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Artigo

A temperatura global em outubro de 2024 e as tempestades na Espanha

 

O fato é que os desastres climáticos estão se generalizando e provocando muitas vítimas fatais e mais prejuízos econômicos.

Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

A temperatura global dos anos de 2023 e 2024 são as maiores em cerca de 125 mil anos.

A anomalia da temperatura do planeta em todo o ano de 2023 ficou um pouquinho abaixo do limite de 1,5ºC em relação ao período pré-industrial (1850-1900), mas a temperatura global em 2024 deve superar o limite de 1,5ºC estabelecido no Acordo de Paris.

O gráfico abaixo, do Goddard Institute for Space Studies da NASA, mostra que as temperaturas mensais de 2023 bateram todos os recordes em relação aos anos anteriores, mas as temperaturas mensais de 2024 foram ainda maiores em 2024 até o mês de agosto. Mas, com o fim do fenômeno El Niño, o mês de setembro de 2024 apresentou anomalia mais baixa do que o mês de setembro de 2023.

anomalia da temperatura global de 1880 a 2024

 

O gráfico abaixo do Instituto Climate Reanalyzer da Universidade do Maine, mostra a temperatura diária para os anos de 1940 a 2024 (até outubro). O gráfico confirma que as temperaturas do primeiro semestre de 2024 foram maiores do que as temperaturas do mesmo período de 2023. As temperaturas nos meses de julho e agosto foram semelhantes às do ano passado, mas a temperatura de setembro foi menor em 2024. Mas, contrariando as expectativas, a temperatura de outubro voltou a apresentar o nível de 2023, ficando 1,65ºC acima do período pré-industrial. Isto quer dizer que é grande a probabilidade de a temperatura de todo o ano de 2024 ficar acima da temperatura de 2023, batendo novo recorde.

temperatura diária para os anos de 1940 a 2024

 

Este aumento da temperatura global tem impulsionado os eventos climáticos extremos, como a inundação que atingiram o Rio Grande do Sul em maio de 2024, a seca que atinge a Amazônia, os furacões Helene e Milton que atingiram a Flórida e vários outros desastres que se espalharam pelo mundo.

Na Espanha, na última semana de outubro, em poucas horas, ocorreu a maior tempestade do século. Em poucas horas, caiu o equivalente a um ano de chuva em algumas áreas, provocando grandes enchentes que devastaram cidades inteiras, deixando milhares de pessoas ilhadas, principalmente na região de Valência, no leste do país. Em alguns lugares, foram registrados até 450 litros de precipitação por metro quadrado. Mais de 210 pessoas morreram, milhares ficaram desabrigadas e os prejuízos econômicos foram de grande proporção. Todas as classes sociais foram atingidas.

As chuvas, os ventos fortes e os tornados foram causadas por um fenômeno meteorológico conhecido localmente como Depressão Isolada em Altos Níveis (Dana, na sigla em espanhol), que afetou uma grande área do sul e leste da Espanha. A Dana ocorre quando uma massa de ar polar muito fria fica isolada e começa a circular em altitudes muito elevadas (entre 5.000 e 9.000 metros), longe das correntes de vento da atmosfera. Mas gera muita instabilidade quando o ar quente e úmido que vem no Mar Mediterrâneo atinge a massa polar.

Com o aquecimento global e o aumento da temperatura das águas marinhas este tipo de fenômeno se tornou duas vezes mais provável. E ainda foi agravado pelo problema histórico da ocupação desordenada do território da costa mediterrânica espanhola, que é uma das zonas mais densamente povoadas e turísticas do país, onde há décadas são feitas construções em áreas propensas a inundações. Na região de Valência foram construídos bairros onde hoje vivem milhares de pessoas ocupando muitos cursos de água sazonais, geralmente secos, mas expostos a possíveis inundações em momentos de eventos extremos.

Desta forma, as chuvas se transformaram em correntes selvagens que arrastaram tudo ao redor, deixaram os carros amontoados nas ruas e foram uma armadilha mortal para os idosos, especialmente aqueles que mesmo ficando em casa não conseguiram escapar quando se viram atingidos pelas águas.

O fato é que os desastres climáticos estão se generalizando e provocando muitas vítimas fatais e mais prejuízos econômicos. O artigo “The 2024 state of the climate report: Perilous times on planet Earth” (Ripple, 2024), chama a atenção para os perigos da catástrofe climática, dizendo:

“Estamos à beira de um desastre climático irreversível. Esta é uma emergência global, sem sombra de dúvidas. Grande parte da estrutura da vida na Terra está em perigo. Estamos entrando em uma nova fase crítica e imprevisível da crise climática”.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

ALVES, JED. A persistência da alta temperatura global em agosto de 2024, Ecodebate, 09/09/2024
https://www.ecodebate.com.br/2024/09/09/a-persistencia-da-alta-temperatura-global-em-agosto-de-2024/

ALVES, JED. Crescimento demoeconômico no Antropoceno e negacionismo demográfico, Liinc em Revista, RJ, v. 18, n. 1, e5942, maio 2022 https://revista.ibict.br/liinc/article/view/5942/5595

William Ripple et al. The 2024 state of the climate report: Perilous times on planet Earth, BioScience, 2024, 1–13, Special Report https://doi.org/10.1093/biosci/biae087

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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