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Artigo

Direções para uma Itabuna inteligente e sustentável

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Artigo de Elissandro Santana

Analista em infraestrutura e urbanismo. Geógrafo, Gestor ambiental, Licenciado em Ciências biológicas, Licenciado em Química, Licenciado em Geografia, dentre outras formações de graduação e pós-graduação. Revisor e editor de meio ambiente na Revista Latinoamerica.

Itabuna

Imagem: Google Earth

Para que um município atinja o grau de inteligência e de sustentabilidade, precisa investir em tecnologia e se desenvolver ambiental, econômica e socialmente. Sem estes elementos, a sustentabilidade não se concretiza e, muito menos, um espaço urbano inteligente e inovador se consolida.

Cidades inteligentes e sustentáveis utilizam tecnologia e investem em políticas de conservação, preservação e recuperação de áreas degradadas, objetivando espaços saudáveis sócio-econômico-ambientalmente.

No que concerne à sustentabilidade, em especial, a ambiental, esta é alcançada a partir do momento em que a gestão pública local, empresas, indústrias e sociedade diminuem a pegada ecológica, fator que viabiliza a redução dos impactos das ações no meio ambiente.

A sustentabilidade ambiental de um município perpassa questões centrais como: diminuição do consumo em relação ao capital natural, destinação apropriada dos resíduos (sólidos, líquidos e gasosos), eficiência na produção energética com matriz sustentável e mobilidade urbana alinhada às questões de ordenamento territorial, revitalização de espaços urbanos, preservação do meio ambiente, construção de bairros de forma planejada, com ordenamento e estruturação sócio espacial, tráfego com planejamento e melhorias contínuas, despoluição e recuperação de áreas degradadas, além de outras questões. E como a sustentabilidade é processo, dado que deve acompanhar as mudanças na relação homem-meio, deve ser encarada sempre como um fluxo em permanente mudança.

Outro ponto que não pode ser esquecido é a consciência de que sustentabilidade e tecnologia dialogam. A tecnologia pode e deve ser usada para que as cidades consigam pensar em seus problemas e como resolvê-los. Desta forma, pode-se dizer que a tecnologia é fundamental para a sustentabilidade.

No quesito resíduos, diante do uso da tecnologia, pode-se rever uma série de rotas e de ações de forma mais eficiente, otimizando processos como reciclagem, reutilização, reaproveitamento, destinação correta e, também, a ampliação e maior eficiência de aterros e outros pontos de acondicionamento de resíduos e rejeitos.

Em se tratando de resíduos, na sociedade do consumo como sinônimo de desenvolvimento, permeada pela lógica da economia clássica, urge rever técnicas de tratamento-acondicionamento, investir em educação financeira e ambiental. Esta é uma discussão que todo município deve fazer, aliás, todo o país, dado que é um problema nacional.

Uma gestão sustentável de resíduos requer conhecimento acerca das especificidades do resíduo gerado pelas esferas públicas, privadas e sociedade em geral, pensando-se, sempre, em logística reversa. Enfim, a tecnologia associada à sustentabilidade é um recurso essencial para o desenvolvimento econômico, social e ambiental e, consequentemente, das cidades.

A seguir, serão feitas discussões pontuais em relação ao caso de Itabuna, mas que também servirão para analisar a realidade de outros municípios brasileiros.

A situação socioambiental de Itabuna na atualidade: um entrave que impede a sustentabilidade e a inteligência urbana

É crucial destacar que as direções a serem tomadas para que Itabuna, importante cidade do Sul da Bahia, seja inteligente e sustentável, passam, obrigatoriamente, pela esfera pública, privada, meios de comunicação e por toda a sociedade.

Feitas as discussões conceituais e exemplificativas acerca de quais fatores são cruciais para se classificar uma cidade como sustentável e inteligente, ao apresentar parte do quadro sócio-econômico-ambiental de Itabuna poder-se-á compreender em que estado se encontra o município.

Abaixo, na perspectiva da percepção ambiental, serão apresentados dados que demonstram o estado em que Itabuna se encontra e quais ações poderiam ser tomadas para uma cidade mais sustentável e inteligente.

