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A Somália tem o pior IDH no ranking de 193 países em 2022

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Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP na sigla em inglês) divulgou recentemente o ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2022.

O IDH é um indicador sintético usado para estimar o grau de desenvolvimento humano de uma determinada sociedade com base na avaliação de três áreas fundamentais: saúde, educação e renda.

O IDH é um indicador numérico que varia entre 0 e 1. Quanto mais próximo de zero, menor é o nível de bem-estar e quanto mais próximo de 1, maior é o nível de bem-estar e progresso nacional. O ranking global de 2022 apresenta o nível do IDH por ordem decrescente de 193 países. No topo da lista aparece a Suíça com IDH de 0,967 e, no último lugar do ranking, aparece a Somália com IDH de 0,380.

A Somália é o país mais oriental da África, com uma área de 638 mil km² e está na região chamada Chifre da África. A Somália é um dos países mais pobres do mundo, com uma renda per capita de pouco de US$ 1 mil, enquanto a renda média global é de cerca de US$ 15 mil (em poder de paridade de compra).

A Somália não só possui uma renda baixa, como uma renda estagnada. O país está no chamado “regime malthusiano”, quando o progresso tecnológico é lento e é acompanhado por aumentos proporcionais da população, de modo que o produto per capita se mantém estável em torno de um nível constante, segundo Galor e Weil (1998).

O gráfico abaixo, da Divisão de População da ONU, mostra o crescimento da população da Somália entre 1950 e 2021 e diversas projeções até 2100. A população da Somália era de somente 2,2 milhões de habitantes em 1950, passou para 8,7 milhões no ano 2000, chegou a 18,1 milhões em 2023 e segundo a projeção média da ONU deve alcançar 36,5 milhões em 2050 e 66,4 milhões de habitantes em 2100.

população da Somália

 

A população da Somália está projetada para crescer cerca de 30 vezes entre 1950 e 2100, isto porque tinha uma taxa de fecundidade muito alta e deve ter uma transição lenta no século XXI. A taxa de fecundidade total (TFT) ficou acima de 7 filhos por mulher na segunda metade do século XX, já começou a cair nos anos 2000 e só deve alcançar o nível de reposição (2,1 filhos por mulher) no final do século XXI, conforme mostra o gráfico abaixo.

taxa de fecundidade da Somália

 

Altas taxas de fecundidade e alto ritmo de crescimento demográfico implicam em uma estrutura etária muito rejuvenescida, com alta proporção de jovens na população e elevada razão de dependência demográfica.

O gráfico abaixo mostra a pirâmide populacional da Somália para o ano de 2024, que apresenta uma base larga e um topo muito estreito.

Ainda segundo Galor e Weil (1998), o desenvolvimento humano ocorre quando o país abandona o “regime malthusiano” e adota o “regime de crescimento moderno”, caracterizado por um crescimento populacional moderado e um rendimento per capita que aumenta rapidamente. Nesta situação, o progresso tecnológico avança com o aumento da proporção da população em idade ativa (1º bônus demográfico) e o aumento do nível médio de educação.

O progresso tecnológico cria um estado de desequilíbrio que aumenta o retorno do capital humano (2º bônus demográfico) e induz os casais a substituírem os investimentos na quantidade de filhos pelo investimento na qualidade de vida das crianças e o empoderamento das mulheres e das novas gerações.

Portanto, o atraso da transição demográfica na Somália dificulta a luta para a redução da pobreza e para o aumento do bem-estar social.

Como mostrei no artigo “Os países com menor fecundidade possuem maior IDH” (Alves, 11/03/2022), a transição da fecundidade é uma condição necessária para o avanço do IDH. Não existe nenhum país rico do mundo com TFT elevada.

pirâmide populacional da Somália

 

Para agravar a situação, a Somália saiu de uma situação de superávit ambiental até a primeira década do atual século, para uma situação de déficit ambiental na última década. Ou seja, a Somália é um país pobre, mas, mesmo assim, possui uma Pegada Ecológica acima da Biocapacidade, como mostra o gráfico abaixo da Global Footprint Network.

pegada ecológica e biocapacidade da Somália

 

Os indicadores demográficos são essenciais para a melhoria do IDH dos países, mas apesar de ser uma condição necessária não é uma condição suficiente. São essenciais também medidas para avançar nos indicadores educacionais e de saúde e a economia precisa manter taxas de investimento acima de 25% do PIB.

Mas o fato é que a Somália está presa na “armadilha da pobreza” e precisa de ajuda internacional para avançar na transição demográfica, para criar uma infraestrutura econômica no país e para avançar na qualidade de vida social e ambiental.

Referências:

Galor, Oded and Weil, David Nathan, Population, Technology, and Growth: From the Malthusian Regime to the Demographic Transition (November 1998). Available at SSRN: https://ssrn.com/abstract=141272 or http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.141272

ALVES, JED. As lições que o Brasil pode aprender com a Tailândia, Ecodebate, 29/05/2023
https://www.ecodebate.com.br/2023/05/29/as-licoes-que-o-brasil-pode-aprender-com-a-tailandia/

ALVES, JED. Os países com menor fecundidade possuem maior IDH, Ecodebate, 11/03/2022
https://www.ecodebate.com.br/2022/11/03/os-paises-com-menor-fecundidade-possuem-maior-idh/

The 2023/24 Human Development Report. Breaking the gridlock: Reimagining cooperation in a polarized world, UNDP, MARCH 14, 2024
https://www.undp.org/sites/g/files/zskgke326/files/2024-03/hdr2023-24reporten_2.pdf

 

José Eustáquio Diniz Alves

Doutor em demografia, link do CV Lattes:

http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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