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Passar de 1,5ºC de aquecimento trará consequências severas

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Annual Temperature Anomaly
Infográfico: Berkeley Earth

Descubra os impactos climáticos se o Acordo de Paris falhar. Análise e síntese do “UNEP Emissions Gap Report 2024”.

 

    1. Impactos esperados se não atingirmos as metas do Acordo de Paris

Se os países não conseguirem reduzir as emissões de gases de efeito estufa para atingir as metas do Acordo de Paris, as consequências serão devastadoras para o planeta e seus habitantes.

O relatório “UNEP Emissions Gap Report 2024” alerta para um cenário catastrófico de aquecimento global caso as nações não intensifiquem seus esforços para mitigar as mudanças climáticas.

Atingir a meta mais ambiciosa do Acordo de Paris, de limitar o aquecimento global a 1,5°C, exige uma redução de 42% nas emissões até 2030, em comparação aos níveis de 2019. Para a meta de 2°C, a redução necessária é de 28% no mesmo período.

No entanto, com as emissões globais tendo crescido 1,3% em 2023, atingindo 57,1 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente, a tarefa se tornou ainda mais desafiadora.

Se os países implementarem apenas os compromissos atuais (NDCs) sem aumentar a ambição, a temperatura global poderá aumentar até 2,6°C até o final do século.

Esse cenário resultaria em impactos debilitantes para as pessoas, o planeta e as economias, incluindo:

● Eventos climáticos extremos mais frequentes e intensos, como ondas de calor, secas, inundações e tempestades.

● Elevação do nível do mar, ameaçando comunidades costeiras e ecossistemas.

● Perda de biodiversidade, com a extinção de espécies e a degradação de habitats.

● Insegurança alimentar e hídrica, com impactos na agricultura e no acesso à água potável.

● Proliferação de doenças e problemas de saúde pública.

● Instabilidade social e conflitos, exacerbados pela escassez de recursos e migrações em massa.

Mesmo uma fração de grau de aquecimento evitado faz uma grande diferença em termos de vidas salvas, economias protegidas, danos evitados e biodiversidade conservada.

A implementação total das NDCs, incluindo aquelas condicionadas ao apoio externo, reduziria as emissões em apenas 10% até 2030, levando a um aquecimento de até 2,6°C. A implementação apenas das políticas atuais resultaria em um aquecimento ainda maior, de até 3,1°C.

Em todos esses cenários, seria necessário remover grandes quantidades de dióxido de carbono da atmosfera no futuro para reduzir o excesso em relação às metas de Paris, um processo que seria caro e tecnicamente desafiador.

É importante destacar que ainda é tecnicamente possível reduzir as emissões de acordo com a trajetória de 1,5°C. O relatório aponta para soluções como:

● Aumento do uso de energia solar e eólica.

● Ações para proteger e restaurar florestas.

● Medidas de eficiência energética, eletrificação e mudança de combustíveis nos setores de edifícios, transporte e indústria.

No entanto, alcançar essa meta exigirá uma mobilização global imediata em uma escala e ritmo sem precedentes, comparável apenas aos esforços observados após conflitos globais.

    1. Setores-chave para redução de emissões em 2030

O relatório “UNEP Emissions Gap Report 2024” destaca o potencial de diversos setores para a redução de emissões de gases de efeito estufa até 2030, com foco na viabilidade técnica de alcançar a trajetória de 1,5°C. Os setores com maior potencial de contribuição são:

● Energia solar e eólica: A implementação em larga escala dessas tecnologias renováveis pode suprir 27% da redução total de emissões necessária em 2030 e 38% em 2035.

● Florestas: Ações para proteger e restaurar florestas podem contribuir com cerca de 20% do potencial de redução de emissões tanto em 2030 quanto em 2035.

● Eficiência energética, eletrificação e mudança de combustíveis: Esses elementos, aplicados nos setores de edifícios, transporte e indústria, também apresentam grande potencial de redução de emissões.

O relatório enfatiza a necessidade de uma mobilização global imediata e abrangente para aproveitar o potencial desses setores.

    1. Obstáculos e oportunidades para a redução de emissões de gases de efeito estufa

O relatório também aborda os desafios e oportunidades para a redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE), com foco nos setores-chave da economia.

Obstáculos:

● Lacuna entre ambição e ação: Apesar do aumento das promessas de redução de emissões, as políticas atuais não são suficientes para atingir as metas estabelecidas para 2030. A implementação de políticas mais rigorosas é crucial para alcançar as metas de redução de emissões.

● Desigualdade nas emissões: As emissões per capita e históricas variam significativamente entre os países. Os países desenvolvidos, como Estados Unidos e Rússia, têm emissões per capita muito maiores que a média global . Essa disparidade exige uma abordagem equitativa para a redução de emissões, com os países desenvolvidos assumindo responsabilidades maiores.

● Dependência de infraestrutura de carbono: A persistência de infraestruturas intensivas em carbono dificulta a transição para uma economia de baixo carbono. A descarbonização acelerada após 2030 será necessária para países que já atingiram o pico de emissões.

