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Novo estudo alerta sobre limites seguros para vida na Terra

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Novo estudo alerta sobre limites seguros pra vida na Terra e caminhos para compartilhamento dos recursos naturais

Por Pamela Gouveia, Instituto ClimaInfo

 

Síntese do Estudo

O estudo, publicado na The Lancet Planetary Health, oferece um guia baseado em evidências para ações a serem tomadas por cidades, empresas e formuladores de políticas. A publicação traz também um recorte de dados dos países mais críticos e o Brasil está entre eles – aproximadamente 79 milhões de brasileiros estão expostas a níveis inseguros de poluição do ar por material particulado (PM2,5).

A pesquisa tem mais de 60 autores e se baseia nos Limites do Sistema Terrestre Seguro e Justo publicados na *Nature*, no ano passado. que afirma que a maioria dos limites vitais dentro dos quais as pessoas e o planeta podem prosperar foram ultrapassados.

Sobre o Brasil, o estudo identifica as seguintes áreas críticas:

  • Biodiversidade: 21 milhões de brasileiros enfrentam redução nos serviços ecossistêmicos essenciais, como polinização e controle de pragas.
  • Clima: Com um aumento de 2°C até 2100, 15 milhões estariam vulneráveis ao aumento do nível do mar; 500.000 pessoas estariam expostas a temperaturas extremas com um aumento de 1,5°C.
  • Nutrientes: 126 milhões de brasileiros convivem com excesso de nitrogênio e 143 milhões, excesso de fósforo, afetando a qualidade da água e a saúde.
  • Poluição do Ar: 79 milhões vivem em áreas com poluição por material particulado (PM2.5) acima dos níveis seguros.
  • Água: 39 milhões enfrentam problemas com água superficial e 199 milhões com água subterrânea, devido à gestão inadequada dos recursos hídricos.

Detalhes do Estudo

Novo estudo alerta sobre limites seguros pra vida na Terra e caminhos para compartilhamento dos recursos naturais

Projeções até 2050 mostram que o “Espaço Seguro e Justo” continua encolhendo. Recorte por países mostra Brasil como um dos mais afetados pelo aumento do nível do mar e por temperaturas extremas

Uma nova pesquisa detalhada, publicada na The Lancet Planetary Health, revela que o planeta só conseguirá garantir um padrão básico de vida para todos no futuro se houver uma transformação radical nos sistemas econômicos e tecnológicos, além de uma gestão mais justa e equitativa dos recursos críticos. O estudo destaca que a capacidade da Terra de sustentar a vida está sendo severamente sobrecarregada.

A pesquisa alerta que o “Espaço Seguro e Justo” — um conceito essencial que define as condições em que todos podem acessar recursos básicos enquanto o meio ambiente é preservado — está rapidamente encolhendo, impulsionado pela crescente desigualdade.

O estudo, coautorado por mais de sessenta cientistas da Earth Commission, uma comissão científica internacional coordenada pelo Future Earth e pela Global Commons Alliance. O relatório é liderado pelos professores Joyeeta Gupta, Xuemei Bai e Diana Liverman. Eles fundamentam suas conclusões nos Limites do Sistema Terrestre Seguro e Justo, publicados na Nature no ano passado, que revelaram que muitos dos limites essenciais para a saúde planetária já foram ultrapassados.

“O estudo mostra que a justiça é um pré-requisito para a segurança do planeta e das pessoas. Ele analisa o risco de um maior declínio do sistema terrestre, os danos que as comunidades estão enfrentando como resultado, mas também busca identificar como os recursos precisam ser distribuídos de forma justa”, explica Johan Rockström, co-presidente da Earth Commission.

