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Artigo

O crescimento da população de 50 anos e mais de idade e a economia prateada

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Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

O Brasil sempre foi um país de jovens nos primeiros 500 anos de sua história. Mas haverá uma mudança radical da estrutura etária da população no século XXI. No ano 2000, 85% da população tinha entre 0-49 anos e apenas 15% tinham 50 anos e mais de idade. Em 2075 haverá praticamente um empate. Mas nas duas últimas décadas do atual século a população prateada (50+) concentrará a maioria dos habitantes brasileiros, conforme mostra o gráfico abaixo, com dados da Divisão de População da ONU (revisão 2024).

população brasileira de 0 a 49 anos e 50 anos e mais

Entre as mulheres, a população de 50 anos e + chegará a 53,3% em 2100, pois uma das características do envelhecimento populacional brasileiro é a presença de maior número de mulheres. Portanto, o sexo feminino terá papel central na economia prateada.

O envelhecimento populacional leva ao surgimento da economia prateada (Silver Economy), que é o conjunto de atividades econômicas relacionadas ao consumo, à produção e à prestação de serviços voltados para o público idoso, que é cada vez mais numeroso devido à mudança da estrutura etária.

O termo “prateada” faz referência aos cabelos grisalhos, um símbolo do envelhecimento. Essa economia abrange setores como saúde, habitação, turismo, lazer, tecnologia, transporte, entre outros, todos adaptados para atender às necessidades e preferências da terceira idade.

Desafios da economia prateada:

  1. Sustentabilidade dos sistemas previdenciários e de saúde: Com o aumento da longevidade e o envelhecimento da população, os sistemas de seguridade social e saúde estão sob pressão, exigindo reformas para garantir a sustentabilidade a longo prazo.

  2. Adaptação da infraestrutura urbana e de moradia: As cidades e os ambientes residenciais precisam ser ajustados para garantir acessibilidade e conforto para os idosos, o que demanda investimentos em mobilidade, segurança e serviços especializados.

  3. Capacitação da força de trabalho: Os profissionais que lidam com o público idoso, especialmente em setores como saúde e serviços, precisam de formação específica para atender adequadamente às suas necessidades.

  4. Inclusão digital: Grande parte dos idosos ainda enfrenta dificuldades em acessar e utilizar tecnologias, o que pode limitar seu acesso a serviços digitais e, consequentemente, sua participação na economia prateada.

Oportunidades da economia prateada:

  1. Novos mercados de consumo: Com o aumento da população idosa, há uma demanda crescente por produtos e serviços personalizados, como tecnologia assistiva, cuidados domiciliares e entretenimento. Isso cria oportunidades para inovações e negócios voltados a esse público.

  2. Tecnologia assistiva e saúde digital: O desenvolvimento de dispositivos e plataformas digitais para monitoramento da saúde, telemedicina e assistência remota são áreas em expansão, facilitando o cuidado dos idosos e melhorando sua qualidade de vida.

  3. Turismo e lazer especializado: Há uma crescente demanda por experiências de viagem e atividades de lazer adaptadas para idosos, com foco em acessibilidade, conforto e cuidados personalizados.

  4. Envelhecimento ativo: Muitos idosos estão buscando permanecer ativos, seja no mercado de trabalho ou em atividades de voluntariado e aprendizado contínuo. Isso cria oportunidades para serviços e programas voltados para a capacitação, o empreendedorismo e o bem-estar.

Um aspecto essencial é o combate ao etarismo e a implementação da diversidade etária nas empresas e no setor público, o que implica na coexistência de diferentes gerações no ambiente de trabalho, abrangendo desde jovens profissionais até colaboradores mais experientes e idosos. Essa diversidade geracional, juntamente com a equidade de gênero, traz uma combinação rica de perspectivas, conhecimentos e habilidades, contribuindo para um ambiente mais inovador e dinâmico.

São muitos os benefícios da diversidade etária nas empresas: a) troca de experiência e inovação – gerações mais jovens costumam trazer um conhecimento atualizado sobre tecnologia, tendências digitais e novas abordagens de trabalho; b) gerações mais experientes, por sua vez, oferecem uma vasta experiência, habilidades interpessoais desenvolvidas e conhecimento profundo da cultura organizacional e do setor e c) a integração dessas perspectivas pode levar a soluções inovadoras e mais eficazes.

Estratégias para promover a diversidade etária:

  1. Políticas de Inclusão

    • Implementar políticas que incentivem a contratação de pessoas de todas as idades e que promovam a igualdade de oportunidades para todos.

    • Oferecer flexibilidade de trabalho para acomodar diferentes necessidades, como horários flexíveis para cuidadores ou jornadas reduzidas para profissionais mais velhos.

  2. Mentoria e Treinamento

    • Criar programas de mentoria intergeracional, incentivando o compartilhamento de conhecimentos e experiências entre diferentes faixas etárias.

    • Oferecer treinamentos focados em novas tecnologias e habilidades de liderança para diferentes gerações.

  3. Valorização do Trabalho

    • Reconhecer e valorizar as contribuições únicas que cada geração traz para a empresa, criando uma cultura de reconhecimento mútuo.

    • Incentivar o desenvolvimento contínuo para todos os colaboradores, independentemente da idade, garantindo que todos sintam-se motivados e atualizados.

A diversidade etária, quando bem gerida, fortalece as empresas e o setor público, proporcionando um ambiente de trabalho mais inclusivo e colaborativo, onde a troca de experiências e o aprendizado mútuo são constantes.

A economia prateada, portanto, oferece um vasto campo de desenvolvimento econômico, mas também exige uma transformação nas políticas públicas, na adaptação cultural da sociedade civil, na criação de infraestrutura adequada e na abordagem das empresas para atender pertinentemente a força de trabalho prateada e ao público em geral.

Sobre o processo de envelhecimento no Brasil, veja o capítulo 3 do livro:

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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