● Investimento insuficiente em mitigação: Atingir as metas climáticas exige um aumento significativo nos investimentos em mitigação, especialmente em países em desenvolvimento. A falta de investimento impede a implementação de tecnologias e políticas de baixo carbono.

Oportunidades:

● Avanços tecnológicos: O desenvolvimento de tecnologias de energia renovável, como solar e eólica, oferece alternativas de baixo custo aos combustíveis fósseis. O potencial de redução de emissões com base em tecnologias existentes é suficiente para preencher a lacuna de emissões em 2030 e 2035.

● Potencial de mitigação setorial: A implementação de medidas de mitigação em setores como energia, florestas, transporte e indústria tem grande potencial para reduzir as emissões de GEE. A redução do desmatamento, o reflorestamento e o aumento da eficiência energética são exemplos de medidas eficazes.

● Aumento da ambição nas NDCs: A próxima rodada de NDCs, com metas para 2035, oferece uma oportunidade para os países aumentarem sua ambição e alinharem seus compromissos com o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5°C.

● Cooperação internacional: A cooperação entre países é essencial para o compartilhamento de tecnologias, financiamento e capacitação, permitindo que os países em desenvolvimento implementem medidas de mitigação ambiciosas.

Superando os Desafios:

● Implementação de políticas ambiciosas: A adoção de políticas abrangentes que promovam a transição para uma economia de baixo carbono é crucial. Isso inclui a precificação do carbono, incentivos para energias renováveis e regulamentações para reduzir as emissões industriais.

● Aumento do financiamento climático: O investimento em mitigação e adaptação climática, especialmente em países em desenvolvimento, precisa ser significativamente ampliado. Isso pode ser alcançado por meio de fundos públicos, investimento privado e mecanismos de financiamento inovadores.

● Engajamento de múltiplas partes interessadas: O envolvimento de governos, empresas, sociedade civil e comunidades locais é fundamental para a implementação bem-sucedida de medidas de mitigação. A colaboração e o diálogo entre os stakeholders são essenciais para superar barreiras e garantir uma transição justa.

● Fortalecimento da governança climática: A governança climática eficaz, tanto em nível nacional quanto internacional, é crucial para garantir a implementação das metas climáticas. Isso inclui mecanismos de monitoramento, relatórios e verificação para garantir a transparência e a responsabilização

    1. Opções tecnológicas para redução de emissões e a importância dos investimentos

O relatório destaca diversas opções tecnológicas com potencial significativo para reduzir as emissões de gases de efeito estufa em setores-chave da economia global. O relatório enfatiza a importância crucial dos investimentos para a implementação eficaz dessas tecnologias, viabilizando a transição para uma economia de baixo carbono.

Energia Renovável:

● O relatório aponta o avanço notável das tecnologias de energia solar fotovoltaica e eólica.

● Essas tecnologias, comprovadamente eficazes e competitivas em termos de custo, representam 27% do potencial total de redução de emissões em 2030 e 38% em 2035.

● A triplicação da capacidade de energia renovável até 2030 é um objetivo crucial destacado na COP 28.

Florestas:

● O relatório destaca o papel crucial das florestas na mitigação das mudanças climáticas.

● Ações como redução do desmatamento, reflorestamento e manejo florestal aprimorado oferecem opções de baixo custo com grande potencial de redução de emissões.

● Essas medidas representam cerca de 19% e 20% do potencial total de redução de emissões em 2030 e 2035, respectivamente.

Eficiência Energética e Eletrificação:

● O relatório identifica medidas de eficiência energética, eletrificação e mudança de combustíveis como opções importantes e prontamente disponíveis em setores como construção, transporte e indústria.

● A duplicação da taxa média global anual de melhorias na eficiência energética até 2030 é outro objetivo importante estabelecido na COP 28.

Importância dos Investimentos:

● O relatório enfatiza que a realização do potencial de mitigação, mesmo que parcial, requer um aumento substancial nos investimentos.

● Para se alinhar com os cenários de 1,5°C, estima-se que seja necessário um aumento de, pelo menos, seis vezes nos investimentos em mitigação.

● É fundamental direcionar o financiamento internacional para economias emergentes e em desenvolvimento fora da China, que enfrentam necessidades urgentes de desenvolvimento.

Considerações Adicionais:

● O relatório observa que, embora um aumento significativo de investimento seja necessário, a maior parte desses investimentos já seria necessária para atender à crescente demanda por energia e outras necessidades de desenvolvimento, especialmente em economias emergentes e em desenvolvimento.

● O investimento incremental global estimado para uma transição líquida zero fica entre US$ 0,9 trilhão e US$ 2,1 trilhões por ano entre 2021 e 2050.

● O relatório argumenta que esse valor, embora substancial, é administrável no contexto mais amplo da economia global e dos mercados financeiros, que chegam a quase US$ 110 trilhões.

Em resumo, a implementação eficaz de tecnologias de baixo carbono em setores-chave exige um compromisso global com o aumento significativo dos investimentos.

Essa ação é crucial para viabilizar a transição para uma economia sustentável e de baixo carbono, mitigando os impactos das mudanças climáticas e garantindo um futuro mais seguro e resiliente para o planeta.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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