Ondas de calor extremo ameaçam população em situação de rua
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Pessoas em situação de rua. Foto: EBC/ABr
Estudo revela que o calor extremo amplifica a mortalidade entre a população em situação de rua, destacando a urgência de políticas habitacionais e de saúde pública.
As ondas de calor extremo estão se tornando cada vez mais comuns no Brasil e no mundo, e seus impactos são desproporcionais entre diferentes grupos sociais. Entre os mais vulneráveis, destaca-se a população em situação de rua, que enfrenta riscos significativos à saúde e à vida devido à exposição prolongada ao calor intenso.
Um estudo* da Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston (BUSPH) reforça essa realidade ao demonstrar que pessoas sem moradia têm taxas de mortalidade consideravelmente mais altas em climas extremos, em comparação à população geral.
O estudo, realizado em condados dos Estados Unidos como Clark (Nevada) e Los Angeles (Califórnia), revela que, entre 2015 e 2022, quase 50% das mortes relacionadas ao calor no condado de Clark ocorreram entre a população em situação de rua. Esses dados são um alerta para o Brasil, que experimenta um aumento na frequência e intensidade de ondas de calor, como as registradas em várias regiões do país nos últimos anos.
No Brasil, a população em situação de rua já enfrenta condições de vida precárias, agravadas pela falta de acesso a serviços básicos como água potável, sombra e abrigo adequado. Sem acesso a moradias estáveis, essas pessoas são forçadas a buscar refúgio em espaços públicos expostos ao sol, como ruas e praças, ou em áreas urbanas onde o calor é ainda mais intenso devido à concentração de concreto e asfalto – o fenômeno das “ilhas de calor”.
Outro ponto de preocupação é a limitação de políticas públicas de proteção para essa população. Cidades como São Paulo e Rio de Janeiro têm visto o aumento no número de pessoas vivendo nas ruas, ao mesmo tempo em que as medidas de mitigação para calor extremo, como centros de resfriamento e estações de água, são escassas ou insuficientes para a demanda.
Em um país com grandes desigualdades socioeconômicas e habitacionais, a implementação de medidas para mitigar os efeitos do calor extremo torna-se ainda mais urgente.
Pesquisadores e ativistas sociais destacam que a solução mais eficaz para proteger a população em situação de rua dos efeitos devastadores do calor seria investir em políticas de “Habitação Primeiro”, fornecendo moradias acessíveis e seguras.
No entanto, também são necessárias intervenções imediatas, como o aumento de espaços verdes e a disponibilização de abrigos emergenciais e estações de resfriamento, especialmente nas grandes metrópoles.
Com as mudanças climáticas intensificando o cenário de calor extremo e exacerbando as vulnerabilidades sociais no Brasil, garantir a segurança da população em situação de rua deve ser uma prioridade. Além de uma resposta humanitária, trata-se de uma questão de saúde pública, que requer planejamento, ações de curto e longo prazo, e vontade política.
Afinal, em um país, como o Brasil, onde as ondas de calor continuarão a ser uma ameaça constante, a falta de moradia não pode ser mais um fator de risco à vida.
Referência:
* Zihan Lin, Emma Weinberger, Amruta Nori-Sarma, Melissa Chinchilla, Gregory A Wellenius, Jonathan Jay, Daily heat and mortality among people experiencing homelessness in 2 urban US counties, 2015-2022, American Journal of Epidemiology, 2024;, kwae084, https://doi.org/10.1093/aje/kwae084
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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