Envelhecimento e decrescimento populacional com prosperidade na Polônia
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“Crescimento pelo crescimento é a ideologia da célula cancerosa”
Edward Abbey (1927-1989)
Descubra como a Polônia prospera com decrescimento demográfico e envelhecimento populacional, enquanto o Brasil enfrenta desafios semelhantes.
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
A Polônia tem uma história de idas e vindas, pois teve o seu território dividido entre o Reino da Prússia, o Império Russo e a Áustria no século XIX e só recuperou sua independência no final da Primeira Guerra Mundial, em 1918. Porém, duas décadas depois, foi palco de invasão da Alemanha e da União Soviética. Em 1944, a República Popular da Polônia foi proclamada e, em 1947, se tornou aliada da União Soviética. Durante as Revoluções de 1989, o governo comunista polonês foi derrubado e a Polônia adotou uma nova constituição, que estabeleceu o país como uma democracia, renomeada Terceira República Polonesa.
A população da Polônia era de 35,6 milhões de habitantes em 1980, chegou ao pico populacional de 38,7 milhões de habitantes em 1999, caiu para 36,7 milhões em 2024 e deve diminuir para 36,4 milhões de habitantes em 2029, como mostra o gráfico abaixo, com dados do relatório WEO do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Em termos econômicos, o FMI indica que a renda per capita, em preços constantes, em poder de paridade de compra (ppp), era de US$ 12,3 mil em 1980, caiu para US$ 10,5 mil em 1991 (abaixo da renda per capita brasileira), recuperou para US$ 15,5 mil em 1999, chegou a US$ 39,2 mil em 2024 e deve atingir US$ 46,2 mil em 2029.
Ou seja, o crescimento acelerado da renda per capita ocorreu após o início do decrescimento populacional. O envelhecimento populacional não impediu que a Polônia entrasse no clube dos países de alta renda e muito alto IDH.
A Polônia tinha um IDH de 0,715 em 1990, passou para 0,794 no ano 2000, passou para 0,869 em 2015 e chegou a 0,881 em 2022, ocupando o 36º lugar no ranking global dos países (o Brasil estava em 89º lugar em 2022). Portanto, a desaceleração do crescimento da população não impediu o avanço do IDH.
O gráfico abaixo, também com dados do FMI, indica que a renda per capita, em preços constantes, em poder de paridade de compra (ppp), estava em torno de US$ 10 mil na década de 1980, tanto no Brasil quanto na Polônia. Mas a partir da década de 1990, a renda per capita da Polônia avançou em ritmo acelerado, enquanto a renda per capita do Brasil apresentou lento crescimento. Em 2024, o FMI estima uma renda per capita de US$ 16,6 mil no Brasil e de US$ 39,2 mil na Polônia. Para 2029, os números são US$ 17,9 mil US$ 46,2 mil, com a renda per capita da Polônia sendo 2,6 vezes maior do que a brasileira.
No pensamento convencional, o envelhecimento populacional da Polônia, conjugado com o decrescimento demográfico, levaria necessariamente à “armadilha fiscal geriátrica” e seria o fim da linha para o desenvolvimento humano do país. Contudo, o exemplo da Polônia mostra que pode haver envelhecimento e decrescimento da população com prosperidade social e ambiental.
Em termos ambientais, a rede Global Footprint Network apresenta duas medidas úteis para se avaliar o impacto humano sobre o meio ambiente e a disponibilidade de “capital natural”. A Pegada Ecológica é utilizada para avaliar o impacto que o ser humano exerce sobre a biosfera e a Biocapacidade busca avaliar o montante de terra e água, biologicamente produtivo, capaz de prover bens e serviços do ecossistema à demanda humana por consumo, sendo equivalente à capacidade regenerativa da natureza.