O Encolhimento do “Espaço Seguro e Justo”

O relatório destaca o “Espaço Seguro e Justo” como a área onde danos tanto a humanos quanto ao meio ambiente podem ser minimizados e todos podem ser adequadamente atendidos. Essa é a primeira vez que os pesquisadores quantificam a necessidade de um planeta estável e uma distribuição justa dos recursos nas mesmas unidades, demonstrando que justiça é um pré-requisito para a segurança planetária e humana.
“Pela primeira vez, os cientistas quantificaram segurança e justiça usando as mesmas unidades para determinar o caminho a seguir para um futuro estável e resiliente no qual todos possamos prosperar. Comunidades, pobres e ricas, em todo o mundo já são vulneráveis e se tornarão mais expostas – mas temos uma janela para agir agora e mudar o curso”, alerta Rockström.

Os Limites do Sistema Terrestre, publicados no ano passado, podem ser vistos como o “teto” para a extração de recursos naturais e poluição pelos seres humanos. Dentro desses limites, os sistemas da Terra podem se manter estáveis e resilientes, garantindo a segurança das pessoas contra danos.

Agora, os cientistas adicionaram uma nova “fundação” ao mostrar que a população global depende desse sistema terrestre para viver uma vida livre da pobreza. Pela primeira vez, os cientistas quantificaram segurança (um planeta estável) e justiça (proteção das pessoas contra danos) nas mesmas unidades, demonstrando que a justiça é um pré-requisito indispensável para a segurança tanto do planeta quanto da humanidade.

Projeções até 2050 mostram que o Espaço Seguro e Justo continuará encolhendo a menos que transformações urgentes sejam feitas. No cenário atual, sem mudanças significativas, o relatório aponta que até 2050 o planeta não terá mais espaço seguro e justo. Isso significa que mesmo que todos no planeta tivessem apenas o necessário para um padrão básico de vida, ainda enfrentaríamos problemas climáticos graves.

Neste novo trabalho, os pesquisadores fizeram projeções para 2050 e descobriram que o “Espaço Seguro e Justo” encolherá com o tempo, a menos que transformações urgentes sejam realizadas. No que diz respeito ao clima, especificamente, eles descobriram que, se mudanças significativas não forem feitas agora, até 2050 não haverá mais Espaço Seguro e Justo. Isso significa que, mesmo que todos no planeta tenham acesso apenas aos recursos necessários para um padrão básico de vida em 2050, a Terra ainda estará fora do limite climático. Os sistemas da Terra enfrentam o risco de cruzar pontos de inflexão perigosos, o que causaria danos ainda mais significativos às pessoas ao redor do mundo – a menos que os sistemas de energia, alimentos e urbanos sejam urgentemente transformados.

Eles também descobriram que as desigualdades e o consumo excessivo de recursos finitos por uma minoria são os principais impulsionadores desse encolhimento. Fornecer recursos mínimos para aqueles que atualmente não têm o suficiente adicionaria muito menos pressão ao sistema terrestre do que a atualmente causada pela minoria que usa recursos muito maiores.

A pesquisa também analisou onde no planeta os limites Seguro e Justo foram ultrapassados, e sobrepôs isso com pessoas que vivem na pobreza e estão expostas a danos causados por mudanças climáticas, perda de biodiversidade, poluição e escassez de água. Os resultados mostram que as comunidades já vulneráveis são frequentemente as mais afetadas pela mudança no sistema terrestre que impacta a saúde das pessoas e dos ecossistemas – mas todos, incluindo os ricos, estão em risco. Dentre os países está o Brasil.

Impactos Específicos no Brasil

O estudo destaca diversas áreas críticas no Brasil:

Biodiversidade: Cerca de 21 milhões de brasileiros vivem em regiões com capacidade reduzida de fornecer serviços ecossistêmicos vitais, devido a práticas que ultrapassam os limites seguros para a integridade da biosfera. Serviços como polinização, controle de pragas e regulação da qualidade da água estão comprometidos, impactando diretamente a qualidade de vida.
Clima: O Brasil é um dos países mais afetados pelo aumento do nível do mar e por temperaturas extremas. Com um objetivo de estabilização de temperatura de 2°C até 2100, cerca de 15 milhões de brasileiros estariam expostos ao aumento do nível do mar. Com um aquecimento de 1,5°C, aproximadamente 500.000 pessoas estariam expostas a temperaturas médias anuais além dos limites históricos seguros.

