.
O acúmulo de CO₂ e outros gases de efeito estufa já levaram o clima a níveis prejudiciais. Conforme o professor Richard Betts, responsável pela previsão, “na semana passada, foi confirmado que 2024 foi o ano mais quente já registrado, com temperaturas médias anuais ultrapassando 1,5°C acima dos níveis pré-industriais pela primeira vez. Isso, no entanto, não significa o insucesso do Acordo de Paris, já que seria necessário que o aquecimento ultrapassasse 1,5°C por um período prolongado. É possível que 2025 seja levemente mais frio, mas a tendência de aquecimento a longo prazo persistirá, pois o CO₂ continua se acumulando na atmosfera.”
Betts acrescentou: “Espera-se que as condições de La Niña possibilitem que florestas e outros ecossistemas absorvam mais carbono do que no ano passado, desacelerando temporariamente o aumento do CO₂ atmosférico. Contudo, para deter o aquecimento global, é imprescindível interromper completamente o acúmulo de gases de efeito estufa e, em seguida, iniciar sua redução. Reduções rápidas e significativas nas emissões podem limitar a magnitude do superaquecimento além de 1,5°C — mas isso demanda uma ação urgente e coordenada em nível global.”
Aumento atmosférico de CO2 acima de 280 ppm em médias semanais observadas em Mauna Loa.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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