O gráfico abaixo, apresenta os dados da Pegada Ecológica e da Biocapacidade da Polônia, de 1961 a 2019, com projeções até 2022. Nota-se que a Biocapacidade da Polônia cresceu de 62 milhões de hectares globais (gha) em 1961 para 80 milhões de gha em 2022. A Pegada Ecológica passou de 122 milhões de gha em 1961 para 225 milhões de gha em 1988. Porém, a Pegada Ecológica caiu nas décadas seguintes. Portanto, o déficit ambiental da Polônia caiu, mesmo com o aumento da renda per capita.
Portanto, o chamado “inverno demográfico” da Polônia tem se transformado em primavera social e ambiental. O decrescimento populacional, em vez de ser um problema, tem se transformado em solução. Os idosos que eram vistos como um passivo que representa gastos de uma população improdutiva, se transformaram em um ativo para a melhoria da qualidade de vida.
O artigo “Don’t fear the boomers! How Poland is celebrating its old people – and making life better for every age”, publicado no jornal britânico The Guardian (Oltermann 18/09/2024), mostra que enquanto o resto da Europa se preocupa com a onda do envelhecimento, algumas cidades polonesas estão tratando suas populações envelhecidas como uma oportunidade e não como um fardo, com resultados notáveis. A maioria dos idosos está fazendo uma contribuição incrível para a sociedade. Os planejadores urbanos dizem que a mudança demográfica pode tornar as cidades melhores para todos.
Indubitavelmente, a Polônia está buscando se adaptar à nova realidade da mudança da estrutura etária e está tentando aproveitar as oportunidades da economia prateada (“Silver economy”), que se refere ao conjunto de atividades econômicas que abarcam as contribuições, as necessidades e as demandas da população idosa, especialmente de 50 anos e mais de idade.
O fato é que a Polônia enriqueceu concomitantemente ao envelhecimento populacional e pode servir de exemplo para o Brasil que ainda é um país de renda média.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. Decrescimento demoeconômico com elevação da prosperidade social e ambiental, Ecodebate, 20/01/2023 https://www.ecodebate.com.br/2023/01/20/decrescimento-demoeconomico-com-elevacao-da-prosperidade-social-e-ambiental/
Philip Oltermann. Don’t fear the boomers! How Poland is celebrating its old people – and making life better for every age, The Guardian, 18/09/2024
https://www.theguardian.com/lifeandstyle/2024/sep/18/dont-fear-the-boomers-how-poland-is-celebrating-its-old-people-and-making-life-better-for-every-age?utm_source=whatsappchannel
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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Se me permite fiz algumas correções no primeiro parágrafo do autor, que decididamente não conhece a história da Polônia e deve ter se orientado não por textos escritos no idioma polaco, mas pelas péssimas traduções feitas por tradutores ingleses. (não entenda como ofensa):
“A Polônia tem uma história de idas e vindas (não colocaria assim, mas de invasões e recuperações de seus territórios e soberania), pois teve o seu território dividido entre o Reino da Prússia (depois República da Alemanha), o Reino da Rússia e o Império Habsburgo da Áustria desde 1795 e só recuperou sua independência no final da Primeira Guerra Mundial, em 1918. Porém, duas décadas depois, foi palco de invasão da Alemanha e da União Soviética. Em 19 de fevereiro de 1947, a República Popular da Polônia (foi proclamada) e, em lhe foi imposta em acordo de Józef Stalin com Estados Unidos e Grã-Bretanha ser membro satélite da União Soviética. Durante as manifestações de 1989, o governo socialista polaco foi derrubado e a Polônia adotou uma nova constituição, que estabeleceu o país como um país capitalista, renomeada Terceira República Polaca. Sim, porque a primeira foi estabelecida em 1569, na cidade de Lublin, sendo a Polônia, a primeira república pós idade média, e duzentos anos antes da República da Filadelfia de 1776 e da República da França de 1796 (respectivamente a segunda e a terceira no mundo).”
A “chamada” é muito interessante, isso nos aguça a curiosidade e por consequencia a curiosidade em saber os motivos da prosperidade, no entanto, o questionamento que fica é.
Aonde estão elencados as causas da prosperidade? Em fim, o transcorrer do texto deve ser coerente com a “chamada”.