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Artigo

A dinâmica demográfica da África de 1950 a 2100

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Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

A Divisão de População da ONU divulgou, no Dia Mundial de População, 11 de julho de 2024, as novas projeções demográficas para todos os países e regiões do mundo, já incorporando os efeitos da pandemia da covid-19 sobre a dinâmica populacional. Os novos números são fundamentais para se conhecer os cenários demográficos globais.

A população do planeta (em 1º de julho) era de 2,49 bilhões de habitantes em 1950, passou para 6,2 bilhões no ano 2000, deve atingir o pico populacional em 2084, com 10,3 bilhões de habitantes e diminuir ligeiramente para 10,2 bilhões de habitantes em 2100. A população global deve mais que quadruplicar em 150 anos. Mas todo este crescimento se deu de forma diferenciada.

A África é o continente com maior crescimento demográfico do mundo, tinha 228 milhões de habitantes em 1950, passou para 830 milhões no ano 2000, alcançou 1,38 bilhão em 2020 e deve chegar a 3,8 bilhões de habitantes em 2100, conforme mostra o gráfico abaixo.

população total da África

 

A despeito do alto crescimento populacional, a África já vive o começo da mudança da estrutura etária. O gráfico abaixo mostra que o percentual de crianças e adolescentes (0-14 anos) chegou a 45% em 1980 e passou a diminuir nas décadas seguintes, estando abaixo de 40% atualmente e deve alcançar em torno de 20% no final do século.

percentagem da população com menos de 15 anos na África

 

A percentagem de pessoas em idade economicamente ativa (15-59 anos) estava em torno de 50% em 1980 (quando a percentagem de jovens era alta) e está subindo e deve atingir o máximo na década de 2060. Isto quer dizer que a África tem um longo período de uma estrutura etária favorável ao desenvolvimento econômico. Ou seja, a África ainda pode capitalizar os benefícios do 1º bônus demográfico, pois deve haver expansão da força de trabalho africana nas próximas 4 décadas. Para tanto é preciso aumentar as taxas de investimento para possibilitar a geração de emprego e renda, com redução da pobreza e da fome.

percentagem da população de 15 a 59 anos da África

 

A percentagem de idosos de 60 anos e mais de idade na África era muito baixa na segunda metade do século passado e começou a subir na atual década, mas deve atingir 20% em 2100. Portanto, o envelhecimento populacional na África será tardio e não terá o peso que tem nos demais continentes.

Existe uma janela de oportunidade para a África com o aproveitamento conjunto do 1º bônus demográfico e do 2º bônus demográfico (bônus da produtividade). Se forem adotadas as medidas corretas, a África poderá superar a armadilha da pobreza e avançar para obter maiores índices de bem-estar social.

percentagem da população com mais de 60 anos de idade na África

 

A Global Footprint Network apresenta uma metodologia que viabiliza o cálculo da capacidade de carga, contabilizando o impacto humano sobre o meio ambiente e a disponibilidade de “capital natural” do mundo.

O gráfico abaixo apresenta os valores da pegada ecológica global e da biocapacidade global de 1961 a 2019, com uma estimativa até 2022. A pegada ecológica serve para avaliar o impacto do ser humano sobre a biosfera. A biocapacidade, avalia o montante de terra, água e demais recursos biologicamente produtivos para prover bens e serviços do ecossistema, sendo equivalente à capacidade regenerativa da natureza. Ambas as medidas são representadas em hectares globais (gha).

Em 1961, a população africana era de 290 milhões de habitantes e tinha uma biocapacidade de 860 milhões de gha e uma pegada ecológica de 299 milhões de gha. Portanto, havia um superávit ambiental significativo na África.

Em 2022, a população africana passou para 1,45 bilhão de habitantes, a pegada ecológica passou para 1,35 bilhão de gha, com uma biocapacidade de 1,2 bilhão de gha. Isto significa que o déficit ambiental foi de 150 milhões de gha ou um déficit relativo de 13%.

pegada ecológica e biocapacidade da África

 

O alto crescimento demográfico da África teve impacto ambiental e o continente passou a ter um déficit ecológico, apesar de ter a renda per capita mais baixa entre todos os continentes.

Para resolver os problemas sociais e ambientais a África precisa avançar em duas áreas: na transição demográfica e na transição energética.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

ALVES, JED. A ONU divulga os novos números da população mundial e brasileira, Ecodebate, 12/07/2024 https://www.ecodebate.com.br/2024/07/12/a-onu-divulga-os-novos-numeros-da-populacao-mundial-e-brasileira/

ALVES, JED. China busca a sustentabilidade com menos habitantes e mais energia renovável, Ecodebate, 15/07/2024 https://www.ecodebate.com.br/2024/07/15/china-busca-a-sustentabilidade-com-menos-habitantes-e-mais-energia-renovavel/

ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI (com a colaboração de GALIZA, F), ENS, maio de 2022
https://prdapi.ens.edu.br/media/downloads/Livro_Demografia_e_Economia_digital_2.pdf

 

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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