A Memética rumo ao poder
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O impacto de Pablo Marçal nas eleições e a nova era da memética política em São Paulo, onde a fama supera o debate de propostas
Artigo de Montserrat Martins
Eleições significam polêmicas em qualquer lugar, em Taquari, em Porto Alegre ou nos Estados Unidos. Mas nada se compara a São Paulo, onde os analistas políticos não sabem como entender o fenômeno Pablo Marçal, que está liderando as pesquisas com uma estratégia de amplo domínio na internet.
Não é diferente por ser de direita ou de esquerda, nem mesmo por sua agressividade sem precedentes, a diferença é ignorar o modo habitual de se comunicar: não responde às perguntas sobre programa de governo e diz que responderá nas suas redes sociais. Uma suspensão de suas páginas só serviu de propaganda, pois ele mesmo conta que tem 4 mil funcionários na internet, talvez sejam até mais, cada um por sua vez fabrica centenas de páginas nas redes sociais que divulgam os “cortes” do candidato, as cenas editadas.
Memética é isso, uma linguagem extremamente resumida, feita de chavões, como os “cortes” de imagens editados pela equipe desse coach.
É uma ciência, na verdade, que se baseia em características do cérebro humano, de reter melhor as informações mais simples e mais contundentes, emocionalmente. Informações neutras, intelectuais, não repercutem, mas sim as que causam raiva, medo, paixão ou vontade de rir, o humor é uma necessidade humana.
A melhor explicação para esse fenômeno é que, no século 21, na sociedade de massas, mudamos do antigo “padrão ouro” de valor para o “padrão Coca Cola”. No padrão antigo, o prestígio estava em algo de valor intrínseco (as propriedades do ouro, que o diferenciam dos outros metais) e sua raridade (pessoas com virtudes raras, por exemplo) é o que conferia prestígio e preço.
No novo padrão, na sociedade atual, é irrelevante o valor intrínseco (a Coca Cola não é uma bebida saudável) e, ao contrário de ser raro, é justamente o fato de ser difundido ao máximo que confere prestígio e valorização, não importa de que forma a pessoa fique famosa.
Essa mudança de padrões sociais é uma realidade que você pode constatar facilmente, não depende de você achar bom ou ruim, não se trata de fazer juízo de valor, é uma realidade que está em todos os lugares, em todas as profissões, e agora chegou definitivamente ao centro do poder, à política.
Se na maioria das cidades ainda existem debates de propostas, de programas de governo, embora com muitas acusações, a tendência é que cada vez mais lugares se pareçam com a disputa de 2024 em São Paulo, onde só se discutem frases de efeito com forte impacto emocional.
A diferença não está na agressividade nem no passado policial do coach, está no uso da Memética, rumo ao poder.
Montserrat Martins é Psiquiatra.
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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