Nutrientes: Aproximadamente 126 milhões de brasileiros convivem níveis inseguros de excesso de nitrogênio, e 143 milhões, excesso de fósforo. Esses nutrientes em excesso causam problemas graves, como a eutrofização de corpos d’água e a poluição da água potável, afetando a saúde e os ecossistemas.

Poluição do Ar: Cerca de 79 milhões de brasileiros vivem em áreas com níveis inseguros de poluição por material particulado (PM2.5), o que representa um dos maiores riscos para a saúde pública e afeta a qualidade do solo, da água e o clima.
Água: No Brasil, aproximadamente 39 milhões de pessoas enfrentam condições fora dos limites seguros para água superficial, e 199 milhões para água subterrânea. A gestão inadequada dos recursos hídricos compromete a disponibilidade de água para consumo e a saúde dos ecossistemas aquáticos.

Transformações Urgentes Necessárias

Para que o Brasil e o mundo alcancem e mantenham o Espaço Seguro e Justo, o relatório propõe mudanças em três áreas cruciais:

  • Esforço Coordenado: um esforço bem coordenado e intencional entre formuladores de políticas, empresas, sociedade civil e comunidades pode promover mudanças na forma como gerenciamos a economia e encontrar novas políticas e mecanismos de financiamento que abordem a desigualdade, ao mesmo tempo em que reduzem a pressão sobre a natureza e o clima.
  • Gestão Eficiente de Recursos: é fundamental para a transformação uma gestão, compartilhamento e uso mais eficiente e eficaz dos recursos em todos os níveis da sociedade — incluindo o enfrentamento do consumo excessivo por algumas comunidades, que limita o acesso aos recursos básicos para aqueles que mais precisam.
  • Investimento em Tecnologias Sustentáveis: o investimento em tecnologias sustentáveis e acessíveis é essencial para nos ajudar a utilizar menos recursos e reabrir o Espaço Seguro e Justo para todos — particularmente onde há pouco ou nenhum espaço restante.

Notas:

Medição de “Acesso Mínimo”

Baseado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os pesquisadores definiram dois níveis de acesso mínimo a recursos-chave, incluindo alimento, água, energia, abrigo básico e transporte.

  • O Nível 1 proporciona dignidade básica, um padrão baixo, mas ligeiramente superior à linha internacional de pobreza.
  • O Nível 2 é um pouco mais alto e fornece padrões básicos de vida. Esta é a base do Espaço Seguro e Justo e inclui:

– uma dieta saudável (EAT-Lancet) de 2500 cal/dia

– 100 L de água/pessoa/dia para beber, cozinhar e higiene

– eletricidade por 16 h/dia, incluindo um aparelho de alta potência, como uma máquina de lavar (0,7 kWh/capita/dia)

– habitação: área útil de 15m²

– transporte: até 4500 km de passageiro por ano

Limites do sistema terrestre seguro e justo

  • Lançados pela primeira vez em 2023, os Limites do Sistema Terrestre Seguro e Justo estão se tornando rapidamente a base científica da próxima geração de metas e práticas de sustentabilidade.
  • Já orientando iniciativas como a Science Based Targets Network, que produz metas baseadas em ciência para a Natureza, eles estão guiando líderes de cidades e empresas e formuladores de políticas para acessar as oportunidades oferecidas pelo Espaço Seguro e Justo, gerenciando melhor os recursos finitos do planeta.
  • No primeiro artigo, publicado na Nature, a Comissão mostrou que a saúde e o sucesso das pessoas, sociedades e empresas são inseparáveis da saúde e estabilidade do planeta.
  • Os Limites do Sistema Terrestre focam na descrição quantitativa e qualitativa dos limites além dos quais os sistemas socioecológicos podem colapsar e os humanos podem ser prejudicados. Eles vão além dos limites planetários, combinando elementos dos níveis local a global e domínios do conhecimento biológico e social. Os Limites do Sistema Terrestre são projetados para serem escalonados para ação.
  • Existem limites para o clima, água doce (superficial e subterrânea), fertilizantes (nitrogênio e fósforo), biodiversidade (terras manejadas e natureza intacta) e poluentes atmosféricos, que são os sistemas mais importantes e interconectados e recursos críticos dos quais dependem nossa estabilidade e a do planeta.
  • Os Limites integram dois elementos:

