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Artigo

A dinâmica demográfica da Ásia de 1950 a 2100

 

Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

A Divisão de População da ONU divulgou, no Dia Mundial de População, 11 de julho de 2024, as novas projeções demográficas para todos os países e regiões do mundo, já incorporando os efeitos da pandemia da covid-19 sobre a dinâmica populacional. Os novos números são fundamentais para se conhecer os cenários demográficos globais.

A população do planeta (em 1º de julho) era de 2,49 bilhões de habitantes em 1950, passou para 6,2 bilhões no ano 2000, deve atingir o pico populacional em 2084, com 10,3 bilhões de habitantes e diminuir ligeiramente para 10,2 bilhões de habitantes em 2100. A população global deve mais que quadruplicar em 150 anos. Mas todo este crescimento se deu de forma diferenciada.

A Ásia é o continente mais populoso do mundo e com o maior território. O gráfico abaixo mostra que a população asiática era de 1,37 bilhão de habitantes em 1950, passou para 3,75 bilhões no ano 2000, deve atingir o pico populacional em 2054, com 5,29 bilhões e decrescer para 4,6 bilhões de habitantes em 2100.

população da Ásia

 

A desaceleração do crescimento populacional é acompanhado pela mudança da estrutura etária. O gráfico abaixo mostra que o percentual de crianças e adolescentes (0-14 anos) estava acima de 40% na década de 1960, caiu para pouco mais de 20% na atual década e deve ficar em torno de 15% no final do século.

percentagem da população da Ásia com menos de 15 anos de idade

 

A percentagem de pessoas em idade economicamente ativa (15-59 anos) estava abaixo de 54% nas décadas de 1960 e 1970 (quando a percentagem de jovens era alta) e subiu para o máximo de 64% em 2010. Isto quer dizer que a Ásia chegou ao melhor momento do 1º bônus demográfico nas primeiras 3 décadas do século XXI, com quase dois terços da população total em idade de trabalhar. A partir de 2020 a percentagem de pessoas de 15-59 anos cairá e deve ficar perto de 50% em 2100. Ou seja, deve haver um encolhimento da força de trabalho asiática nas próximas 7 décadas.

percentagem da população da Ásia de 15 a 59 anos de idade

 

Enquanto caem as percentagens de jovens e adultos em idade de trabalhar, a percentagem de idosos de 60 anos e mais de idade deve subir rapidamente no restante do atual século. A percentagem de idosos da Ásia estava em torno de 6% em meados do século passado, chegou atualmente em torno de 15% e deve atingir mais de 35% em 2100.

Evidentemente, o fim do 1º bônus demográfico traz desafios para a economia. Mas o continente asiático pode contar com o 2º bônus demográfico (bônus da produtividade) e o 3º bônus demográfico (bônus da longevidade e da geração prateada).

percentagem da população da Ásia com mais de 59 anos de idade

 

O desafio ambiental é enorme. A Global Footprint Network apresenta uma metodologia que viabiliza o cálculo da capacidade de carga, contabilizando o impacto humano sobre o meio ambiente e a disponibilidade de “capital natural” do mundo.

O gráfico abaixo apresenta os valores da pegada ecológica global e da biocapacidade global de 1961 a 2019, com uma estimativa até 2022. A pegada ecológica serve para avaliar o impacto do ser humano sobre a biosfera. A biocapacidade, avalia o montante de terra, água e demais recursos biologicamente produtivos para prover bens e serviços do ecossistema, sendo equivalente à capacidade regenerativa da natureza. Ambas as medidas são representadas em hectares globais (gha).

Em 1961, a população asiática era de 1,7 bilhão de habitantes e tinha uma biocapacidade de 1,6 bilhões de gha e uma pegada ecológica de 1,59 bilhão de gha. Portanto, havia um pequeno superávit ambiental na Ásia. Mas ainda na década de 1960 o superávit se transformou em déficit ambiental, que aumentou bastante nas décadas seguintes.

Em 2022, a pegada ecológica da Ásia passou para 10,2 bilhões de gha (quase metade da pegada ecológica global) e a biocapacidade ficou em 2,96 bilhões de gha. Isto significa que o déficit ambiental era de 7,2 bilhões de gha ou um déficit relativo de 245%.

pegada ecológica e biocapacidade total da Ásia

 

Indubitavelmente, a Ásia já ultrapassou a capacidade de carga, afetando os limites da resiliência do planeta. Como mostrei no artigo “China busca a sustentabilidade com menos habitantes e mais energia renovável” (Alves, 15/07/2024) a China superou a pobreza com muito investimento e com redução do ritmo de crescimento populacional. Agora busca superar a “armadilha da renda média” e os desafios ambientais por meio de três fatores: decrescimento populacional, transição demográfica e transição energética.

A China era o país mais populoso da Ásia e do mundo, sendo um país pobre e rural até a década de 1970. Mas nos últimos 40 anos conseguiu fazer uma revolução demográfica e econômica, como o Japão e os Tigres Asiáticos já tinham feito. Agora estes exemplos estão se espalhando pelo continente, como na Indonésia, na Tailândia e especialmente no Vietnã. A Índia, mesmo sendo um país de renda média baixa, também busca trilhar este caminho.

O fato é que a Ásia já apresenta uma redução do ritmo de crescimento demográfico e está no caminhando para ter menos habitantes.

Avançando na transição demográfica e na transição energética, o continente pode conquistar maior qualidade de vida humana e ambiental.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

ALVES, JED. A ONU divulga os novos números da população mundial e brasileira, Ecodebate, 12/07/2024 https://www.ecodebate.com.br/2024/07/12/a-onu-divulga-os-novos-numeros-da-populacao-mundial-e-brasileira/

ALVES, JED. China busca a sustentabilidade com menos habitantes e mais energia renovável, Ecodebate, 15/07/2024 https://www.ecodebate.com.br/2024/07/15/china-busca-a-sustentabilidade-com-menos-habitantes-e-mais-energia-renovavel/

ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI (com a colaboração de GALIZA, F), ENS, maio de 2022
https://prdapi.ens.edu.br/media/downloads/Livro_Demografia_e_Economia_digital_2.pdf

 

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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