Guia de Estudo: Impactos de ultrapassar 1,5°C de aquecimento
Relatório identifica 26 pontos de inflexão negativos, com pelo menos cinco em risco iminente e outros três ameaçados caso o aquecimento ultrapasse 1,5°C
O artigo “What 1.5°C overshoot would mean for climate impacts and adaptation”, publicado pelo Carbon Brief, discute os impactos e adaptações à mudança climática no caso de ultrapassarmos o limite de aquecimento global de 1,5°C.
Os autores, especialistas em diferentes áreas climáticas, analisam os riscos de eventos extremos como ondas de calor e perda de biodiversidade, mostrando como o excesso de aquecimento pode ter consequências irreversíveis, mesmo que as temperaturas voltem a cair no futuro.
O artigo enfatiza a importância de limitar o aquecimento global ao máximo e trabalhar para uma redução de longo prazo da temperatura, para minimizar as consequências da mudança climática.
Artigo de referência e fonte recomendada para compreensão do tema: “What 1.5C overshoot would mean for climate impacts and adaptation” https://www.carbonbrief.org/guest-post-what-1-5c-overshoot-would-mean-for-climate-impacts-and-adaptation/
Impactos do “Overshoot” de 1,5°C e Implicações para a Adaptação
O “overshoot” de 1,5°C refere-se à possibilidade de a temperatura global ultrapassar o limite de 1,5°C de aquecimento em relação aos níveis pré-industriais, mesmo que medidas sejam tomadas para reduzi-la posteriormente.
Este cenário levanta sérias preocupações sobre os impactos das mudanças climáticas e a capacidade de adaptação da sociedade.
Principais Impactos do “Overshoot”:
● Eventos climáticos extremos mais intensos e frequentes: O “overshoot” intensificaria ondas de calor, secas, inundações e outros eventos climáticos extremos, tornando a adaptação mais desafiadora e onerosa.
Por exemplo, o estudo destaca a cidade de Chennai, na Índia, onde o número de dias com estresse térmico extremo poderia chegar a 180 por ano em um cenário de 3°C de aquecimento, em comparação com cerca de 110 dias em um cenário de baixo “overshoot” de 1,5°C.
● Danos irreversíveis a ecossistemas: O “overshoot” pode levar à perda irreversível de recifes de coral, geleiras e espécies, mesmo que a temperatura global seja posteriormente reduzida.
A perda de geleiras, como as do Peru, teria impactos significativos na disponibilidade de água doce durante a estação seca.
A biodiversidade também seria severamente afetada, com um risco aumentado de extinção local de espécies.
● Aumento do nível do mar: O derretimento acelerado de geleiras e calotas polares devido ao “overshoot” contribuiria para o aumento do nível do mar, ameaçando comunidades costeiras e infraestruturas.
Impacto na Adaptação:
● Limitação das opções de adaptação: O “overshoot” tornaria algumas medidas de adaptação inviáveis devido à magnitude dos impactos climáticos.
● Aumento dos custos de adaptação: Adaptação a eventos climáticos mais extremos e frequentes seria mais cara e complexa.
● Questões de equidade intergeracional: O “overshoot” coloca um ônus maior nas gerações futuras, que teriam que lidar com os impactos de um clima mais extremo e com menos opções de adaptação.
Embora a reversão do “overshoot” seja tecnicamente possível, seus impactos seriam duradouros e colocariam em risco a capacidade de adaptação da sociedade. Portanto, é crucial limitar o aquecimento global o mais próximo possível de 1,5°C, e idealmente buscar uma redução da temperatura global a longo prazo, para minimizar os riscos e garantir um futuro sustentável.
Questionário
Responda às seguintes perguntas em 2-3 frases cada:
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Explique o conceito de “overshoot” no contexto das metas de temperatura do Acordo de Paris.
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Quais são os impactos projetados do estresse térmico extremo em Chennai, Índia, sob diferentes cenários de emissões?
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Cite três exemplos de impactos das mudanças climáticas que são considerados irreversíveis em escalas de tempo relevantes para a sociedade humana.
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Como a perda de geleiras no Peru ilustra os riscos evitáveis e inevitáveis das mudanças climáticas?
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Qual a relação entre a ultrapassagem da temperatura e os riscos de extinção local de espécies, usando o Brasil como exemplo?
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De que forma a ultrapassagem de 1.5°C complica o planejamento de adaptação às mudanças climáticas?
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Explique o conceito de “horizontes de planejamento” em relação à adaptação climática e como ele se relaciona com a ultrapassagem da temperatura.
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Por que é importante almejar um declínio de longo prazo na temperatura global, mesmo que o pico de aquecimento seja limitado a 1.5°C?
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Quais são os argumentos contra a consideração da ultrapassagem como uma alternativa aceitável para atingir as metas climáticas?