– Limites seguros – dentro dos quais o planeta permanecerá estável e que sabemos que pode sustentar o desenvolvimento humano.

– Limites justos – dentro dos quais o planeta pode sustentar a vida, ou seja, todas as pessoas podem acessar recursos básicos e ser protegidas de danos planetários.

Exemplos de comunidades vulneráveis afetadas pela mudança do sistema terrestre

O artigo identifica as localidades ao redor do mundo onde os Limites Seguro e Justo foram ultrapassados e sobrepõe isso com a vulnerabilidade das pessoas expostas a danos causados por mudanças climáticas, perda de biodiversidade, poluição e escassez de água.

Os resultados mostram que os mais pobres já são os mais vulneráveis ao impacto da mudança no sistema terrestre, mas todos ao redor do mundo estão em risco de se tornar mais vulneráveis e expostos. Por exemplo:

– Na Índia, aproximadamente 1 bilhão de pessoas vivem em terras com capacidade reduzida para fornecer serviços ecossistêmicos que contribuem para o bem-estar humano.

– Com um alvo de estabilização da temperatura de 2°C em 2100, a população de Bangladesh estará entre as mais afetadas pelo aumento do nível do mar, com aproximadamente 30 milhões de pessoas expostas.

– Na Indonésia, cerca de 194 e 140 milhões de pessoas estão expostas a níveis inseguros de excesso de nitrogênio e fósforo, respectivamente.

– No Brasil, aproximadamente 79 milhões de pessoas estão expostas a níveis inseguros e injustos de poluição do ar devido a partículas finas (PM2,5).

– A alteração induzida pelo homem nos fluxos de água azul, que inclui tanto água superficial quanto subterrânea, levou a consequências inseguras e prejudiciais para o meio ambiente e as populações. A Índia é o país mais afetado pela escassez de água. Outros países também estão afetados, como a Alemanha, com uma estimativa de 13 e 76 milhões de pessoas expostas a condições fora dos Limites Seguro e Justo do Sistema Terrestre para água superficial e subterrânea.

Novo estudo alerta sobre limites seguros para vida na Terra

 

Organizações Associadas

Esta ciência foi produzida pela Earth Commission, uma equipe internacional de cientistas sociais e naturais que envolve mais de 60 especialistas, coordenada por um secretariado científico hospedado pelo Future Earth – a maior rede mundial de cientistas de sustentabilidade. A Earth Commission é atualmente presidida pela Prof. Fatima Denton e pelo Prof. Johan Rockström e é o pilar científico da Global Commons Alliance.
A Global Commons Alliance é uma coalizão crescente de cientistas, filantropos, empresas e inovadores, inspirando novas ideias e ações para proteger o que é comum e precioso para todos nós: os bens comuns globais. Nossa missão é mobilizar cidadãos, empresas, cidades e países para acelerar a mudança dos sistemas e tornar-se melhores guardiões dos bens comuns globais. A GCA atualmente conta com mais de 70 parceiros, incluindo o World Business Council for Sustainable Development, The Nature Conservancy, Capitals Coalition, e possui cinco componentes principais:

– Earth Commission

– Science Based Targets Network

– Earth HQ

– Systems Change Lab

– Accountability Accelerator

 

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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