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Querência Amada

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artigo de opinião

Artigo de Montserrat Martins

Das músicas que evocam o sentimento gaúcho, estou preferindo ouvir “Querência Amada”, do Teixeirinha, ao Hino Riograndense. Antes de explicar o motivo, é preciso compreender que elas retratam momentos diferentes da história.

O Hino que diz “sirvam nossas façanhas de modelo a toda Terra” está no clima da Revolução Farroupilha, sua letra foi definida no centenário dela e retrata um estado rebelde. Já a música do Teixeirinha foi lançada em 1975 e diz na letra que o RS é “Terra de Getúlio Vargas/ Presidente brasileiro” e está “disposto a tudo pelo Brasil”, ou seja, integrado com o país, já foi cantada por Michel Teló, Thiaguinho, Gusttavo Lima, KLB, Leonardo, Maiara e Maraisa.

No momento em que estou escrevendo, há 144 municípios gaúchos que ainda não informaram ao Governo Federal a relação de pessoas cadastradas aptas a receber o Auxílio Reconstrução de 5.100 reais para cada família, pelas enchentes que devastaram residências em centenas de municípios.

O prazo teve de ser prorrogado até 12 de julho, mas quem perde com a demora são as pessoas que deveriam estar recebendo essa ajuda. Até mesmo a capital, Porto Alegre, está devendo a lista, enquanto o prefeito se queixa.

O governador também se queixa, mesmo tendo sido atendido no pleito de 3 anos sem pagar a dívida com a União, e dos bilhões em linhas de crédito para empresas e agricultores, além dos para a reconstrução de estradas.

Nunca houve uma catástrofe tão grande, mas também nunca nenhum estado do Brasil teve tanto apoio do Governo Federal e de toda a sociedade brasileira como o RS está tendo agora.

Nosso primeiro sentimento devia ser o de gratidão, ao invés de queixa ou orgulho. E, vamos ser sinceros, devíamos primeiro fazer o “dever de casa”, o mínimo que todas as prefeituras deviam fazer é informar corretamente todos os atingidos, com urgência.

Agora que está evidente a crise climática, fica claro que o RS também não fez a “lição de casa” nos cuidados ambientais: somos o estado mais desmatado do país, para isso não precisa nem ver estatísticas, veja o RS visto por satélite no Google Earth, é uma imensa área marrom em meio a outras regiões mais verdes. Antigamente isso era considerado “progresso”, mas já havia alertas de José Lutzemberger e outros ambientalistas.

Tínhamos um excelente Código Ambiental, que foi descaracterizado na gestão anterior desse mesmo governo, criando por exemplo o “auto licenciamento ambiental”, ou seja, abolindo qualquer fiscalização, além de liberar o uso de agrotóxicos proibidos nos países de origem.

Não temos do que nos orgulhar, nesses assuntos, nesse momento.

Montserrat Martins é Psiquiatra.

 

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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