De modo geral, a partir de dados do IBGE1, em questões como esgotamento sanitário, arborização em vias públicas e urbanização adequada, Itabuna apresenta a seguinte realidade: 81,2% de domicílios com esgotamento sanitário adequado, 49,8% de domicílios urbanos em vias públicas com arborização e 19,2% de domicílios urbanos em vias públicas com urbanização adequada (presença de bueiro, calçada, pavimentação e meio-fio). Quando comparado com os outros municípios do estado, fica na posição 9 de 417, 315 de 417 e 79 de 417, respectivamente. Já quando comparado a outras cidades do Brasil, sua posição é 905 de 5570, 4136 de 5570 e 1921 de 5570, respectivamente.

É importante destacar que os dados do IBGE, apresentados anteriormente, são dos anos presentes no fragmento em seguida, ou seja, precisamos de informações mais recentes, no entanto, provavelmente, a realidade atual não esteja muito distante dos anos do quadro abaixo.

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São vários os pontos para debate em torno do que é necessário para que uma cidade seja considerada sustentável e inteligente, por isso, aqui, serão priorizados apenas alguns deles, mas que são centrais em todo o processo de sustentabilidade e de inteligência urbana.

Concernente à mobilidade urbana, em Itabuna, dependendo do horário e do ponto da cidade, há sobrecarga de transportes nas vias de trânsito. Nesse sentido, para uma mobilidade sustentável, deve-se investir na diversificação, disponibilidade e melhoria dos meios de transporte, especialmente, com o fortalecimento do transporte público-coletivo, e construção ou ampliação de ciclovias ou ciclo-faixas.

Quanto mais fortalecido o transporte público de qualidade, haverá mais adesão da população e possibilidade de diminuição da circulação dos transportes privados, fator que contribuirá para a redução de poluentes e questões relacionadas a acidentes, violência no trânsito e outros problemas. Ainda concernente à mobilidade urbana, em Itabuna, são necessários, de forma permanente, estudos de tráfego e investimentos substanciais para o desenvolvimento de malhas com planejamento tendo em vista que a mancha urbana avança e o fluxo de transportes tende a aumentar também.

Diante do planejamento para a mobilidade de forma sustentável, haverá mais qualidade na vida de pedestres e de motoristas, ou seja, de transeuntes em geral, com a diminuição dos impactos relativos aos transportes. Tudo isso somente será viável a partir de medidas racionais ancoradas na inclusão de modais diversos.

Na atualidade, Itabuna está, dependendo da rua, do bairro, nos horários de pico, com congestionamentos e outras questões que podem desencadear problemas como violência e acidentes no trânsito. Como a cidade só possui o modal rodoviário, precisa impulsionar novas formas de locomoção.

Ainda em relação à sustentabilidade urbana, se o modal de transporte não fosse apenas o rodoviário, poderiam ser realizadas integrações entre diferentes tipos de transporte e, desta forma, teríamos espaços de circulação mais justos, equilibrados e eficazes/eficientes.

No que se refere às construções, estas precisam ser mais sustentáveis. O mesmo se aplica às ruas, avenidas e outras vias, pois são poucas ou ineficientes as vias de acessibilidade com inclusão. A solução para este problema passa pela padronização e nivelamento de calçadas, com mais sinalizadores e recursos tecnológicos auditivos, táticos e visuais para que pessoas com deficiências diversas possam se locomover de forma plena e integral.

Sobre as construções, uma excelente solução é pensar questões como construções certificadas. Além desta problemática, em Itabuna, já é visível, em alguns espaços urbanos, a gentrificação, um processo, na base, de exclusão. Outro processo em consolidação na cidade é a verticalização e este deve ser feito de forma sustentável para que, no futuro, não tenhamos o aquecimento típico em decorrência desses construtos urbanos.

A verticalização pode ser feita sim, mas deve ocorrer com sustentabilidade. O crescimento vertical pode ser positivo, com o planejamento necessário, estudos de solo e impacto ambiental para que a climatologia dos perímetros verticalizados não se torne insustentável e prejudicial à vida. O crescimento horizontal, ao contrário do que alguns pensam, pode ser negativo, pois amplia a mancha urbana e provoca desequilíbrios, pois quanto mais uma cidade cresce horizontalmente, maior pode ser a pressão sobre o meio ambiente; não que esta pressão por recursos também não se dê com o crescimento vertical.

