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Artigo

Comportamento do Consumidor e Mudanças Climáticas

 

 

Como mudanças no comportamento do consumidor podem reduzir a pegada de carbono e mitigar as mudanças climáticas? Sustentabilidade começa com escolhas conscientes.

Artigo de José Austerliano Rodrigues

Explore como mudanças no comportamento do consumidor podem reduzir a pegada de carbono e mitigar as mudanças climáticas. Sustentabilidade começa com escolhas conscientes.

O comportamento do consumidor tornou-se uma das áreas mais estudadas no campo da Sustentabilidade de Marketing e do Comportamento do Consumidor Sustentável.

Diante da crescente emissão de gás carbônico, consumo da água, mudanças climáticas e outros problemas ecológicos, a produção e o consumo globais estão se tornando, também, áreas cada vez mais urgentes de estudo. Embora as inovações tecnológicas sejam essenciais exigidas para reduzir esses problemas, a importância e papel do consumo têm recebido muita atenção nos últimos anos (Belz; Peattie, 2012; Van Trijp; Fischer, 2011; Smart, 2010; Spaargaren; Oosterveer, 2010).

Desta maneira, a crescente pesquisa sobre comportamento do consumidor e mudanças climáticas tem gradualmente aprimorado nossa compreensão sobre maneiras eficazes de mobilizar consumidores na mitigação das mudanças climáticas. A relação entre comportamento do consumidor e as mudanças climáticas é complexa, e a maioria dos consumidores não consegue identificar quais mudanças em seus hábitos realmente valem a pena implementar.

Assim sendo, grande parte do foco deve estar em tornar o comportamento favorável ao clima mais acessível, garantindo que a pegada de carbono seja refletida adequadamente nos preços, que produtos favoráveis ​​ao clima se comparem favoravelmente às alternativas não favoráveis, ​​e que haja uma rotulagem clara sobre o carbono (Thøgersen, 2021).

Contudo, o crescimento global sem precedentes na produção e no consumo nos últimos 200 anos, possibilitado por grandes avanços na ciência e na tecnologia , levou a melhorias substanciais na vida de bilhões de pessoas, aumentado tanto a expectativa de vida quanto a satisfação com a vida.

Ao mesmo tempo, a atividade humana tornou-se tão dominante no planeta que os cientistas passaram a falar sobre uma nova época geológica – o “Antropoceno”. Parece que essa atividade já levou, ou está prestes a levar, ao cruzamento de limites planetários críticos, o que pode resultar em consequências desastrosas para a humanidade e outras espécies no planeta (Steffen et al., 2018).

Todavia, um dos mais fundamentais limites planetários é uma temperatura global estável, que está ameaçada pelas emissões de dióxido de carbono equivalente (CO2e) e outros gases de efeito estufa resultantes das atividades de produção e consumo humano.

Para mitigar um aumento na temperatura global de mais de 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais (IPCC, 2018), os governos de todo o mundo assumiram compromissos para reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa nas próximas duas décadas, conforme estabelecido no Acordo de Paris.

No entanto, para alcançar esse objetivo, os governos precisam mobilizar a sociedade civil, incluindo empresas privadas e consumidores, a fim mudar os padrões de produção e consumo em uma direção mais favorável ao clima.

Estimou-se que, através da implementação realista de mudanças já conhecidas no comportamento do consumidor, a União Europeia (UE) poderia reduzir a sua pegada de carbono em cerca de 25% (Moran et al., 2020). As mudanças mais impactantes seriam: a alteração no padrão de consumo (28% do total), a redução do consumo (26%), a mudança para bens com uma pegada de carbono mais baixa na produção (17%) e a escolha de bens com menor emissão de carbono durante a utilização (19%). Por setor, são os transportes (39%), os edifícios (24%) e os alimentos (26%) que representam as maiores quotas da pegada de carbono do consumo (Thøgersen, 2021).

Moran et al. (2020) estimaram os efeitos de 90 oportunidades de mudança de comportamento do lado da procura identificadas por pesquisas anteriores e descobriram que 65 destas contribuem de forma insignificante para a pegada de carbono a nível nacional. Por isso, é importante que os esforços nas mudanças de comportamento com o maior impacto potencial (Gardner; Stem, 2008).

A pegada de carbono individual aumenta com o rendimento, especialmente na categoria dos transportes, onde comportamento de alto impacto, como as viagens aéreas e o uso de automóveis, apresenta elevada elasticidade em relação ao rendimento (Ivanova; Wood, 2020). Assim, para reduzir os impactos climáticos, faz sentido concentrar-se os esforços na mudança de comportamento dos consumidores com maiores rendimento (Malier, 2019).

Essencialmente, os consumidores podem reduzir a sua pegada de carbono ao reduzir o consumo de atividades particularmente prejudicial para o clima, como as viagens aéreas (Moran et al., 2020) e o consumo de carne de ruminantes (Clune; Crossin; Verghese, 2017).

Na maioria das vezes, reduzir o consumo significa substituí-lo por outra alternativa, esperançosamente menos intensivas em carbono, como optar pelo comboio (Dällenbach, 2020) ou adotar uma dieta mais baseada em vegetais Mason-D’Croz (2019). Os consumidores também podem escolher opções mais amigas do clima quando compram produtos, como os aparelhos mais eficientes em termos energéticos ou os veículos eléctricos (IEA, 2017).

Nos países em desenvolvimento, o baixo rendimento e a falta de sensibilização tornam as alternativas de baixo carbono inacessíveis para grande parte população (Gunarathne; Kaluarachchilage; Rajasooriya, 2020). Para Thøgersen (2021), as implicações práticas dessas descobertas são claras, embora nem sempre fáceis de implementar.

Contudo, a crescente pesquisa sobre comportamento do consumidor e mudanças climáticas está gradualmente melhorando nossa compreensão da maneira mais eficaz de mobilizar os consumidores para mitigar as mudanças climáticas. A relação entre comportamento do consumidor e as mudanças climáticas é complexa, e os consumidores individuais não são capazes de identificar as mudanças de comportamento que realmente valem a pena adotar para ajudar o clima (Thøgersen, 2021).

Deste modo, governos e empresas devem tornar o comportamento favorável ao clima mais fácil, garantindo um reflexo correto da pegada de carbono nos preços, produtos favoráveis ​​ao clima que se comparem favoravelmente às alternativas desfavoráveis ​​ao clima e rotulagem de carbono confiável e compreensível para facilitar a tomada de decisões favoráveis ​​ao clima.

A revisão da literatura sobre comportamento do consumidor e mudanças climáticas foi limitada a publicações recentes, de 2019 em diante. A forte super-representação de estudos oriundos de países desenvolvidos dificilmente se deve a um viés de amostragem, pois esse padrão é consistentemente observado em revisões desta e de literaturas relacionadas (Rad, Martingano; Ginges, 2018).

José Austerliano Rodrigues é Administrador e Especialista Sênior em Sustentabilidade para Organizações de Diversos Setores, além de Docente em Empreendedorismo e Gestão de Sustentabilidade em Marketing. Possui Doutorado em Sustentabilidade de Marketing pela UFRJ. E-mail: austerlianorodrigues@bol.com.br Instagram: @joseausterliano.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394
 

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