A dinâmica demográfica da América do Norte de 1950 a 2100
A pegada ecológica na América do Norte está diminuindo. Mas a região terá que investir na transição energética e na restauração ecológica
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
A Divisão de População da ONU divulgou, no Dia Mundial de População, 11 de julho de 2024, as novas projeções demográficas para todos os países e regiões do mundo, já incorporando os efeitos da pandemia da covid-19 sobre a dinâmica populacional. Os novos números são fundamentais para se conhecer os cenários demográficos globais.
A população do planeta (em 1º de julho) era de 2,49 bilhões de habitantes em 1950, passou para 6,2 bilhões no ano 2000, deve atingir o pico populacional em 2084, com 10,3 bilhões de habitantes e diminuir ligeiramente para 10,2 bilhões de habitantes em 2100. A população global deve mais que quadruplicar em 150 anos. Mas todo este crescimento se deu de forma diferenciada.
O gráfico abaixo mostra que a América do Norte tinha 168 milhões de habitantes em 1950, passou para 313 milhões no ano 2000 e deve continuar crescendo até 475 milhões de habitantes em 2100, conforme a linha vermelha mais forte. Mas a ONU também apresenta outros cenários representados pela área amarela (com probabilidade de 80%) e outras linhas com probabilidade menor.
A despeito da desaceleração do crescimento populacional, existe uma mudança da estrutura etária que vai ocorrer ao longo do atual século. O gráfico abaixo mostra que o percentual de crianças e adolescentes (0-14 anos) estava em 32% no início da década de 1960, caiu pela metade, em torno de 16% na atual década e deve ficar em torno de 14% no final do século.
A percentagem de pessoas em idade economicamente ativa (15-59 anos) caiu na década de 1950, em função do baby bom ocorrido nos EUA. Mas a percentagem subiu até o máximo de 64% na primeira década do atual século. Nas últimas 8 décadas, a população em idade ativa vai diminuir até ficar em torno de 52% em 2100. Isto quer dizer que a América do Norte já passou pelo melhor momento do 1º bônus demográfico. Ou seja, deve haver um encolhimento da força de trabalho norte-americana nas próximas 8 décadas.
Enquanto caem as percentagens de jovens e adultos em idade de trabalhar, a percentagem de idosos de 60 anos e mais de idade deve subir rapidamente no restante do atual século. A percentagem de idosos da América do Norte estava em torno de 10% em meados do século passado, chegou atualmente em torno de 25% e deve atingir cerca de 35% em 2100.
Evidentemente, o fim do 1º bônus demográfico traz desafios para a economia. Mas o continente pode contar com o 2º bônus demográfico (bônus da produtividade) e o 3º bônus demográfico (bônus da longevidade e da geração prateada).
A Global Footprint Network apresenta uma metodologia que viabiliza o cálculo da capacidade de carga, contabilizando o impacto humano sobre o meio ambiente e a disponibilidade de “capital natural” do mundo.
O gráfico abaixo, do Instituto Global Footprint Network, apresenta os valores da pegada ecológica global e da biocapacidade global de 1961 a 2019, com uma estimativa até 2022. A pegada ecológica serve para avaliar o impacto do ser humano sobre a biosfera. A biocapacidade, avalia o montante de terra, água e demais recursos biologicamente produtivos para prover bens e serviços do ecossistema, sendo equivalente à capacidade regenerativa da natureza. Ambas as medidas são representadas em hectares globais (gha).
Em 1961, a população da América do Norte era de 202 milhões de habitantes e tinha uma biocapacidade de 1,52 bilhão de gha e uma pegada ecológica de 1,79 bilhão de gha.
Portanto, havia um pequeno déficit ambiental na América do Norte, de 270 milhões de gha. Ao longo das décadas este déficit subiu até quase 2 bilhões de gha na primeira década do atual século.
Em 2022, a pegada ecológica da América do Norte passou para 2,81 bilhões de gha e a biocapacidade ficou em 1,81 bilhão de gha. Isto significa que o déficit ambiental diminuiu, mas se mantém elevado em 1 bilhão de gha ou um déficit relativo de 55%.
Nos últimos anos a pegada ecológica na América do Norte está diminuindo. Mas a região terá que investir na transição energética e na restauração ecológica para acelerar a saída do déficit e conseguir criar um superávit ambiental.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. A ONU divulga os novos números da população mundial e brasileira, Ecodebate, 12/07/2024 https://www.ecodebate.com.br/2024/07/12/a-onu-divulga-os-novos-numeros-da-populacao-mundial-e-brasileira/
ALVES, JED. China busca a sustentabilidade com menos habitantes e mais energia renovável, Ecodebate, 15/07/2024 https://www.ecodebate.com.br/2024/07/15/china-busca-a-sustentabilidade-com-menos-habitantes-e-mais-energia-renovavel/
ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI (com a colaboração de GALIZA, F), ENS, maio de 2022
https://prdapi.ens.edu.br/media/downloads/Livro_Demografia_e_Economia_digital_2.pdf
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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