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Com base no artigo, qual é a principal mensagem sobre a urgência de ação climática para limitar os riscos das mudanças climáticas?
Gabarito do Questionário
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“Overshoot” refere-se à possibilidade de a temperatura global média exceder temporariamente o limite de 1.5°C estabelecido pelo Acordo de Paris, com a expectativa de que as temperaturas sejam reduzidas posteriormente através de medidas de remoção de carbono da atmosfera.
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Sob as políticas climáticas atuais, Chennai pode ter cerca de 180 dias por ano com estresse térmico extremo até 2100. Em um cenário de baixa ultrapassagem de 1.5°C, os dias de estresse térmico extremo chegariam a um pico de 120 por volta de meados do século, diminuindo para cerca de 110 até 2100.
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A perda de recifes de coral, o derretimento de geleiras e a elevação do nível do mar são exemplos de impactos das mudanças climáticas considerados irreversíveis em escalas de tempo de séculos a milênios.
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As geleiras peruanas, vitais para o fornecimento de água doce, continuarão a derreter devido ao aquecimento passado. A mitigação rigorosa pode preservar 50% do volume atual das geleiras, enquanto as políticas atuais podem levar à perda de 50% já em 2050.
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No Brasil, um país com alta biodiversidade, a probabilidade de 50% das espécies enfrentarem risco de extinção local chega a 74% até 2100 sob as políticas atuais. A mitigação rigorosa pode evitar quase completamente essa perda.
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A ultrapassagem aumenta a magnitude e a velocidade das mudanças climáticas, exigindo adaptações mais complexas e desafiadoras. A irreversibilidade de alguns impactos e os limites de adaptação tornam o planejamento mais difícil.
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Horizontes de planejamento referem-se ao período considerado ao tomar decisões de adaptação. A ultrapassagem exige considerar prazos mais longos, pois a reversão dos impactos pode levar décadas, impactando a viabilidade e a efetividade de algumas medidas de adaptação.
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Um declínio de longo prazo na temperatura global é crucial para minimizar os riscos de impactos climáticos com efeitos retardados, como o derretimento de camadas de gelo e o degelo do permafrost, além de reduzir o risco de pontos de inflexão climáticos.
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A ultrapassagem implica em riscos e impactos climáticos mais severos e duradouros, com consequencias potencialmente irreversíveis para os ecossistemas e a sociedade. A incerteza sobre a capacidade de reverter a temperatura e os limites de adaptação tornam a ultrapassagem uma aposta arriscada.
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O artigo enfatiza a urgência de ação climática imediata e ambiciosa para limitar o aquecimento global o mais próximo possível de 1.5°C, e posteriormente promover um declínio da temperatura, a fim de evitar os piores impactos das mudanças climáticas e garantir um futuro sustentável.
Questões para Dissertação
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Discuta as implicações éticas da ultrapassagem de 1.5°C, considerando as responsabilidades intergeracionais e a justiça climática global.
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Analise os desafios e as oportunidades de adaptação às mudanças climáticas em um mundo com ultrapassagem de 1.5°C, considerando diferentes setores e regiões.
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Avalie a viabilidade e a efetividade de diferentes abordagens de mitigação climática para limitar o aquecimento global e promover um declínio de longo prazo na temperatura global.
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Compare e contraste os impactos da ultrapassagem de 1.5°C em diferentes tipos de ecossistemas, explorando os riscos de perda de biodiversidade, alterações nos serviços ecossistêmicos e pontos de inflexão.
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Investigue o papel da comunicação científica e do engajamento público na promoção da ação climática e na construção de resiliência em face da ultrapassagem de 1.5°C.
Glossário de Termos-Chave
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Overshoot: Ultrapassagem temporária do limite de temperatura de 1.5°C estabelecido pelo Acordo de Paris.
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Mitigação climática: Ações para reduzir as emissões de gases de efeito estufa ou aumentar sua remoção da atmosfera.
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Adaptação climática: Ajustes em sistemas humanos ou naturais em resposta a mudanças climáticas reais ou esperadas.
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Estresse térmico extremo: Combinação de alta temperatura e umidade que pode ser prejudicial à saúde humana.
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WBGT (Wet-bulb globe temperature): Medida que combina temperatura, umidade e radiação solar para avaliar o estresse térmico.
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Irreversibilidade: Impactos que não podem ser revertidos em escalas de tempo relevantes para a sociedade humana.
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Horizontes de planejamento: Período considerado ao tomar decisões de adaptação climática.
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Limites de adaptação: Pontos além dos quais a adaptação a um impacto climático se torna inviável ou ineficaz.
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Pontos de inflexão: Mudanças abruptas e irreversíveis em sistemas climáticos ou ecológicos.
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Justiça climática: Consideração de questões de equidade e responsabilidade na resposta às mudanças climáticas.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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