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Influenciadoras conservadoras e o perigo da submissão feminina

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Imagem por Oberholster Venita, no Pixabay

Proliferam nas redes sociais perfis de mulheres que ensinam e estimulam outras mulheres a não trabalhar fora e ficar em casa, cuidando da família e do marido, causando dependência financeira e emocional desse homem

Por Chris Coelho

Depois de tantas lutas travadas pelas mulheres para conquistar seus diretos e liberdades, para se inserir e se equiparar aos homens no mercado de trabalho, está surgindo uma nova onda de influenciadoras digitais conservadoras, que incentivam as mulheres a deixarem suas profissões e trabalhos, ficando em casa para cuidar da organização e limpeza do lar, dos filhos e do marido.

Muitas mulheres seguem essas influencers e passam a viver esse padrão de relacionamento, que as coloca submissas economicamente ao marido. De acordo com a psicóloga Bárbara Couto, especialista em Relacionamentos, esse padrão vendido pode incentivar mulheres a permanecerem em relacionamentos abusivos e violentos. “Quem tem o dinheiro tem o poder em qualquer relação, seja ela tóxica ou saudável. E quando a mulher abre mão da sua profissão, do seu trabalho, de ter o próprio dinheiro, acaba ficando refém do que esse marido disponibiliza pra ela. Sabemos que muitas mulheres têm dificuldades de sair de casamentos violentos por não terem seu próprio dinheiro , nem para onde ir. Com isso, vão cada vez mais se submetendo a situações horríveis, de extrema violência”, alerta ela.

Esses perfis estimulam as mulheres a deixarem a casa organizada e limpa, filhos bem cuidados e receberem o marido arrumada, maquiada, com jantar pronto, além de não levarem problemas para ele. Bárbara explica que a expectativa social criada por essas influenciadoras de ser a esposa perfeita é muito cansativo e pode ser frustrante para a mulher. “As atividades domésticas são exaustivas, principalmente cuidar e educar os filhos. E ainda tem essa pressão estética de estar sempre arrumada, o que é muito danoso, porque as mulheres envelhecem e a beleza acaba. Toda essa busca por essa perfeição pode levar um esgotamento emocional, a uma sensação de inadequação. Além disso, a não divisão dos problemas com o marido passa a sensação de que o que ela sente não é importante”, explica Bárbara.

Abertas à vida, as conservadoras não usam método contraceptivo e acreditam que o tamanho da família é da vontade de Deus. As influenciadoras exibem, com orgulho a grande prole nas suas redes sociais e ensinam como educar as crianças. “Eu percebo que retornar a esse cenário, que já não existe desde que as mulheres passaram a ter acesso aos métodos contraceptivos, traz de volta crianças negligenciadas. Cada criança exige uma atenção, umas têm problemas de saúde, outras escolares, umas são mais apegadas, outras mais chorosas. E vão exigir dessa mãe cuidados diferentes. A mulher, com muitos filhos, mesmo estando em casa, não consegue dar a todos o que eles precisam. Revive-se o que era comum no passado: crianças perdendo a própria infância, porque tinham que cuidar dos irmãos mais novos. Além, claro, da própria mulher deixar de ter tempo para se cuidar, fazer algo que goste. E isso a torna mais frustrada ainda”, esclarece a psicóloga.

Venda de cursos que ensinam a ser donas de casa

Além de estarem nas redes sociais, muito desses perfis vendem cursos para as mulheres se tornarem as esposas perfeitas. O que é totalmente contraditório, já que elas trabalham nesses cursos e ganham dinheiro vendendo um estilo de vida, que na realidade, elas próprias não têm. “É muito perigoso se permitir que a outra pessoa tenha tamanho poder sobre nossas vidas. Muitas pessoas, talvez perdidas, compram as ideias e os cursos de algo que parece milagrosos para se ter felicidade. Mas, não são todas as mulheres que têm a mesma aptidão, que se enquadram no estilo de vida vendido, como uma receita de bolo a ser seguida. A vida não é simples, a vida é complexa e o que faz sentido para um não faz para outro. As pessoas têm que ter mais senso crítico e entender que muitos que estão na internet mostram uma realidade que não existe, mas que dá engajamento”, disse a psicóloga.

Segundo Bárbara, para não ser influenciada pelas ideias de padronização perfeita vendida pela internet, a solução é o autoconhecimento, sabendo o que faz sentido para a si, para a própria vida. “Modelos de vida a serem seguidos não fazem sentido, principalmente aquelas que impõem algum tipo de restrição, e que não consideram a individualidade e a realidade de cada um. Não estou dizendo que todas as mulheres dependentes financeiramente são infelizes, mas é um cenário que pode sim gerar muita infelicidade e se tornar perigoso em relações abusivas e violentas. A mulher deve ter autoestima, liberdade e autonomia, para a gente fazer escolhas conscientes e não ficar repetindo estereótipos de internet”, finaliza Bárbara.

Sobre a psicóloga Bárbara Couto – Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário de Brasília (UNICEUB) e tem Mestrado em Psicologia Clínica e Saúde pela – Universidad Europea del Atlantico (UNIAtlântico), da Espanha.

 

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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