Volatilidade climática amplia incêndios e secas na Califórnia
Entenda como a volatilidade climática, causada pelas mudanças climáticas, agrava secas, incêndios e enchentes na Califórnia e no mundo.
Los Angeles em chamas: a volatilidade climática e a conexão com a crise climática
Após anos de seca severa, a Califórnia foi atingida por dezenas de rios atmosféricos no inverno de 2022-23, trazendo precipitações recordes. Cidades montanhosas foram soterradas pela neve, vales ficaram submersos pela chuva e pelo derretimento, e centenas de deslizamentos de terra ocorreram.
O padrão extremo continuou no inverno seguinte, especialmente no sul do estado, com chuvas abundantes que promoveram o crescimento de gramíneas e arbustos. No entanto, 2024 trouxe um verão de calor recorde e um início de estação chuvosa em 2025 com índices mínimos de precipitação, deixando a vegetação seca e inflamável, que alimentou uma série de incêndios florestais devastadores.
Essa alternância extrema entre períodos de chuvas intensas e secas perigosas em prazos curtos – a “volatilidade climática” (em inglês “climate volatility”)– está se tornando mais frequente em escala global, de acordo com um estudo publicado na Nature Reviews.
Pesquisadores climáticos apontam que registros meteorológicos mostram um aumento dessa volatilidade entre 31% e 66% desde meados do século 20, uma tendência mais acentuada do que previam os modelos climáticos.
O estudo adverte que, com o aumento da temperatura global em 3°C acima dos níveis pré-industriais, esses eventos extremos podem mais que dobrar. O planeta já caminha para ultrapassar o limite de 1,5°C estabelecido no Acordo de Paris. A análise, que sintetizou centenas de estudos anteriores, destaca que as mudanças climáticas causadas pelo homem são o principal fator por trás dessa aceleração.
Um dos motores dessa instabilidade é o que os pesquisadores chamam de “esponja atmosférica em expansão” – a capacidade crescente da atmosfera de evaporar, absorver e liberar 7% mais água para cada grau Celsius de aquecimento.
As consequências globais incluem não apenas enchentes e secas, mas a intensificação do ciclo de extremos, como o florescimento e a queima de vegetação sobre-hidratada que depois seca rapidamente, além de deslizamentos de terra em encostas saturadas, onde incêndios recentes eliminaram plantas capazes de estabilizar o solo. Cada fração de grau adicional de aquecimento aumenta o poder destrutivo dessas transições.
Estudos anteriores frequentemente ignoraram a demanda evaporativa crescente, focando apenas na precipitação. No entanto, uma atmosfera mais “sedenta” retira mais água do solo e das plantas, agravando as condições de seca além da simples ausência de chuvas.
Esse cenário de ciclos hídricos de “boom e colapso” traz implicações importantes para a gestão da água. Tradicionalmente, muitas regiões canalizam águas de enchentes rapidamente para o oceano ou permitem que a chuva se infiltre no lençol freático. Porém, cada abordagem isolada deixa as cidades vulneráveis ao outro lado do ciclo extremo.
A projeção é de que a volatilidade climática aumente principalmente no norte da África, Oriente Médio, sul da Ásia, norte da Eurásia, Pacífico tropical e Atlântico tropical, mas outras regiões também sentirão os impactos.
Na Califórnia, enquanto ventos intensificam os incêndios extremos desta semana, a falta de chuva, impulsionada pelos ciclos de instabilidade climática, prolonga a temporada de fogo no sul do estado. Sob um cenário de alto aquecimento, o estado enfrentará anos e estações tanto mais úmidos quanto mais secos até o final do século.
Referência:
Swain, D.L., Prein, A.F., Abatzoglou, J.T. et al. Hydroclimate volatility on a warming Earth. Nat Rev Earth Environ 6, 35–50 (2025). https://doi.org/10.1038/s43017-024-00624-z
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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