Ainda no tangente às construções e edificações, em Itabuna, há uma carência de habitações sociais que levem em consideração os seguintes fatores: inclusão social, justiça socioambiental e, consequentemente, qualidade de vida. Verifica-se, em algumas partes da cidade, mecanismos de racismo ambiental, adensamento populacional, desigualdade social e ocupações ilegais em áreas periféricas.

Ainda referente aos resíduos, a cidade necessita desenvolver e potencializar as políticas de educação ambiental, assim como padronizar e ampliar horários e pontos para descarte na cidade em consonância com os horários de coleta, para que os resíduos não se acumulem pelos espaços causando transtornos, inclusive sanitários.

No que se refere à relação da gestão pública e da sociedade com o meio ambiente, especificamente, no que diz respeito ao Rio Cachoeira e cursos que deságuam nele, um novo modus operandi é importante. Ações de recuperação, retirada de resíduos, reflorestamento de matas ciliares e outras medidas são necessárias, mas estas demandam parcerias, para soluções em rede, envolvendo instâncias públicas, privadas e sociedade em todos os municípios pelos quais o rio passa, dado que a solução atinge dimensões de bacia hidrográfica.

Essas ações serão fundamentais para o combate a inundações, alagamentos e enchentes, a longo prazo, para que não fiquemos apenas em medidas mitigadoras temporárias diante dos fenômenos naturais, mudanças climáticas e outras intempéries.

Itabuna também precisa investir em mais espaços públicos para lazer e convergência social, para que, desta forma, a cidade se transforme em um palco de encontros da pluralidade e diversidade. Estas questões também fazem parte do processo de consolidação de uma cidade sustentável-inteligente.

Algumas considerações finais

A situação de Itabuna se assemelha à realidade de muitas cidades no país, por isso, as soluções dependem não somente de medidas locais. Independente disso, tais medidas são imprescindíveis.

Uma Itabuna inteligente e sustentável exige correlações de forças complexas e multidisciplinares, com a necessidade de correlacionar planejamento urbano, governança, economia, povo, arquitetura, justiça ambiental e social com inclusão, recuperação e revitalização de espaços, conservação e preservação de ecossistemas e, principalmente, uso da tecnologia com vistas a estruturar e monitorar diversos aspectos no município, visando sempre a qualidade ambiental e condições de vida para todos, humanos, flora e fauna, ou seja, a teia da vida.

Somente a partir de tais medidas, viabilizar-se-á uma gestão eficiente de resíduos, diminuição dos congestionamentos, ampliação de áreas verdes e de saneamento e melhorias de infraestrutura por todo o município. Itabuna, para ser sustentável e inteligente, deve resolver tais problemas com base em modelos de desenvolvimento que repensem a produção e formas de descarte de resíduos, ou seja, a entrada de insumos e seus produtos, mas não para nisso.

A cidade deve almejar a sustentabilidade em diversos segmentos e setores de atividade e produção.

Uma Itabuna sustentável e inteligente buscará, continuamente, se desenvolver energeticamente, gerenciar os resíduos produzidos, otimizar a mobilidade urbana, desenvolver planos de conservação e preservação, construir mais parques e áreas verdes (inundáveis intencionalmente e racionalmente) para que sirvam de esponja em épocas de grandes volumes pluviométricos e, principalmente, a cidade precisa revitalizar suas áreas urbanas em todos os perímetros possíveis do município, sem concentrar planos de infraestrutura apenas nas regiões centrais, mas, também, na periferia.

Outros quesitos que contribuem para uma Itabuna mais sustentável e inteligente seriam a recuperação de áreas verdes em diversos pontos urbanos e no município como um todo, com formação de corredores ecológicos, despoluição de cursos que deságuam no Rio Cachoeira, políticas de monitoramento e retirada de resíduos dos referidos cursos hídricos e consolidação de uma cultura de combate ao abandono de cães, gatos e outros animais, com o fortalecimento de espaços de cuidados que adotem animais em situação de rua.

Por último, é importante reiterar que o município precisa investir, continuamente, em políticas de educação ambiental, para que a sociedade alcance a dimensão de consciência política com vistas à retroalimentação de ações sustentáveis. Enfim, estas são apenas algumas das medidas necessárias para a sustentabilidade e inteligência urbana em Itabuna.

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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